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Novo ensino médio: alunos reclamam de falta de clareza ao escolher disciplinas

Professores também apontam que a falta de um modelo uniforme pode aumentar a desigualdade entre os alunos de cada instituição de ensino

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Alunos de são paulo durante aulas durante pandemia
1 de 1 Alunos de são paulo durante aulas durante pandemia - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Sorteio, formulários online e escolhas feitas por professores. As formas para definir as disciplinas eletivas pelo novo ensino médio têm sido as mais diversas no Distrito Federal, e os alunos relatam que cada escola tem uma metodologia diferente na escolha.

Estudantes da rede pública reclamaram ao Metrópoles que não há um padrão geral nas unidades de ensino. Professores apontam que a falta de um modelo uniforme pode aumentar a desigualdade entre os alunos de cada instituição.

O estudante Richard Lacerda Sabino, 16 anos, conta que pretende estudar relações internacionais e que gostaria de cursar disciplinas que o preparassem para a graduação. No entanto, em vez de escolher áreas como línguas e história do Brasil, ele está aprendendo reciclagem.

“A escola não tem estrutura para o novo ensino médio, não podemos escolher nossas eletivas, somos obrigados a fazer as eletivas escolhidas pelos professores”, informou o aluno. Ele cursa o segundo ano no Centro Educacional Darcy Ribeiro, no Paranoá.

O tema da disciplina eletiva que ficou definida para ele é “os R”: aulas que tratam sobre reutilizar, reciclar e reduzir os produtos que fazem mal ao meio ambiente. “Eu realmente acho muito importante isso ser estudado, mas queria eletivas que me ajudassem a entrar em uma faculdade.”

Por sorteio

Também insatisfeita com o modelo adotado pela escola, uma estudante de 16 anos que não quis ter o nome divulgado contou que no Centro de Ensino Médio 1, de Sobradinho, a direção sorteou números de 1 a 900 para os alunos. A matéria foi definida pela ordem do sorteio.

No “bingo das disciplinas” ela ficou com um número acima de 600. “A gente que pega número maior não consegue escolher as eletivas que queremos, e fica com o resto que a escola tem a oferecer”, afirmou.

Ela afirmou que gostaria de cursar disciplinas que a preparassem para entrar em agronomia, direito ou psicologia na Universidade de Brasília (UnB), por vestibular ou pelo Programa de Avaliação Seriada  — processo seletivo exclusivo da UnB, no qual é feita uma prova a cada ano do ensino médio.

Se pudesse escolher, frequentaria aulas de escrita criativa, português e matemática do PAS, inglês com música e sexualidade.

No entanto, ela recebeu na grade curricular disciplinas com nomes nada explicativos, como “há mais entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”. A disciplina trata de analisar letras de raps antigos.

Formulário on-line

Para o estudante Kayo Rocha Mares, de 14 anos, a escolha foi mais fácil. Ele conta que o Centro de Ensino Médio 804, do Recanto das Emas, adotou um modelo feito por formulários on-line.
“A escola deu o link e eu selecionei as disciplinas que queria”, contou. Nas eletivas, ele selecionou as matérias educação física, atualidades para concursos e vestibulares e arte (práticas corporais).

Ele conta que o colégio deu cinco dias para os alunos preencherem o formulário, sendo liberado de 24 a 28 de fevereiro. “Eu preenchi imediatamente. Algumas pessoas que deixaram para a última hora não conseguiram fazer as eletivas que queriam, pois não tinha mais vagas.”

Aumento da desigualdade

A professora de sociologia de escola pública de Taguatinga Pricila Lopes alega que a falta de uniformidade no modelo pode resultar em desigualdade na educação. “A formação dos estudantes ficaram assimétricas, não só de escola em escola, mas como no próprio ano de ensino.”

A docente ainda apontou que as eletivas abordam conteúdos específicos. Na opinião dela, reciclagem, por exemplo, é um tema que poderia ser tratado em aulas de biologia, e não em uma disciplina única.

O professor Remi Castioni, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, afirma que o modelo tem o objetivo de estimular a autonomia do estudante. “É importante a escola trabalhar para que o aluno seja ouvido.”

Secretaria de Educação

A Secretaria de Educação do DF informou, em nota, que a oferta das unidades curriculares eletivas ocorre a partir do levantamento do interesse dos estudantes. A pasta, porém, também alega que deve ser feito dentro das possibilidades de atendimento da própria unidade escolar, em relação ao corpo docente, bem como à disponibilidade de espaço físico.

“A partir disso, cada unidade escolar elabora as estratégias e os critérios de escolha pelos estudantes.”

Segundo a secretaria, a reestruturação do ensino médio é feita gradativamente. Em 2022, o modelo passou a abranger todas as unidades escolares do turno diurno.

A previsão da pasta é que, neste ano, 12 unidades escolares ofertem o novo ensino médio nas 1ª, 2ª e 3ª séries e 79 unidades escolares, somente nas 1ª e 2ª séries. No noturno, serão quatro unidades com o modelo na 1ª série.

Outra expectativa é que, até 2024, a estratégia de ensino seja aplicada em todas as 91 unidades escolares no diurno e nas 29 do noturno.

Diante das polêmicas, o deputado distrital Max Maciel (PSOL) protocolou ofício em 2 de março pedindo esclarecimentos pelo modelo adotado.

Novo ensino médio 
A lei nº 13.415, de 2017 instituiu uma nova base nacional comum curricular, que divide o ensino em cinco eixos:

  • Linguagens e suas tecnologias;
  • Matemática e suas tecnologias;
  • Ciências da natureza e suas tecnologias;
  • Ciências humanas e sociais aplicadas;
  • Formação técnica e profissional.

É obrigatório que todos os alunos cursem português e matemática. As demais disciplinas têm que compor os eixos, mas podem ser escolhidas pelo aluno e pela instituição, conforme o interesse.

Em meio às críticas, o Ministério da Educação fará, na próxima terça-feira (14/3), consulta pública para avaliar e reestruturar o modelo. O ato foi publicado no Diário Oficial da União na última quinta-feira (9/3).

O objetivo, segundo informações do MEC, é abrir o diálogo com a sociedade civil, a comunidade escolar, os profissionais do magistério, as equipes técnicas dos sistemas de ensino, os estudantes, os pesquisadores e os especialistas do campo da educação.

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