No DF, 79% das mães descobrem Síndrome de Down do filho no parto
Shalma Vicentim, 40, engravidou de gêmeos e descobriu que uma das crianças tinha Síndrome de Down após o parto
atualizado
Compartilhar notícia
O segundo positivo em teste de gravidez da vida de Shalma Vicentim, 40, foi uma mistura de felicidade e medo. A personal trainer já tinha uma filha de oito anos e não sabia se era a hora certa de ter mais um filho. Durante uma ecografia, veio a maior surpresa da vida dela: Shalma estava gerando dois filhos no ventre. Nove meses depois, após o parto, ela descobriu que uma das crianças tinha Síndrome de Down.
Dizem que intuição de mãe não falha. Apesar de não ter recebido o diagnóstico durante a gravidez, Shalma sabia que algo estava diferente. Assim que os primeiros sinais do trabalho de parto começaram, às duas da manhã, a família correu para a Maternidade Brasília, no Sudoeste. Quando os gêmeos nasceram, Arthur foi direto para os braços da mãe, mas a pequena Manuela precisou ser levada para a UTI.
Estudo mostra que 77% de pessoas com síndrome de down no DF têm até 18 anos
“Eu senti que tinha algo de errado acontecendo. Voltei para o quarto e pude amamentar o Arthur tranquilamente, mas nem tinha notícias da Manuela. Quando pude vê-la, percebi que ela tinha muitos traços bem específicos e era bem diferente do irmão. De imediato pensei mesmo que poderia ser Síndrome de Down”, lembra Shalma.
Embora ninguém tenha falado nada sobre isso na sala de parto, logo os pais foram informados de que Manuela seria encaminhada para uma avaliação mais completa. Somente 15 dias depois a família teve certeza do diagnóstico.
“Coração de mãe sempre sabe, não adianta. Eu senti a gravidez inteira que precisaria ser forte porque alguma coisa aconteceria, mas nada nunca foi confirmado no pré natal. Quando tivemos certeza eu chorei compulsivamente, depois prometi que nunca mais choraria por conta disso. Jurei que seria forte dali em diante”, comenta a personal.
O caso de Shalma é um entre diversos na capital federal. De acordo com estudo do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF), 79% das mães recebem o diagnóstico de Síndrome de Down apenas após o parto. Apenas 18,77% afirmam que receberam o diagnóstico durante a gravidez.
“Até hoje eu me pergunto como seria se eu tivesse descoberto antes. Poderia ter me preparado melhor e aprendido muito. Quando soube, foi como se tivessem me jogado dentro de um buraco escuro. Eu não tinha ideia do que fazer, quem procurar e como poderia ajudar minha filha”, lamenta.
Rede de apoio
Sem experiência, Shalma conta que recebeu “socorro” de uma outra mãe de criança com a mesma condição genética. Ela entrou em um grupo do WhatsApp onde mães de crianças com Down compartilhavam experiências da maternidade.
“Foi essencial porque eu estava desesperada. Sofri muito com a falta de informação sobre o assunto. Depois de muito aprendizado, descobri que é difícil, mas é possível. Comecei a entender tudo como um propósito maior”.
De acordo com a psicóloga Tamara Mendes, a rede apoio é importante para cuidar das mães. “Descobrir que o filho tem Down durante o puerpério é uma situação muito delicada. Nessa fase, os hormônios estão em alta e a mulher está muito fragilizada, então o processo de aceitação pode ser mais difícil”, alerta.
Quando Arthur e Manuela estavam com cinco meses, Shalma engravidou do seu quarto filho. O pequeno Heitor nasceu e trouxe ainda mais felicidade para a família. “Tive muito medo dele ter Down, mas entreguei nas mãos de Deus. Somos realmente uma família linda”.