No DF, 1.044.169 moradores têm contas em atraso, aponta Serasa
Apenas em 2021, são 22.869 brasilenses negativados. O Metrópoles traz dicas de como se organizar e sair do vermelho
atualizado
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O Distrito Federal tinha 1.044.169 moradores com contas em atraso em abril deste ano, o equivalente a 44,6% da população adulta da capital, aponta pesquisa da Serasa Experian. Segundo o último levantamento disponível, apenas em 2021, já são 22.869 brasilenses que deixaram de pagar suas dívidas e acabaram negativados.
Em março de 2021, o DF tinha 1.050.031 habitantes inadimplentes, o que significa que houve queda de 0,5% em abril. Também caiu a quantidade de brasilienses com contas em atraso em relação a abril do ano passado. Conforme a Serasa, eram 1.110.171 pessoas com dívidas naquele mês em 2020, o que representa uma redução de 5,9% em um ano.
O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, explica que a redução do auxílio dado pelo governo e o alto número de desempregados são alguns dos fatores que contribuem para essa tendência de alta, que deve continuar nos próximos meses.
“Além desses pontos, os aumentos das taxas de juros e da inflação comprometeram a renda da população. As pessoas tiveram que priorizar os pagamentos, o que acabou deixando pendências pelo caminho”, comenta.
Greyce Santos, 32 anos, já tem dois meses de aluguel atrasado, além de não conseguir pagar as contas de água e luz há um bom tempo. Desempregada há mais de um ano, após o falecimento do idoso que cuidava, ela vive de bicos. “Tenho feito bico de faxina, mas não é suficiente. Preciso muito da ajuda dos meus pais, além de usar os auxílios do governo”, conta.
Moradora de Ceilândia Sul, ela diz que tem entregado currículo em vários lugares, mas ainda não conseguiu uma oportunidade. A situação tem sido tão complicada que o filho de 15 anos também passou a ajudar. “Infelizmente, essas aulas de longe não estão dando certo. A gente está numa situação complicada, então o que ele consegue fazer para ganhar um dinheirinho a gente dá preferência”, explica.
Apesar das dificuldades, ela não perde a esperança de conseguir quitar as dívidas. “Eu tenho falado com o dono do lugar onde moro e, assim que arranjar dinheiro, eu pago ele. As outras contas eu vou ver se consigo negociar, pois não está fácil”, pontua.
A situação também está complicada na casa da professora Judite Melo, 51 anos. Com a pandemia e o fechamento de algumas escolas, ela perdeu o emprego. Agora, a família de quatro pessoas (ela, o marido e dois filhos) vive com o salário do esposo, servidor público. A renda da casa caiu em 35% de repente.
“Graças a Deus ele tem estabilidade no emprego”, celebra a mulher, que viu sua qualidade de vida desmoronar com a pandemia. O cartão de crédito está atrasado e algumas contas ficaram na gaveta esperando dias melhores. “Vendemos o carro para conseguir continuar pagando a escola das crianças. E vamos levando até as coisas melhorarem”, afirma.
Dados nacionais
O total de brasileiros inadimplentes em abril último foi de 62,9 milhões em abril de 2021, uma alta de 0,7% com relação ao mês anterior, segundo a Serasa Experian. O ano de 2021 já acumula 1,6 milhão de pessoas com as contas no vermelho, sendo que esse é o terceiro aumento do índice no ano.
O total de devedores em abril deste ano ainda é o maior desde agosto de 2020, com 39,5% da população adulta nessa situação. No comparativo com abril do ano passado, quando houve o recorde da série histórica de inadimplentes, ocorreu queda de 4,4%.
Os setores em que há o maior acúmulo de dívidas são bancos e cartões e utilities (água, luz e gás). As dívidas com instituições financeiras foram as que mais cresceram entre março e abril deste ano, aumentando 0,7 ponto percentual.
Confira abaixo:
Ainda conforme a pesquisa, Goiás é a unidade da Federação onde foi registrada a maior queda (0,6 ponto percentual) na inadimplência entre março e abril deste ano. O Ceará apresentou o crescimento mais acentuado (1,3 ponto percentual).
O Amazonas segue sendo o estado com a maior porcentagem da população acima dos 18 anos com dívidas (52,2%).
Veja os dados completos:
Dicas para gerir as dívidas
O Metrópoles conversou com economistas e separou 10 dicas que podem ajudar a desafogar as dívidas e a economizar dinheiro no futuro. Confira:
1) Conheça sua realidade financeira
Conforme explica Theo Linero, planejador financeiro da Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros, conhecer a sua realidade financeira é o primeiro passo para saber gerir o próprio dinheiro.
“Você está endividado, mas quão endividado? Às vezes, é algo que com uma renda extra ou apertando um pouco o cinto você resolve em dois, três meses. Em outros casos, que a pessoa foi pega de surpresa e não tinha uma reserva de liquidez, ela pode não resolver em três meses, precisa de mais tempo. Então, o primeiro passo é observar qual é a sua realidade”, diz.
2) Coloque receita e despesa no papel
Segundo destaca o professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Bocaccio Piscitelli, colocar em um papel suas receitas e despesas é um bom começo para a organização das finanças.
“Organize as suas finanças, saiba do que dispõe e quanto gasta. Se a pessoa não tem conhecimento da própria situação financeira, do que entra e do que sai, ela não vai resolvê-la”, alerta.
3) Levante detalhes das suas dívidas
O próximo passo é olhar para os detalhes das dívidas. De acordo com Roberto Vertamatti, diretor de economia da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), uma dica é observar quem está devendo, qual o valor dos juros e quais as penalidades no caso de inadimplência.
“Conheça exatamente a sua dívida, quanto de juros acumula todos os meses. No caso de dívida bancária, há um contrato entre você e o banco. Conheça todos os detalhes desse contrato. Se possível, converse com o gerente, ou com um advogado. Aprenda detalhes sobre a sua dívida e como funciona, pois isso vai lhe ajudar no equacionamento dela”, indica.
4) Renegocie suas dívidas
Um passo importante para se livrar do endividamento é renegociar os débitos. “Renegocie todas as duas dívidas diretamente com o devedor. Procure pagar aquela que implica maior volume de juros”, aconselha Vertamatti.
Assim como ele, o professor de finanças públicas da UnB também ressalta a importância de priorizar as dívidas mais altas no momento da renegociação. “Quem deve, na maior parte dos casos, tem dívidas em mais de uma situação diferente. Então, é importante que a pessoa veja qual é a prioridade e renegocie, pois uma dívida só é muito mais fácil de administrar”, pontua Piscitelli.
5) Coloque gastos futuros em um calendário
Já pensando numa recuperação, uma dica, segundo o professor, é anotar os gastos em um calendário, de forma a separar prioridades na hora de comprar alguma coisa. “Como eu não posso atender todas as minhas necessidades ao mesmo tempo, é preciso definir aquilo que não dá para adiar. Portanto, a pessoa pode planejar: ‘A geladeira será para este ano, o sofá fica para o próximo'”, exemplifica.
“As próprias dívidas também podem entrar nesse calendário. Essa aqui eu consigo pagar no próximo mês, essa aqui em dois meses… E assim vai”, completa.
6) Aprenda a dizer “não”
Após planejar os seus gastos do ano, revise para confirmar se todos são realmente necessários. Às vezes, é preciso dizer “não” para determinadas compras.
Um caminho para reduzir despesas é estabelecer uma cooperação mais estreita com os membros da família. “É necessário que haja um esforço conjunto daqueles que vivem sob o mesmo teto para racionalizar os gastos. Se eu preciso economizar e tenho dois carros, será que não dá para usar apenas um? Será que não podemos usar apenas uma TV, em vez de deixar várias ligadas juntas, gastando energia?”, aconselha Piscitelli.
7) Faça reservas para imprevistos
Não apenas durante a crise atual, gastos inesperados precisam estar presentes na visão das famílias. “A reserva não é só para a pandemia. É para questões de saúde, troca do telhado, do encanamento”, diz o planejador Theo Linero.
“É bom tirar essa ideia de que você precisa ter R$ 500 para começar a guardar dinheiro. Se, no primeiro mês, for R$ 10, que seja R$ 10, mas o hábito se cria assim. Depois que você cria o hábito, vai vendo como aquilo traz maior tranquilidade financeira e mantém essa reserva”, acrescenta.
8) Separe o 13º
Outra dica é saber o que fazer com o 13º salário. “O 13º é muito importante principalmente para aquelas despesas extraordinárias de início de ano, como mensalidades escolares, impostos. Guardar para esses compromissos dos primeiros meses pode ajudar bastante”, indica o professor Piscitelli.
9) Tenha cuidado com compras parceladas
Um ponto que exige atenção, conforme destaca Roberto Vertamatti, são as compras parceladas. “Muito cuidado com elas, pois podem levar ao descontrole”, alerta. Compre apenas aquilo que sabe que conseguirá pagar segundo seu planejamento para os próximos meses.
10) Busque ampliar fontes de renda
Procurar novas fontes de renda não é algo fácil de fazer. Mas, havendo opção, é um importante caminho para equilibrar as finanças quando a situação financeira está difícil.
“Se aquilo que a pessoa tem não é suficiente, ela precisa trabalhar mais, buscar alguma coisa que possa fazer de forma autônoma. Não é simples, mas é importante se você precisa trazer mais dinheiro para o lado da receita e não consegue tirar do lado das despesas”, aconselha Piscitelli.