Metrópoles convidou sete artistas para pintar os buracos que o GDF não dá conta de tampar
Decidimos usar a arte para sensibilizar o governo. Todos os anos, o brasiliense sofre com as ruas esburacadas que não resistem às primeiras chuvas. Nos ajude a identificar onde estão essas crateras. Publique sua foto com a hashtag #bsburaco
atualizado
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Quem nunca xingou com vontade depois de cair em um buraco ou ter de fazer uma manobra radical para desviar das crateras abertas nas pistas do Distrito Federal? Praguejar contra os governantes responsáveis por manter a cidade em ordem alivia a tensão, mas não resolve o problema recorrente. Depois de cada temporada de chuvas, as feridas no asfalto expõem uma doença crônica da gestão pública. Os governantes não dão conta de apresentar uma solução definitiva para a precariedade do asfalto. Estamos na capital da República, numa cidade planejada para ser cartão postal, dar exemplo de eficiência, gastar bem o dinheiro dos impostos, manter a casa em ordem.
Mas todas as vezes que caímos no buraco, lembramos de como são precárias as nossas condições. Por que os governantes não conseguem fazer um asfalto que resista às chuvas? Por que gastam tanto dinheiro com medidas paliativas? Seis milhões de reais vão para o buraco todos os meses em operações de recapeamento. Daria para construir, pelo menos, duas escolas por mês com essa verba. Imagine o quanto de gazes, esparadrapos, reagentes, máscaras, remédios seria possível comprar com essa quantia para reforçar a farmácia pública que anda tão desfalcada.
Dá para acreditar que em 2013 o governo batizou um projeto de R$ 437 milhões de Programa Asfalto Novo? Como conceber que, em menos de três anos, essas pistas estejam esfarrapadas? O material era massa de modelar? As obras foram superfaturadas?
Essas são algumas das perguntas que a partir de hoje (3/2), o Metrópoles vai atrás das respostas para lhe informar. Mas decidimos expandir a nossa denúncia para além das palavras. Buscamos, por meio da arte, tentar sensibilizar o governo para essa epidemia asfáltica que se tornou a proliferação dos buracos na capital da República.
O Metrópoles convidou artistas de rua para o projeto #bsburaco. A proposta é transformar em arte a raiva, a frustração, o sentimento de impotência e a indignação que sentimos todas as vezes que caímos no buraco. A ideia foi inspirada em iniciativas de intervenção urbana como meio de protesto. Em 2013, por exemplo, o projeto #buraqueira da revista Veja São Paulo apontou 50 crateras na capital paulista. No DF, participam do projeto os artistas de rua Ju Borgê, Toys, Omik, Yong, Siren, Gurulino e Rato.
“Todo mundo tem ódio quando cai em um buraco, até porque sente seu dinheiro afundando”, diz Daniel Toys, que deu cara a uma cratera ao lado do Eixo Monumental, próxima à Catedral, cartão-postal de Brasília.
A artista Ju Borgê mora próximo às vias esburacadas que ela coloriu na madrugada de terça (2/2). Ju abriu mão de sua noite de sono para dar a sua contribuição ao projeto. Seu traço é reconhecido por ser fofo, aliás, muito fofo. Mas sobre os problemas no asfalto, ela fez questão de marcar: “Esse buraco não é fofo”. Quem estiver a caminho do Núcleo Bandeirante e passar pela Candangolândia vai ver o grafite dessa brasiliense impresso no asfalto.
A arte é uma maneira de despertar a curiosidade das pessoas para esse problema tão repetitivo. Elas podem ver o buraco e se perguntar: por que isto está assim?
Ju Borgê
Mikael Omik usa um ateliê na 305 Norte onde planeja a arte que pinta nos muros. Desta vez, ele horizontalizou suas grafitadas e pintou o chão da L2 Norte, na altura da 413 Norte, próximo ao Parque Olhos D’água. E fez nascer uma de suas meninas ruivas, tema recorrente em seu trabalho. O detalhe é que na mais recente obra de Omik, as vísceras da boneca ruiva estão expostas, justamente onde está a cratera.
Daqui em diante, os artistas parceiros do Metrópoles vão colorir os buracos que encontrarem pela frente. Todos os dias novos desenhos coloridos vão brotar no chão da capital até o dia em que o governo passe um piche definitivo nesse problema. Esperamos que essa arte fique eternizada apenas em nossos registros fotográficos.
Colaborou João Gabriel Amador