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O relato assustador de um brasiliense torcedor do Botafogo no Uruguai

Torcedores do Botafogo relatam clima hostil na véspera da partida da Libertadores com Peñarol, com momentos de ameaças e incerteza

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VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto
Duelo entre Botafogo e Grêmio pela 28ª rodada do Brasileirão 2024 Metropoles Sports 2
1 de 1 Duelo entre Botafogo e Grêmio pela 28ª rodada do Brasileirão 2024 Metropoles Sports 2 - Foto: VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto

Os torcedores do Botafogo enfrentam um clima hostil em Montevidéu (URU), às vésperas da semifinal da Libertadores entre o Glorioso e o Peñarol. Segundo um brasiliense, de 43 anos, cuja identidade será mantida em sigilo por segurança, a situação chegou ao ponto dos brasileiros deixarem de falar português para evitar conflitos. Ele foi perseguido e ameaçado ao andar na rua. Em outro caso, dentro de um táxi com botafoguenses, o veículo foi apedrejado e teve os vidros quebrados.

“Eu caminhava com um colega, quando um torcedor do Peñarol nos viu e começou a nos encarar. Ele estava de bicicleta e ficou nos encarando. Despois, passou a nos perseguir. Nós decidimos deixar a rua e ir embora. A gente não sabia se ele estava com mais pessoas, se iria chamar mais torcedores para nos bater”, contou. O episódio foi comunicado ao Consulado do Brasil no Uruguai.

Veja:

Na noite de segunda-feira (28/10), um táxi que transportava quatro torcedores do Botafogo do aeroporto para o hotel foi fechado por dois outros automóveis. Os criminosos quebraram os vidros do carro, mas o taxista conseguiu acelerar e fugir do local. O brasiliense ressaltou que apesar dos episódios, 99,9% da população do Uruguai é amável e trata bem os brasileiros. “Não é todo mundo que se envolve nesse tipo de confusão. É uma minoria, que não entende o torcer uma forma sadia. Essa minoria não consegue respeitar diferenças de opinião”, pontuou.

O clima hostil é um desdobramento do vandalismo protagonizado por uruguaios no Rio de Janeiro (RJ), antes da partida contra o Botafogo, em 23 de outubro. Na ocasião, torcedores do time Uruguaio quebraram quioesque na praia e incendiaram motos de trabalhadores. Até esta quarta, 22 permanciam presos. No Uruguai, parte da impresa criou a falsa narrativa de que os detidos estavam atrás das grades de forma injusta.

Alegando a possibilidade de uma retaliação, a direção do Peñarol e autoridades do Uruguai barraram a torcida do Botafogo no estádio do time, o Campeón del Siglo, alegando não serem capazes de garantir segurança dos alvinegros no jogo da volta. Mas, após negociações com a Conmebol, a partida foi transferida para estádio Centenário. A indefinição atrapalhou o planejamento da torcida do Botafogo. E, mesmo assim, há receio sobre a segurança na partida.

“Pela parte dos dirigentes do Peñarol, começou-se a criar um clima de revanchismo. A gente saiu do Brasil muito tranquilo. Quando chegamos ao Uruguai, recebemos a notícia que estávamos proibidos de entrar no estádio, porque não iria ter torcida visitante. E, dentro do avião, houve uma discussão entre um torcedor brasileiro e um uruguaio, que chamou a polícia na fila de imigração. A impressão era que a gente não era bem-vindo”, contou.

Os torcedores começaram a receber recomendações para que não andassem com a camisa do Botafogo nas ruas, para que não fizessem aglomerações e não cantassem músicas. “Chegou ao ponto absurdo em que recomendaram para gente não falar português”, ressaltou. Com medo de alguma retaliação, parte dos botafoguenses desistiu de fazer passeios turísticos e alguns escolheram não ver a partida.

Perseguição

Brasileiros deixaram de visitar o Mercado Del Puerto, um ponto turístico do Uruguai, após dois torcedores terem sido hostilizados por uruguaios. Segundo relatos, o supostos torcedores do Peñarol começaram a persegui-los com garrafas. Os botafoguenses fugiram para um táxi. O veículo chegou a ser atingido pelos agressores. Os torcedores planejavam ver a partida entre o River Plate e o Atlético Mineiro, mas muitos preferiram ficar nos hotéis.

O clima melhorou um pouco nesta quarta-feira. Mas, a poucas horas da partida, a torcida do Botafogo não tem garantias de segurança logística. O problema também foi comunicado para o consulado brasileiro. Não existe definição da logística de transporte, de escolta e segurança para os brasileiros, antes, durante e após a semifinal. “A gente está muito apreensivo, principalmente com a volta”, alertou.

Prejuízo

Segundo o torcedor, a Polícia do Uruguai prometeu o mesmo esquema de segurança nas partidas entre o Peñarol e o Nacional. “Mas com toda essa indefinição e clima de insegurança, teve torcedores, grupos de 100 pessoas, que compraram o traslado e que simplesmente a empresa contratada não vai mais prestar o serviço. Meu grupo conseguiu confirmar um ônibus para pelo menos ir. A volta ainda é incerta”, relatou.

Para o brasiliense, a situação é absurda. “Você tem de ir e vir com integridade e segurança. As pessoas deveriam conseguir ver o espetáculo, que seja respeitoso. Esperamos que no final, pelo menos, tudo dê certo e se consuma o esporte: é uma partida de futebol. O certo é a rivalidade sadia dentro de campo. Não esse clima de revanchismo”, destacou. Segundo o torcedor, o nível de desorganização dos responsáveis pela partida é assustador.

Botafogo

Apesar da hostilidade e da incerteza, o brasiliense pretende assistir a partida torcer pelo Botafogo no estádio. “Conheço gente desistiu. Alguns desistiram ainda no Brasil. Muita gente está aqui não vai ver o jogo. Tem gente vindo de última hora. Eu vou ver o jogo. Sou pai de família, com certeza penso na minha integridade, me cerco de todos os cuidados, ao ponto de não falar português na rua. Mas vim ver o jogo”, afiançou.

“Decidi que essa história que o Botafogo está fazendo parte, eu vou fazer parte também. Para mim, o futebol veio da convivência com meu pai. Isso me deixa muito emocionado. Não é só futebol. Eu já levei meus filhos para ver jogos nos estádios. Não é só futebol. É algo que se passa de pai para filho. É uma história que vou contar para meus netos. Acredito que no final das contas o ser humano ainda possa conviver nas diferenças”, completou.

 

 

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