No DF, 40% das crianças e adolescentes não moram em lar com pai e mãe
Estudo da Codeplan aponta necessidade de entender as mudanças nas relações familiares e as consequências disso na formação dos jovens
atualizado
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Os novos arranjos estão alterando cada vez mais o retrato da família brasiliense. Das 736.988 crianças e adolescentes (até 18 anos) que vivem na capital do país, 40% não moram em lares com pai e mãe juntos. São criados por apenas um deles ou por parentes, como avós, tios e irmãos mais velhos. Os dados fazem parte de pesquisa da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) sobre a população infanto-juvenil do DF e lançam os holofotes sobre as mudanças nas relações familiares e as consequências disso na formação dos jovens.
De acordo com o estudo, foram classificados como biparentais lares com a presença de pessoa de referência e cônjuge. Neste caso, estão 60% das crianças e dos adolescentes brasilienses. Segundo a diretora de Estudos e Políticas Sociais da Codeplan, Ana Maria Nogales Vasconcelos, as estatísticas não são totalmente claras em relação à composição das famílias, mas conseguem traçar um panorama para a criação de políticas públicas. “Temos muitas situações de arranjos familiares estendidos, quando as crianças são criadas pelos avós ou por outros parentes”, explica.
Nos caso dos lares monoparentais (presença de pessoa de referência sem cônjuge), a pesquisa mostra que 61,18% dos chefes de família são parentes e apenas 38,42%, pai ou mãe. “Vamos aprofundar esses estudos para conhecer melhor os arranjos familiares do DF e, a partir disso, melhorar a oferta de serviços e atendimento a essa população”, explica a diretora.Raphael Ribeiro, publicitário de 35 anos, e o filho Nathan, 9, são exemplos de como as famílias estão se adaptando às mudanças. “Organizamos nossa rotina e, hoje, meu filho visita a mãe sempre que os dois desejam. Mas ele mora mesmo comigo”, conta.
A mãe do menino tem liberdade para escolher as melhores datas para ficar com ele. “Minha ex-mulher e eu nos separamos há sete anos e, desde então, tivemos muitos debates sobre o melhor arranjo familiar até chegarmos a esse modelo”, destaca.
Composição familiar dos domicílios com presença de crianças e adolescentes nas regiões administrativas (dados de 2015):
Segundo a psicóloga Sara Mendes, a manutenção de um bom relacionamento entre os pais é fundamental na criação dos filhos em casos de separação. Para ela, disputas de guarda acabam afetando muito a formação das crianças e dos adolescentes.
Nessa faixa etária, eles precisam ter referência. Geralmente, os pais são exemplos. Na ausência deles, um familiar deve ocupar esse espaço. Caso contrário, há risco de uma pessoa de fora fazer esse papel e as coisas podem sair do controle
Sara Mendes, psicóloga
A pesquisadora da Codeplan Ana Maria Nogales reforça a preocupação com as famílias em que os filhos não são necessariamente criados por pai e mãe. “Sabemos que nos lares monoparentais temos uma quantidade grande de mulheres no comando, que precisam trabalhar e não têm com quem deixar seus filhos e acabam fazendo arranjos para conseguir manter a casa”, afirma.
O estudo trouxe outros dados sobre as crianças e os adolescentes do DF (confira abaixo). As informações coletadas serão apresentadas ao Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente e à Secretaria de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude, já que trazem informações como evasão escolar e falta de vagas em creches.
Faltam creches públicas
A Codeplan verificou que na faixa até três anos, a oferta de creches particulares é muito superior à da rede pública, mas boa parte da população não tem como pagar a mensalidade. Já no começo do Ensino Fundamental, a maior concentração de alunos está em escolas públicas.
Segundo Ana Maria Nogales, cada vez mais as mães têm deixado o mercado de trabalho para ficar com as crianças. “O valor do salário muitas vezes não cobre a despesa de pagar alguém para ficar com os filhos nem o deslocamento até o local de trabalho”, justifica.
A pesquisa aponta ainda que a partir do 3º ano do ensino fundamental uma grande quantidade de alunos começam a repetir de ano, o que contribui para o aumento da evasão escolar nas séries finais. “Precisamos saber se essas crianças estão sendo levadas para gangues, tráfico de drogas ou entrando no mercado de trabalho de maneira inadequada”, preocupa-se a pesquisadora.
Crianças e adolescentes representam 25% da população do DF. Percentualmente, a maioria deles está concentrada nas seguintes regiões administrativas: Fercal, Itapoã, Estrutural e Varjão. Juntas, elas representam mais de 31%. No entanto, em termos absolutos, não passam de 30 mil.
Por outro lado, Ceilândia, com menor proporção de crianças e adolescentes no domicílio, é a região que apresenta a maior quantidade de indivíduos nessa faixa etária (mais de 130 mil), seguida por Samambaia (75 mil) e Planaltina (56 mil).