No DF, 75% dos autores de feminicídio tinham antecedentes criminais
Dados da SSP-DF indicam que cerca de 75,6% dos autores de feminicídio ocorridos entre 2015 e 2024 já tinham antecedentes criminais
atualizado
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Informações divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) apontam que 75,6% dos autores de feminicídio tinham antecedentes criminais. Os dados levam em consideração 210 homicídios motivados pelo fato de a vítima ser mulher ocorridos entre 2015 e 2024 na capital federal.
Cidade Estrutural, Itapoã, Fercal e Santa Maria são as regiões com as maiores taxas dos crimes.
O painel da SSP-DF também aponta que 168 mulheres assassinadas eram mães, e mais de 64% de todas vítimas de feminicídio nos últimos anos já tinham sofrido algum tipo de violência anteriormente.
Apesar de ainda não ter entrado na estatística citada, o suspeito pela morte de Ana Moura Virtuoso, de 27 anos, tinha uma extensa ficha por violência doméstica. A mulher foi a primeira vítima de feminicídio de 2025.
Preso pela Polícia Civil do DF (PCDF), Jadison Soares da Silva foi denunciado três vezes pela ex-esposa, e a atual companheira também registou quatro ocorrências da Lei Maria da Penha contra ele.
Ana denunciava agressões cometidas por Jadison há pelo menos cinco anos. A jovem foi morta a facadas na Cidade Estrutural no último domingo (5/1). A mulher foi levada por um vizinho à delegacia, mas não resistiu e morreu na unidade policial.
Armas dos crimes
Os índices referentes aos feminicídios de 2015 a 2024 mostram que mais da metade foram cometidos com arma branca e outros 21% dos casos com arma de fogo. Além disso, 128 mortes aconteceram por ciúmes e 47 por conta do término do relacionamento.
Os números de feminicídios, disponibilizados no painel, diferentemente do balanço criminal, consideram dados de todo o sistema de justiça criminal, incluindo os laudos periciais e de local do crime, indiciamentos, denúncias, decisões, sentenças e recursos, além dos boletins de ocorrências registrados pela PCDF.
Portanto, é possível que um caso registrado inicialmente como tentativa de feminicídio seja atualizado para feminicídio após a morte da mulher envolvida. Outra possibilidade é que, com o avanço de alguma investigação, a tipificação de uma ocorrência inicialmente registrada como homicídio seja modificada para o crime de assassinato cometido pelo fato de a vítima ser mulher.
Primeiro feminicídio de 2025
Ana foi a primeira vítima de feminicídio de 2025 na capital federal. Segundo relatos da vizinha da casa de fundos de onde Ana e Jadison residiam com dois filhos, a mulher sofria agressões físicas e verbais “quase todos os dias”. As discussões eram motivadas, na maioria das vezes, por ciúmes e por divergências do casal em relação aos cuidados com a casa e com os filhos.
A vítima já havia registrado pelo menos quatro boletins de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) contra Jadison: em 2020, por lesão corporal; em 2021, por injúria e vias de fato; e duas denúncias em 2022, sendo uma por ameaça e lesão corporal e outra apenas por lesão corporal.
Em abril de 2023, Ana decidiu pedir ao Tribunal de Justiça do DF (TJDFT) uma medida protetiva contra Jadison. No dia 22 daquele mês, o homem teria agredido a esposa, fazendo um corte na mão dela com um canivete, além de diversas ameaças como: “Vou te matar […] vou acabar com sua vida”; e ofensas e xingamentos, do tipo: “Desgraçada! Puta! Vai se fuder, porra!”. Os pais da jovem viram tudo de perto.
Na ocasião, a vítima disse que as agressões verbais ocorriam rotineiramente. Jadison fazia uso de álcool e drogas e, segundo Ana, se tornou violento e extremamente agressivo com o passar do tempo. Jadison chegou a ser preso no mês seguinte por violar a medida protetiva determinada pela Justiça. Em junho, porém, ele ganhou liberdade provisória, e Ana Moura pediu a retirada da medida.
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por meio da 8ª DP (Cidade Estrutural), prendeu Jadison Soares da Silva, 47 anos, nesta segunda-feira (6/1), na rodoviária de Formosa (GO), Entorno do DF. O homem pretendia pegar um ônibus com o objetivo de fugir para o interior do Piauí, onde tem familiares.