“Ninguém consegue entender”, diz pedagoga em enterro de menina morta pela mãe
Enterro do corpo de Dulcy Maria Rodrigues Sena, de 5 anos, foi tomado por tristeza e incompreensão. Mãe foi presa e teve prisão decretada
atualizado
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Em clima de tristeza e incompreensão, o corpo de Dulcy Maria Rodrigues Sena, de 5 anos, foi enterrado na tarde desta terça-feira (7/3), no Cemitério de Taguatinga, no Distrito Federal. A criança foi estrangulada pela mãe, Zenaide Rodrigues de Souza, 32, em um apartamento em Taguatinga Norte, na segunda-feira (6/3). Após matar a filha, a mulher ateou fogo no apartamento.
“Ninguém consegue entender”, disse uma das monitoras do colégio onde a garota estudava. A pedagoga informou que a criança nunca apresentou sinais de maus-tratos. “Sempre foi muito bem cuidada.”
No último aniversário da menina, em maio do ano passado, Zenaide publicou no Instagram um post em homenagem à filha. “Ah como eu fico feliz de te ver assim, crescendo”, disse. Ela foi presa logo após o crime e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.
Familiares tanto do pai da criança, Bruno de Sena, quanto de Zenaide relataram que o relacionamento dos dois era conturbado, com brigas constantes por ciúmes. Uma parente de Bruno disse que os conflitos do casal pioraram nos últimos dois anos, e ambos decidiram pela separação há alguns meses.
“Boa mãe”
Em depoimento à Polícia Civil (PCDF), o pai da criança disse que a ex-companheira “era uma boa mãe”.
Ainda segundo ele, sua Zenaide sofre de depressão e fazia tratamento desde o ano passado.
Bilhete
A mulher deixou um bilhete no apartamento antes de incendiar o imóvel. Na carta, ela descreve como assassinaria a filha e ataca o ex-marido, pai da criança.
“Que você viva com essa culpa para sempre. Era o que você queria — nunca mais ver sua filha. Que seja feita a tua vontade, com toda dor e ódio de mim, no meu coração. [Você] nunca quis ser pai de verdade mesmo. [Eu] te encontro no inferno”, escreveu Zenaide.
No manuscrito, a mulher detalha, ainda, como tiraria a vida da filha: “Quando ela estiver dormindo, coloco o travesseiro no rosto dela, amarro os pés e as mãos com o cadarço do sapato. [Em seguida], bebo o vinho e coloco fogo na casa”.
A mãe também pede que as coisas da filha sejam levadas para a Bahia. “Não é para deixar nada aqui”, exigiu.
Zenaide permanecerá presa enquanto responde pelos crimes de homicídio qualificado — por motivo fútil, com emprego de fogo e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima —, bem como por provocar incêndio em imóvel habitado. O inquérito foi enviado ao Tribunal do Júri de Taguatinga, onde tramitará o processo.
O crime
Vizinhos da família acionaram o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) por volta da 1h de segunda-feira (6/3), para apagar o incêndio no apartamento do 11º andar da Torre A, no Residencial Itamaraty, em Taguatinga Norte.
Testemunhas informaram que a mãe da vítima confessou ter ateado fogo ao imóvel, mas disse que não tinha intenção de matar a criança. Durante o incêndio, Zenaide chegou a passar de uma sacada para outra, entre apartamentos vizinhos, na tentativa de fugir das chamas.
No térreo do prédio, ela foi atendida pelos bombeiros e presa por policiais militares. A Polícia Civil descartou que o incêndio no apartamento tenha causado a morte da criança.
Depoimentos de testemunhas revelaram que a criança apresentava sinais de rigidez cadavérica, e as pupilas dos olhos se encontravam foscas.
A reportagem apurou que há a possibilidade de a criança ter morrido na tarde de domingo (5/3). “Um dos socorristas comentou que a menina apresentava sinais de esganadura. A corporação aguarda laudo cadavérico para confirmar as causas da morte. Mas podemos afirmar que a morte não foi ocasionada em decorrência de incêndio e fumaça”, enfatizou o delegado Josué Magalhães, da 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro).
Um dos bombeiros que atendeu à ocorrência afirmou à PCDF que encontrou a criança sem vida. Ele relatou que a porta do quarto onde foi encontrado o corpo da menina estava fechada e que o cômodo não havia sido atingido pelas chamas.