No DF, 60% dos pais não renovam contratos de transporte escolar dos filhos
Sindicato aponta crise no setor, pois a maioria dos clientes não firmou acordo para o segundo semestre do ano letivo
atualizado
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Sem rodar nas ruas desde o início da pandemia do novo coronavírus, motoristas de transportes coletivos escolares passam por forte crise econômica há cerca de quatro meses. Com poucos clientes na volta às aulas, os profissionais lutam para se sustentar financeiramente até o fim do ano.
De acordo com o Sindicato dos Transportes Escolares do DF (Sintresc-DF), existem, na capital, 2.046 permissionários e cerca de 4,5 mil motoristas da categoria. Segundo o presidente da entidade, Nazon Simões Vilar, desde maio deste ano, 80% desses profissionais deixaram de receber integralmente os salários.
“Até abril, ainda conseguíamos receber de alguns pais. Havia um desconto no valor final do mês, mas já era alguma coisa. A partir de maio, a maioria dos motoristas deixou de ganhar o salário por completo”, diz.
Após unir relatos dos motoristas, o sindicato apontou que cerca de 60% dos pais que tinham contrato com os coletivos não renovarão o acordo para o segundo semestre do ano letivo. “Os números da pandemia estão crescendo e é perigoso para todos. Acaba sendo inseguro para nós também por conta disso”, acrescenta Nazon.
Crise continua
De acordo com Eudenice Nascimento, presidente da Cooperativa de Transporte Escolar e Turismo do DF (Cotetur), mais de mil permissionários ficaram sem condições de cumprir com os pagamentos dos veículos desde o inicio da pandemia.
Para ajudar a categoria, o Governo do Distrito Federal (GDF) começou a pagar, neste mês, um auxílio a motoristas de transporte coletivo escolar e de turismo, por meio do Programa Mobilidade Cidadã.
Mesmo com o benefício e apesar da previsão de retorno das atividades escolares nas próximas semanas, Eudenice acredita que a situação financeira continuará difícil para todos os profissionais da área, uma vez que poucos alunos devem retornar às aulas presenciais.
“Muitos pais preferem que os filhos sigam tendo aulas on-line. Se só dois pais optam por colocar as crianças de volta no transporte, por exemplo, o motorista só recebe aquilo de mensalidade, o que não banca nem o combustível. Então, acabamos tendo prejuízo”, pontua a presidente da cooperativa.
Trabalho alternativo
A presidente da Cotetur também trabalha como condutora de transporte escolar. Ela dirige van e micro-ônibus há 25 anos e, com a suspensão das aulas, buscou alternativas para se sustentar durante esses meses, mas ainda encontra dificuldades.
“Eu tentei fazer bolo e pão de queijo para vender. Mas não tem como montar um negócio rápido do nada e já ter clientes. Entreguei currículos em vários lugares para tentar outro emprego e ainda estou aguardando”, narrou.
Veja, abaixo, vídeo do depoimento da profissional:
Sem previsão
José Antônio Marques de Moura, 52, trabalha na categoria há 27 anos e afirma nunca ter lidado com uma crise como essa. Ele é motorista e dono de uma empresa que possui três veículos de transporte coletivo escolar.
Ao Metrópoles, Antônio conta que deixou de rodar pelas ruas da capital no dia 12 de março e já não sabe se retornará até o fim de 2020.
“Eu acredito que não devo voltar agora, porque as escolas deram a opção da aula on-line e muitos optaram por essa aula remota. Até agora, nenhum cliente me procurou para esse segundo semestre. Está sendo um ano só para acumular dívidas”, lamenta.
O profissional recebeu neste mês a primeira parcela do auxílio do GDF, mas precisou buscar alternativas para complementar a renda. “O benefício ajuda na alimentação, mas as contas continuam vindo. Então, comecei a fazer pizzas para delivery”, afirma.
“São pizzas assadas e congeladas, que faço em casa para vender. É uma forma de não ficar parado, porque não está sendo fácil”, completa.
De acordo com ele, os trabalhadores da categoria estão ajudando uns aos outros como podem neste período. “Estamos fazendo vaquinha para comprar cestas básicas para colegas em situação de dificuldade. Para todos nós, a situação só deve mudar em 2021”, acredita.
Auxílio financeiro
Os motoristas de transporte coletivo escolar e de turismo começaram a receber, no dia 13 de julho, o pagamento do Programa Mobilidade Cidadã, do Governo do Distrito Federal (GDF). O auxílio será concedido em duas parcelas mensais, no valor de R$ 1,2 mil cada – podendo ser estendido por mais um mês, com o mesmo valor.
Cerca de 1,8 mil donos de ônibus e micro-ônibus ou outros veículos destinados ao transporte coletivo escolar e de turismo têm direito ao benefício. O auxílio é pago para quem presta serviço mediante concessão ou permissão do poder público e se encontrava devidamente cadastrado em 31 de janeiro de 2020.