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O Japonês da Federal não vai mais bater de porta em porta. Quer saber por quê? Ele contou ao Metrópoles

Alçado a símbolo da luta contra a corrupção no Brasil, o agente Newton Ishii ganhou status de popstar, mas também tem problemas com a fama

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GIULIANO GOMES/ESTADÃO CONTEÚDO
newton ishii Operação Lava-Jato
1 de 1 newton ishii Operação Lava-Jato - Foto: GIULIANO GOMES/ESTADÃO CONTEÚDO

Era tarde da noite, por volta das 23h, mas a provocação foi inevitável: “O senhor pode botar os óculos escuros?”. A fisionomia antes fechada se desfez e, com um sorriso tímido, Newton Hidenori Ishii, o “Japonês da Federal”, atendeu ao pedido do Metrópoles. Colocou os óculos para a foto, sua marca registrada, e bateu um papo com a reportagem. 

Alçado a símbolo da luta contra a corrupção no Brasil, o oriental ganhou status de popstar, mas também herdou o ônus que a fama costuma cobrar. A rotina de Ishii, antes discreta, foi chacoalhada pela associação de sua imagem à operação Lava-Jato — a ponto de ele não poder, pelo menos por um tempo, participar de ações para cumprir mandados de prisão na rua. Diante do assédio, uma despretensiosa ida à padaria se tornou uma aventura. Mas de onde surgiu e como vive o homem que teve o rosto replicado em milhares de máscaras no último carnaval?

O vínculo de Ishii com o Brasil começa lá em 1933, quando seus pais tiveram de fugir do tsunami que matou quase 3 mil pessoas na cidade de Fukushima, no Japão. Ishii viria ao mundo 22 anos depois, em 1955, já em solo brasileiro. O “japa”, como sempre foi chamado, nasceu e foi criado na pequena cidade de Carlópolis, no Paraná. O município de apenas 15 mil habitantes fica distante 353 quilômetros de Curitiba.

GERALDO BUBNIAK/AGB/ESTADÃO CONTEÚDONa função de agente federal, o japonês passou por unidades nas cidades de Curitiba, Guaíra, Foz do Iguaçu e Londrina, todas no Paraná, além de Itajaí (SC) e Rio de Janeiro. Ainda muito jovem, Ishii fez uma das apreensões pioneiras de cocaína do Brasil, no fim dos anos 1970. “Na primeira vez, foram apreendidos apenas cinco gramas do pó, pouca gente conhecia cocaína naquela época. Depois, quando pegamos 400 gramas em posse de um libanês, fizemos até churrasco pra comemorar”, lembra-se, em tom saudoso.

Ishii é viúvo. Sua mulher morreu há oito anos, vítima de complicações de uma depressão. A doença da esposa se agravou após o suicídio do único filho homem do casal, há dez anos. “Meu filho também sofria de depressão. Ele tirou a própria vida pouco depois de completar 27 anos”, revela. Hoje, o japonês da federal divide seu tempo entre as operações da PF e os cuidados com sua única filha, de 25 anos, que estuda direito em uma faculdade de Curitiba. Os dois moram juntos em um apartamento na região metropolitana da cidade.

Abraços e fotos
O agente mais famoso da PF acabou renascendo com o sucesso. Todos os dias, crianças e adolescentes são levadas pelos pais até a Superintendência da PF em Curitiba, onde o japonês chefia o Núcleo de Operações da unidade. “É uma sensação gostosa. Essas crianças só querem me abraçar e tirar uma foto. Muitos dizem que querem estudar para se tornar policial”, diz.

Por conta do assédio — nem a direção-geral da PF sabe ainda como tratar a situação de um policial que se tornou um fenômeno de popularidade —, o japonês passou a lidar com algumas restrições. Ele não consegue mais correr no parque onde costumava se exercitar sem ser abordado. “Também ficou complicado sair à noite para jantar ou até para comprar um pão na padaria. Apesar de ser gratificante receber o carinho da sociedade, tive de mudar algumas rotinas”, diverte-se.

Dentro da PF, a fama e o sucesso crescentes do japonês também provocaram efeitos colaterais. Por conta dos holofotes, Ishii não deve sair às ruas para cumprir mandados de prisão na próxima fase da Operação Lava Jato. Há um certo ciúmes pairando no ar. Perguntado sobre um eventual pedido de aposentadoria, Ishii reflete antes de responder. “Por enquanto, não”, anuncia. E alerta: “Espero voltar a tocar a campainha de quem deve prestar contas à Justiça”.

Processo na Justiça
No entanto, nem sempre o sucesso e a mídia positiva estiveram ao lado do japonês da Federal. Ishii foi preso em flagrante pela própria corporação, em 2003, mas foi reintegrado aos quadros após decisão judicial. A Operação Sucuri, da Polícia Federal, começou no fim de 2002 e revelou que 23 agentes, sete técnicos da Receita Federal e três Policiais Rodoviários Federais estavam envolvidos com facilitação de contrabando em Foz do Iguaçu, que fica na fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina. Após a prisão, Ishii se aposentou em outubro de 2003, mas, em abril de 2014, a aposentadoria foi revogada e ele retornou à atividade.

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