Oito médicos do DF são investigados por negligência e morte de bebês
Pelo menos 11 denúncias foram levadas à PCDF, que abriu inquérito para apurar os casos supostamente ocorridos no Hospital de Samambaia
atualizado
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Pelo menos 11 casos de negligência médica e violência obstétrica no Hospital Regional de Samambaia (HRSam) são investigados pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Ao todo, oito médicos foram citados em queixas que variam de ofensas a diagnósticos errados. Tais procedimentos teriam, inclusive, acarretado a morte de recém-nascidos.
Segundo o delegado Guilherme Sousa Melo, da 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte), o grande número de ocorrências registradas chamou atenção. “São queixas variadas: as mais graves que identifiquei são na área obstétrica.”
Um dos casos relatados dá conta de que a curetagem em uma paciente foi malfeita e pedaços de gaze foram deixados dentro da mulher. Em outro, um feto teria sido dado como morto, mas nasceu com vida horas depois. “A médica disse que a criança nasceria morta, mas, nove horas depois, o bebê saiu vivo. A demora no atendimento foi tão grande que o recém-nascido acabou perdendo a vida uma hora e meia depois do parto”, relata o delegado.
O passo seguinte das investigações, destaca Guilherme, é confrontar os laudos do Instituto Médico Legal (IML) com os relatórios preenchidos pelos profissionais que trabalham na unidade de saúde. “Será feita a apuração e, caso vejamos a culpa, todos eles serão responsabilizados”, diz.
O que diz a Secretaria de Saúde
Por meio de nota, a direção do HRSam informou que “todas as providências estão sendo tomadas pela direção e pela Superintendência da Região de Saúde Sudoeste”. Ainda de acordo com o texto, “um processo sigiloso foi aberto no âmbito da Secretaria de Saúde”.
A pasta não informou se os médicos investigados continuam exercendo suas funções.
Família questiona procedimentos
Em setembro de 2018, o Metrópoles mostrou o drama de uma jovem de 19 anos que acusou a equipe médica do Hospital Regional de Samambaia de omissão, negligência e violência obstétrica. O marido da mulher denunciou a unidade hospitalar à Polícia Civil após a morte do bebê deles durante o parto. Segundo o pai da criança, a companheira esteve em trabalho de parto por mais de um dia antes da tragédia.
A jovem, identificada como Lorrane, havia começado a sentir contrações cerca de um mês antes. À época, ela recorreu ao hospital público, para atendimento médico. Porém, as aflições continuaram. Mesmo com contrações e dores nas costas, ela não foi internada. Conforme a denúncia, a equipe médica não quis interná-la, sob o argumento de que somente poderia realizar esse procedimento a partir da 41ª semana de gestação.
Sem conseguir respaldo do HRSam, Lorrane recorreu a hospital em Santo Antônio do Descoberto (GO), Entorno do DF. No mesmo dia, a unidade a encaminhou de volta para Samambaia com indicação de cesariana. No dia 18 de setembro de 2018, por volta das 17h30 – mais de 24 horas após a internação –, a equipe médica submeteu a jovem a parto normal. O bebê morreu logo em seguida. De acordo com a família, a tragédia ocorreu em razão de procedimentos inapropriados.
À época, em nota, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal “lamentou profundamente o ocorrido” e informou que a paciente entrou em trabalho de parto. “Porém, o bebê entrou em sofrimento durante o período expulsivo”. Na sequência, conforme comunicado da pasta, a equipe médica iniciou a reanimação neonatal imediata. “No entanto, infelizmente, não houve resposta positiva do bebê”, diz trecho do texto.