No DF, 16 mil médicos trabalham na rede privada e 4 mil, na pública
Os pouco mais de 4 mil médicos que atuam na rede pública atendem, pelo menos, 67% da população do DF
atualizado
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Dos 18 mil médicos que têm registro profissional ativo no Distrito Federal, cerca de 88,85% — 16 mil doutores — trabalham na rede privada de saúde da capital federal. O número é quase quatro vezes maior do que os 4,2 mil que estão ativos na rede pública.
Os dados são do Sindicato dos Médicos do DF (Sindmédicos), do Conselho Regional de Medicina-DF (CRM-DF) e da Secretaria de Saúde (SES-DF). Apesar de haver profissionais que atuam tanto na rede pública quanto na privada, a disparidade segue alta.
Os pouco mais de 4 mil médicos da rede pública atendem, pelo menos, cerca de 67% da população do DF — equivalente a 1.983.351 pessoas.
DF figura há 5 anos em ranking das UFs que lideram queixas sobre planos de saúde
Além disso, os profissionais precisam atender a demanda de quem mora no Entorno do DF, mas utiliza o sistema de saúde da capital federal. Em média, a cada 10 pacientes internados na rede pública, 2 são residentes de cidades vizinhas.
No DF, 2 em cada 10 internados em hospitais públicos moram no Entorno
INFOGRAFICO
Demanda e soluções
Segundo dados de março deste ano, o DF tem, em média, um déficit de 2 mil médicos, contando especialistas e profissionais que atuem nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs).
Para Carla Pintas Marques, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), a falta de profissionais no SUS, no país como um todo, é uma junção de fatores.
“Hoje, a rede pública pode não ser atrativa porque o mercado privado é agressivo do ponto de vista de novas tecnologias, salário, em especial para médicos em início de carreira. E tem a questão da formação médica. Não há incentivo para os atendimentos no SUS em muitas universidades”, avalia.
A professora considera que mesmo as pessoas com planos de saúde utilizam o serviço público para alguns procedimentos e, por isso, a falta de profissionais precisa ser tratada como prioridade. “Temos bolsões de população no DF que utilizam o SUS. Quando falamos na falta de médicos temos que pensar que há outros profissionais que também estão em déficit e que deveriam ser atendidos pelas chamadas públicas de concursos da SES-DF”, completa.
Novos hospitais
Na última semana, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), determinou prioridade na construção de três novos hospitais para atender às demandas da população. Os hospitais do Recanto das Emas e de São Sebastião e o Clínico Ortopédico do Guará estão no topo da lista de importância.
Para o presidente do SindMédico, Gutemberg Fialho, a expansão do parque hospitalar da rede pública é necessária, mas é preciso que o governo esteja “atento” aos profissionais que são essenciais para que a unidade de saúde opere e atenda à população.
“Considero que seria mais sensato suprir o déficit de profissionais e os problemas de estrutura, de falta de equipamentos e de insumos nos hospitais que já existem – problemas que não permitem que os hospitais funcionem na sua capacidade total. Depois de resolver essas situações é que se deveria construir novas unidades”, diz.
Carla Marques concorda com Gutemberg e acrescenta que é preciso pensar em outras estruturas como as UBSs. “Novos hospitais vão acarretar em deficiência de mão de obra também nesses hospitais”.
“[A construção] Pode passar a ideia de que resolve o problema, mas não é só isso. É muito mais satisfatório organizar os serviços, observar os gargalos, colocar em atividade as ações das UBSs — onde se tem 90% das necessidades atendidas. Então, ter uma quantidade maior [de UBSs] e em áreas que não têm cobertura para ter a população bem atendida e só encaminhada ao hospital quando necessário”, completa.
Procurada, a SES-DF informou que o provimento em cargos públicos é de livre iniciativa. “A pasta vem realizando concursos a fim de atender a todas as necessidade do DF relativas à saúde”, disse o texto.