Novas provas ligam sargento da FAB a traficantes do Distrito Federal
As informações estão no inquérito que apura a participação de militares da Aeronáutica com o transporte de entorpecentes para a Europa
atualizado
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A Polícia Federal encontrou novas provas que reforçam o elo entre o sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) Jorge Luiz da Cruz Silva, o Salve Jorge, preso em março deste ano, com traficantes já conhecidos no Distrito Federal. As informações estão no inquérito que apura a participação de praças da Aeronáutica no transporte de entorpecentes para a Europa.
A última operação realizada pela corporação ocorreu em 25 de março. A ação revelou um personagem que, até então, não havia aparecido nos autos.
Conforme o Metrópoles mostrou à época, trata-se do brasiliense Márcio Moufarrege. Conhecido como “Macaco”, o profissional da área de educação física costuma circular em festas promovidas pela alta roda de Brasília. Ele é o mais novo investigado no âmbito da Operação Quinta Coluna.
Amizade e negócios
Provas obtidas pela PF esclareceram a lacuna que existia na investigação. De um lado, a apuração apontava que Jorge Silva atuava como recrutador de “mulas” no interior da FAB para transportar entorpecentes em aviões militares para o exterior.
Do outro lado, a Polícia Federal tinha uma denúncia anônima, preliminarmente verificada, que indicava que Marcos Daniel Pena Borja Rodrigues Gama, conhecido como Chico Bomba, era o proprietário do entorpecente transportado por essas mulas que atuavam em aviões da Aeronáutica.
Documentos apreendidos demonstram, por exemplo, negociações sobre a transação de um imóvel, no Paranoá, feita entre Márcio Moufarrege e Jorge Silva. Os papéis que comprovam os trâmites foram apreendidos na casa do pai de Marcos Gama.
Além disso, imagens publicadas nas redes sociais evidenciam o estreito laço de amizade entre o educador físico e Chico Bomba. Moufarrrege chegou a divulgar uma foto em que trata Marcos como integrante de sua “família”.
A PF destaca nos autos que a conexão entre Salve Jorge e Marcos Daniel, que era a princípio desconhecida, “passou a ser evidente”, apontando Márcio como figura central dessa relação. Uma nova pista que reforça a tese chegou mediante denúncia anônima realizada por meio do WhatsApp e registrada na Polícia Civil do Distrito Federal, em 8 de fevereiro deste ano.
Segundo o denunciante, Márcio trabalha para os traficantes Chico Bomba e Michelle Tocci, o “Barão do Ecstasy”. Por fim, afirma que Moufarrege era quem fazia a ligação entre militares da FAB e os traficantes Chico Bomba e Michelle Tocci, além de registrar que Chico é um traficante bastante conhecido no Lago Sul.
Vida luxuosa
Moufarrege mora de aluguel em uma mansão localizada no Lago Sul, área nobre de Brasília. Desembolsa cerca de R$ 10 mil por mês para residir no imóvel e leva um estilo de vida sofisticado. Também figura como sócio-proprietário de duas empresas, cada uma com capital social de R$ 100 mil. Na Polícia Civil do DF, Márcio é citado em ocorrências envolvendo brigas de rua. Os procedimentos geraram termos circunstanciados (TCs).
Veja imagens do imóvel:
Prisão
Em março deste ano, o Comando da Aeronáutica, com apoio da PF, prendeu o sargento Jorge Luiz e mais três pessoas que estariam envolvidas no tráfico de 37 kg de cocaína achados em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), em junho de 2019, na Espanha.
O grupo teria ajudado o também sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues a traficar a droga – o avião, usado em apoio à Presidência da República, saiu do Brasil e pousou na Espanha. Nessa ocasião, foram detidos outros três militares, além da esposa de Manoel. São eles:
- Tenente-coronel Alexandre Augusto Piovesan;
- 2º sargento Márcio Gonçalves de Almeida;
- 2º sargento Jorge Luiz da Cruz Silva (cumprimento de mandado de busca e apreensão);
- Wikelaine Nonato Rodrigues (esposa de Manoel).
Foram apreendidos computadores, celulares e documentos das pessoas envolvidas. Um ex-soldado da FAB, também com prisão decretada e cunhado do militar preso na Espanha, não foi encontrado.
Mulas
Dados colhidos no celular de Wikelaine Rodrigues mostram que ela e Jorge Luiz da Cruz Silva sabiam da atividade ilícita e participaram do esquema, auxiliando Manoel Rodrigues.
Há informações de que Manoel Rodrigues adquiriu um celular apenas para falar com os traficantes. O aparelho teria sido ocultado pela esposa após a prisão dele na Espanha.
As investigações apontam, ainda, que Jorge Luiz da Cruz Silva tinha a função de recrutar “mulas”, militares da FAB, para o transporte de substâncias ilícitas. Provas colhidas pela Polícia Federal revelam que ele tinha contato com Manoel Rodrigues por meio de mensagens de celular. Os textos enviados por Silva sempre continham a expressão “Oi, Amor” no início.
Os dois se encontraram antes das viagens realizadas por Rodrigues no avião da FAB, em 29 de abril e 24 de junho de 2020. Jorge Silva trocou o celular após a prisão do sargento.