No DF, 87% dos adolescentes no sistema socioeducativo são negros
Estudo realizado pelo IPEDDF traça o perfil dos jovens socioeducandos no meio aberto e em semiliberdade na capital brasileira
atualizado
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Negro, com idade entre 16 e 17 anos, de família com baixa renda, distante do ambiente escolar, perto das drogas, mas acolhido pela família e com o sonho de trabalhar. Este é o perfil dos jovens socioeducandos no meio aberto e em semiliberdade na capital da República, segundo um estudo traçado pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF).
A pesquisa aponta que 87% dos adolescentes são negros e do sexo masculino. Mais da metade dos jovens têm entre 16 e 17 anos. Percentualmente, representam 52% do total de entrevistados. No corte por poder econômico, 38% vivem em famílias com rendimento mensal entre um e três salários mínimos.
Em fevereiro de 2022, 710 jovens cumpriam medida socioeducativa no DF. A pesquisa colheu e analisou os relatos de 158 adolescentes.
Antes de começarem a cumprir pena, 56% dos adolescentes não frequentava a escola. De acordo com as pesquisadora Julia Pereira, Luiza Rosa e Bianca Freitas, 54% dos analisados interromperam a vida acadêmica antes dos 15 anos. Além disso, 87% já repetiu de ano pelo menos uma vez. Destes, 57% foram reprovados por faltas.
Drogas, crimes, humilhação e agressões
De dez jovens entrevistados, 8 responderam que usaram alguma droga, lícita ou ilícita. Ou seja, 80% do total. Para 63% dos jovens entrevistados, o primeiro contato com entorpecentes aconteceu quando eles tinham entre 13 e 16 anos. Além disso, todos disseram usar continuamente maconha ou cigarro. Destes, 55,8% admitiram uso diário e 44,2%, quase sempre.
Tráfico e roubo ou furto são os atos infracionais mais comuns, correspondendo, respectivamente, por 34% e 40% das apreensões entre os entrevistados. No meio aberto, 30% cumpriam medida por roubo ou furto e 37% por tráfico de drogas. Na semiliberdade, 78% por roubo ou furto.
No semiaberto, 48% revelaram ter infringido a lei pela primeira vez aos 13 anos, no início da adolescência. Entre os jovens do regime aberto, 40% afirmaram que cometeram o primeiro ato infracional entre 14 e 15 anos.
Segundo a pesquisa, 44% dos adolescentes afirmaram já ter sofrido ameaças e humilhações. Destes, 49% alegaram que ter sido vítimas de pessoas desconhecidas e 29% da polícia. Durante as entrevistas, 55% disseram já ter sido agredidos. Para 40%, os ataques ocorreram foram do ambiente familiar e 15% citaram os episódios dentro de casa.
Luta por emprego
Na trajetória de trabalho, 81% disse que já trabalhou em algum momento, mas a maioria – percentualmente 61% – foi de forma informal. Poucos antes de serem apreendidos, 62% trabalhavam ou estavam em busca de emprego. Mas, mais da metade, recebia meio salário mínimo, somando 53% do total.
A maioria dos jovens detidos no sistema socioeducativo do DF vive em famílias numerosas, muitas com quatro (63%), cinco ou mais irmãos (53%). A cada 10 adolescentes, sete afirmaram morar com a mãe. Mas metade dos entrevistados destacou que vivem em famílias monoparentais femininas, lideradas pela mãe, tia ou avó. Além disso, 23% declarou não ter contato com o pai.
Família
Entre os entrevistados, 53% disseram que os pais sabiam onde estavam quando saíam de casa e 47% disseram ter hora para voltar para o lar. E 67% declararam poder contar com o apoio emocional dos responsáveis.
Para a pesquisadoras, grande parte dos adolescentes afirmou que as medidas socioeducativas geraram impactos positivos. Nas entrevistas, 65% pontuaram que deixaram amizades perigosas e voltaram para as escolas, e 78% afirmaram que pararam ou diminuíram o consumo de drogas depois da medida.