O desespero de uma mãe de Brasília para tentar tirar filhas do Líbano
A professora Bianca Moreira Carneiro, de 43 anos, é mãe de duas meninas gêmeas que foram levadas pelo ex-marido para o Líbano em 2022
atualizado
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Mesmo longe, a situação extremamente difícil do Líbano impacta diretamente a vida da professora Bianca Moreira Carneiro, de 43 anos. Ela é mãe de duas meninas gêmeas que foram levadas pelo ex-marido para o país do Oriente Médio em 2022. Desde então, a docente não vê suas filhas. A situação se agrava pelo fato de a nação libanesa ser alvo de bombardeios, o que aumenta a preocupação de Bianca com a segurança e o bem-estar das crianças, que têm 6 anos.
“Meu estado de desespero é constante. Tenho crises de ansiedade porque não adianta pensar que não estão bombardeando lá [a cidade onde as garotas estão]. Minhas filhas estão lá, não me interessa onde estão colocando a bomba. Fico desesperada do mesmo jeito. Guerra é um negócio meio louco, né? Hoje ela tá em um ponto, amanhã ela avança 10 passos. Tenho medo desse avanço chegar até elas. Elas são meninas, não tenho medo só de elas morrerem, não. Tenho medo de estuprarem, eu tenho medo de judiarem delas”, desabafa a professora.
Bianca busca ativamente o retorno das filhas, mas enfrenta obstáculos por causa da relação com o pai das crianças, que teria imposto uma série de condições para voltar ao Brasil com as gêmeas. De acordo com a brasileira, apesar de ter aceitado todas as solicitações, o homem não embarcou com as meninas em nenhum dos três voos disponibilizados pela embaixada.
“Como ele falou que queria voltar, preenchi os formulários dos voos e acionei a embaixada, acionei as pessoas que podiam me ajudar a dar prioridade. Enfim, tentei ajuda de todo lado, acabei conseguindo colocar no primeiro voo, mas não embarcaram. Chamaram de novo para o segundo, não embarcaram. Chamaram para o terceiro, e não embarcaram. Aí pararam de chamar”, relata.
A professora menciona que a justificativa dada pelo ex-marido para não comparecer até o local seria longo percurso até o aeroporto. No entanto, ela garante que um ônibus da embaixada passaria a 20 minutos de distância da região em que suas filhas gêmeas estão.
O Metrópoles procurou o Ministério das Relações Exteriores. O órgão apenas afirmou que, por meio da Embaixada do Brasil em Beirute, acompanha o caso e permanece à disposição dos familiares, mas não repassa informações sobre situações individuais de assistência a cidadãos brasileiros.
Hoje, o maior desejo de Bianca é ter suas filhas de volta em segurança, para proporcionar a elas o cuidado, o amor e a educação que merecem. A professora anseia vê-las protegidas dos perigos da guerra e reinseridas na escola, para que as meninas voltem a ter a mesma tranquilidade que tinham antes de serem levadas para o Líbano.
“Minhas filhas não estão estudando, estão num lugar inseguro que pode faltar as coisas. Pode faltar tudo a qualquer momento, a violência pode chegar até elas de múltiplas maneiras. Então, não tem como ter paz assim”, ressalta.
Luta pelas filhas
Bianca foi casada com um cidadão libanês e teve duas filhas, mas o relacionamento terminou em fevereiro de 2022. “Em abril do mesmo ano, elas iriam passear com o pai. Então, ele veio buscá-las no sábado, e no domingo já recebi uma ligação por vídeo dizendo que estava no Líbano com elas. Foi aí que começou o meu pesadelo”, declara a professora.
De acordo com a mulher, o ex-companheiro conseguiu sair do país com as gêmeas porque uma procuração, assinada por ambos anteriormente, permitia que as crianças viajassem com apenas um dos genitores. “Hoje, elas continuam no Líbano, quase dois anos depois. Elas não falam em português, porque elas foram privadas de ter contato comigo. Eu conseguia falar com elas quase diariamente por vídeo nos primeiros seis meses, mas depois disso as ligações foram ficando cada vez mais espaçadas”, conta Bianca. Além disso, todos os contatos são vigiados pelo pai.
Em agosto de 2022, uma decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) aceitou uma concessão de tutela de urgência e indicou que a mulher tivesse a guarda unilateral das meninas. Também foi expedido um mandado de busca e apreensão, e o aviso foi encaminhado à Polícia Federal (PF) e à Interpol. No entanto, segundo a professora, as ações não surtiram efeito porque o Líbano não é signatário da Convenção de Haia.
“Legalmente, do ponto de vista jurídico, ele não saiu de forma ilegal, mas na procuração constava que as crianças poderiam viajar desacompanhadas de um dos pais desde que tivesse data marcada para a volta, a passagem de retorno deveria estar emitida, e essa passagem estava emitida para o dia 21 de junho de 2022. A partir do momento que, nesta data, ele não retornou, o ato foi configurado como ilegalidade”, aponta.
Agora, a docente divulga o seu relato nas redes sociais para tentar ver suas filhas novamente. “Eu busco um equilíbrio para conseguir manter as minhas atividades, para trabalhar e fazer as coisas que me fazem bem, mas tem épocas que são muito difíceis. É difícil até levantar pra fazer as coisas, tocar a vida normalmente. Tem momentos em que eu me sinto anestesiada, tem momentos em que eu me sinto desesperada, que eu me sinto completamente sem esperança.”
Bianca Carneiro tem usado a internet como aliada. Ela pontua que utiliza a ferramenta como um “pedido de socorro”. Em um perfil no Instagram, a professora detalha a saga de como as filhas foram levadas para o Líbano.