Novo comodoro do Iate Clube vai gerir orçamento de R$ 58 milhões
Disputa vale o comando de instituição com 16,7 mil pessoas, entre associados e dependentes, e vale para o triênio 2018-2020
atualizado
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A capital federal está às vésperas de uma nova eleição. Nesta quinta-feira (5/10), 3,8 mil eleitores poderão decidir nas urnas os rumos de uma comunidade de 16,7 mil pessoas. Os votos vão alçar um dos três candidatos ao posto de comodoro, cargo-mor de uma das entidades mais tradicionais do DF: o Iate Clube de Brasília.
O vencedor vai gerir um orçamento de R$ 58 milhões anuais. O escolhido – e seus dois vices – comandarão a associação recreativa no triênio 2018-2020, sem possibilidade de reeleição. Pela primeira vez na história, a corrida eleitoral para a chefia do Iate põe frente a frente três chapas: a Harmonia, representada por Rudi Finger; a Iate Participação, encabeçada por Maurílio Santinello; e a Iate Feliz, de Rodrigo Sá Roriz.
A eleição, historicamente, reúne os mais inusitados elementos de uma disputa nas urnas. Já houve empate de votos, decidido por antiguidade no quadro social; e ex-comodoro excluído da relação de associados e proibido de frequentar o clube. A disputa também atraía os holofotes no cenário político da capital nos tempos de ditadura militar (1964-1985) e mobilizava a população, período em que não havia eleição direta para governador do DF. Hoje os tempos são outros, mas nem por isso o pleito tem menos importância.A exemplo da política nacional, a comodoria pode ser equiparada ao Poder Executivo da agremiação. Os votos ainda decidirão os 60 componentes do Conselho Deliberativo – 40 efetivos e 20 suplentes –, que, por sua vez, funciona como o “Legislativo” do clube, responsável por analisar e aprovar propostas que envolvam o cotidiano da associação. Três chapas disputam as cadeiras no “parlamento” do Iate: Conselho Independente, Unidos pelo Iate e Conselho do Sócio.
O atual comodoro, o advogado Edison Garcia, 56 anos, se aproxima do fim de seu segundo mandato consecutivo (biênios 2014-2015 e 2016-2017) na liderança do Iate e deve passar o bastão para o sucessor sem graves empecilhos. Ele afirma que, ao assumir a gestão, em 2013, havia déficit financeiro de R$ 1,7 milhão — seu antecessor, Julio Itacaramby, contesta e diz que deixou R$ 2 milhões em caixa. Nos derradeiros dias de seu período à frente do clube, comemora as contas no azul.
“Meu principal legado foi enxugar gastos. Nas gestões anteriores, o Iate patrocinava todos os eventos: bancava camisetas, estrutura, comida. Isso se transformava em minifestas, o que era muito caro”, explica o comodoro, que prevê caixa reserva de R$ 6 milhões para seu sucessor. Ele conta que conseguiu a acumular a folga a partir da busca por patrocinadores para eventos no clube.
Disputa
O principal opositor do atual chefe do Iate contesta o bom momento financeiro da agremiação. O engenheiro civil paulista Maurílio Santinello, 67, candidato da chapa Iate Participação, avalia que os atuais líderes exageraram na cobrança da mensalidade dos sócios. Ao contrário dos concorrentes, ele não poupa críticas à gestão em curso.
“Temos recebido diversas reclamações sobre as taxas abusivas. Há evasão de sócios e alguns põem seus títulos para aluguel por causa das altas despesas”, reclama o candidato. Se vencer a disputa, Santinello vai lidar com uma comunidade maior que sua cidade natal, Bady Bassitt (SP), cuja população é de 14,6 mil habitantes – 2,1 mil a menos que o número de associados e dependentes do Iate. Garcia rebate e afirma que não seria possível encerrar seu mandato com superávit se não fossem as medidas de austeridade.
Hoje, os sócios-proprietários devem desembolsar R$ 515 – R$ 455 de mensalidade mais R$ 60 para investimentos em estrutura e equipamentos. Já os dependentes de 21 a 25 anos de idade têm de pagar, todo mês, R$ 136,50. Quem tem 25 ou mais gasta R$ 227,50. Pessoas com mais de 60 anos desembolsam R$ 91.
“A mensalidade é cara”, critica Santinello. “Nós vamos baixá-la e ainda assim manter o clube e fazer investimentos, dando ao sócio a qualidade que merece”, promete o candidato, que tentará reabrir o posto de combustíveis do Iate. O local já ofereceu, somente aos associados, o litro de gasolina mais barato da cidade, pechincha subsidiada pelo Iate.
O principal rival de Santinello é o advogado gaúcho Rudi Finger, candidato da chapa Harmonia, que conta com apoio da atual gestão. Finger direciona a proposta de austeridade para a folha salarial, que, hoje, custa R$ 26 milhões anuais.
Finger diz que, se for eleito, concentrará esforços para reduzir o quadro de funcionários diretos (atualmente composto por 484) e, assim, as despesas com os vencimentos. O candidato também promete expandir o número de vagas para embarcações da maior marina do DF.
Terceira via
No meio do fogo cruzado do candidato da situação e seu rival, está um oponente mais moderado. Único brasiliense dessa corrida eleitoral, o empresário Rodrigo Sá Roriz, 51 anos, avalia a atual disputa como “calma” em comparação aos últimos pleitos. Um dos lemas de sua campanha, “não queremos reinventar a roda”, por si só descarta promessa de revolução no Iate Clube.
O empresário prioriza melhorias para “resgatar” o público jovem do Iate e aprimorar o ambiente para os idosos, pela promoção de mais festas e integração da “melhor idade”. Sá Roriz, inclusive, visa enxugar em 50% as taxas para os sócios mais velhos e extinguir o pagamento do exame médico para crianças de até 12 anos.
Urnas eletrônicas
Os eleitores votarão em urnas eletrônicas do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), das 11h às 20h, na Sede Social do Iate, no Setor de Clubes Norte. Quem não estiver em dia com as contribuições não poderá participar. No entanto, terá a chance de, no local, regularizar a situação, por meio de pagamento em dinheiro ou débito e, em seguida, votar.
A proclamação do vencedor da eleição ocorrerá ainda na quinta (5), cerca de meia hora após o encerramento dos votos. A posse está prevista para 15 de novembro.
Confusão
No pleito de 2013, cada um dos dois candidatos a comodoro recebeu 901 votos, contabilizados por urnas do TRE. Segundo o critério de antiguidade, a vitória acabou proclamada em favor de Julio Itacaramby, concorrente da situação e sócio do Iate desde março de 1983. Porém, o representante da oposição à época, Edison Garcia, acusou seu oponente de fraude — o que não se comprovou.
Garcia alegou que era iatista desde garotinho, tendo sido admitido em 1972 na condição de dependente do pai. O advogado se tornou sócio-proprietário somente em 1983. No calor da disputa, o presidente da Assembleia-Geral Eleitoral do clube levou em conta a data informada no ato de inscrição das chapas, com cinco meses de vantagem para Itacaramby. Horas depois de ele ser declarado vencedor, a chapa de Garcia entrou com pedido de impugnação.
O presidente da Assembleia Eleitoral, então, recuou. Entretanto, o Conselho Deliberativo, composto por apoiadores da situação, não considerou o recurso. A confusão tomou maiores proporções porque o conselho era presidido pelo ex-procurador-geral da República Geraldo Brindeiro.
O caso parou na Justiça, que declarou Garcia vencedor em 2014. O comodoro à época da eleição, Mário Sérgio Ramos, sofreu um revés. Não na Justiça, mas no clube.
O conselho o julgou naquele ano e o excluiu do quadro social, por 46 votos favoráveis e um contrário. Além disso, a autoridade máxima no clube até o ano anterior ficou proibida de frequentar as dependências do endereço pelos cinco anos seguintes. O ex-comodoro, porém, já tem permissão da Justiça para entrar no local. Ramos havia sido acusado de usar a estrutura do Iate para beneficiar seu candidato nas eleições internas e de favorecer uma empresa na execução de obra no clube.
Glamour
Inaugurado no mesmo ano de Brasília (1960), o Iate Clube é um dos mais badalados da capital. A associação é a que abriga o maior número de embarcações na orla do Lago Paranoá: 600, entre lanchas, velas e barcos. Para fazer parte da confraria, deve-se esperar que algum associado queira vender um título ou participar de um leilão com outros interessados.
O perfil das pessoas aptas a desfrutar das regalias do Iate se confunde com o de personalidades brasilienses e do cenário político local e nacional. Juízes, desembargadores, ex-ministros, empresários e políticos compõem o quadro social do clube. Todo presidente da República é sócio enquanto permanece no cargo. O mesmo vale para o chefe do Executivo do DF.
Espalhado por 150 mil m², o lugar possui 13 quadras esportivas, oito restaurantes, seis piscinas, academia e 20 churrasqueiras.
Programe-se
Eleição para comodoria e Conselho Deliberativo do Iate Clube
Data: quinta-feira (5/10)
Local: Sede Social do Iate Clube de Brasília, no Setor de Clubes Esportivos Norte Trecho 2 Conjunto 4
Hora: das 11h às 20h