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Neuropediatra suspeito de pedofilia: polícia vai acionar CRM-DF

Médico é uma das referências da capital na área e está sendo investigado pela DPCA, conforme revelou o Metrópoles

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IGO ESTRELA/METRÓPOLES
Mae de menino abusado por medico
1 de 1 Mae de menino abusado por medico - Foto: IGO ESTRELA/METRÓPOLES

A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) vai acionar o Conselho Regional de Medicina no Distrito Federal (CRM-DF) para que o órgão tome providências em relação às denúncias contra um médico neuropediatra suspeito de abusar sexualmente de garotos durante consultas. O ofício será encaminhado na segunda-feira (22/04/19), após o feriado prolongado da Semana Santa.

O especialista foi alvo de mandado de busca e apreensão, expedido pela Justiça a pedido da Polícia Civil do DF (PCDF), nessa quarta-feira (17/04/19), conforme revelou o Metrópoles. A DPCA investiga suspeitas de pedofilia.

À reportagem, o presidente do CRM-DF, Farid Buitrago Sánchez, disse que o médico especializado em neurologia infantil pode ser alvo de uma sindicância. De acordo com ele, assim que a corporação encaminhar a denúncia, o órgão vai instaurar procedimento preliminar.

“Recebida a denúncia, abrimos um processo previsto no Código de Ética e apuramos os fatos. Ouvimos os depoimentos de todos os envolvidos e, caso haja evidência de que possa ter ocorrido infração por parte do médico denunciado, aplicamos as penas disciplinares previstas em lei”, explicou o presidente do CRM-DF.

Ainda de acordo com ele, as penas variam de advertência à suspensão do exercício profissional. “Dependendo da gravidade das acusações e, caso fique comprovado envolvimento do médico, em casos extremos, pede-se a cassação do exercício profissional”, completou.

Pais de pacientes supostamente abusados informaram à PCDF ter levado o caso ao CRM. No entanto, o presidente do órgão disse não conseguir confirmar a informação nesta quinta, pois a entidade está fechada e não teria como acessar o histórico do profissional.

Investigação
A operação da PCDF para o cumprimento de mandado judicial ocorreu no consultório do profissional, em uma clínica no fim da Asa Norte, e na casa dele, no Sudoeste. Policiais da DPCA buscavam provas que confirmassem as denúncias, feitas por pais e relatadas pelas próprias vítimas em depoimentos.

Equipamentos como computadores, HDs, mídias, telefones celulares e outros dispositivos eletrônicos foram apreendidos e encaminhados para perícia no Instituto de Criminalística da Polícia Civil.

O Metrópoles apurou que o médico alvo da operação é considerado um profissional de renome em neuropediatria. No Distrito Federal, só atende em consultas particulares – não aceita convênio – e a fila de espera chega a meses. Ele também é professor de medicina na Universidade de Brasília (UnB).

Em razão de as investigações serem preliminares e a perícia nos equipamentos apreendidos não ter sido concluída, o nome do neurologista pediátrico será mantido em sigilo. Caso a PCDF confirme as suspeitas, a identidade dele será divulgada pela reportagem.

De acordo com as apurações da DPCA, a unidade especializada registrou duas ocorrências, nos anos de 2013 e 2014, nas quais o neurologista infantil é acusado de molestar crianças. Contudo, as denúncias foram arquivadas pelo Poder Judiciário a partir de manifestação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).

No entanto, em dezembro de 2018, os policiais voltaram a receber acusações contra o médico e reabriram as investigações após instaurar novo inquérito.

Vítimas traumatizadas
A reportagem localizou e entrevistou duas mães e um dos adolescentes envolvidos, que, mesmo sem se conhecerem, relataram histórias semelhantes sobre os supostos abusos sexuais cometidos pelo médico. Uma advogada de 49 anos contou com detalhes como seu filho, à época com 11 anos e hoje com 17, se tornou vítima do profissional.

Segundo a mulher, em 2013, o menino começou a apresentar sinais de déficit de atenção. Ela foi orientada pela escola em que a criança estudava a marcar uma consulta com o especialista em neurologia infantil. A mãe, que acompanhou todas as consultas do filho durante o período de um ano, começou a desconfiar da atitude do médico logo nas primeiras visitas.

A advogada relatou que a disposição dos móveis, paredes e biombos evitava que a criança fosse vista no momento em que era examinada na maca do consultório.

Estava a uma distância muito próxima enquanto meu filho era abusado. Apesar de tantos anos terem se passado, ainda sinto uma enorme culpa, misturada com raiva e indignação

Relato de mãe de uma das vítimas

“Ele tocou em mim”
Segundo a mãe, o próprio garoto disse o que ocorria durante as consultas: “Sempre pedia para meu filho ficar de cueca e depois tirá-la. Em uma oportunidade, ele revelou que o médico examinou sua perna e acabou passando a mão em sua genitália”.

Igo Estrela/Metrópoles

O adolescente lembrou-se de, na época, admitir à mãe que o neuropediatra havia tocado em seus órgãos genitais e de ter dito a ela que não voltaria mais ao consultório. “Ele passou a mão em mim de uma forma diferente”, desabafou para a mãe.

Ainda em 2013, a advogada conversou com o filho e ambos decidiram procurar a Polícia Civil para registrar a ocorrência, que foi apurada, em um primeiro momento, pela 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte). O médico chegou a ser intimado e a prestar depoimento, mas foi liberado em seguida. O caso acabou arquivado por falta de provas.

Revoltada, a advogada procurou o CRM-DF e o MPDFT para relatar os supostos abusos, mas as denúncias não avançaram. Ela contou ainda que, após ter sido molestado, o garoto precisou passar por tratamentos psicológicos e psiquiátricos, com uso de medicação.

Crises de ansiedade
O caso se assemelha ao de uma professora aposentada de 53 anos. Ela revelou que seu filho se tornou vítima dos abusos do médico a partir de outubro de 2016. “Esse neurologista foi muito bem recomendado. Mesmo morando longe da Asa Norte, resolvi levar meu filho para as consultas”, disse. O garoto, então com 13 anos, apresentava dificuldades na escola e suas notas oscilavam.

Mais uma vez, o neuropediatra fazia todos os exames de reflexo, equilíbrio e coordenação motora. Em seguida, o paciente era deixado apenas de cueca, sem que a mãe percebesse. “O consultório é montado de forma a deixar uma falsa sensação de segurança. De fato, não é o que ocorre”, lamentou a professora.

Após as primeiras consultas, a mãe percebeu que o filho começou a apresentar um comportamento que sinalizava crises de ansiedade. O adolescente passou a lavar as mãos a todo instante, ir ao banheiro diversas vezes por dia e até a arrancar tufos do próprio cabelo. “Além disso, ele se recusava a tomar a medicação, escondendo os remédios nos bolsos do uniforme escolar e nas gavetas de casa”, relatou.

Dois anos de assédio
A professora desconfiou de que algo estava errado com o tratamento do filho e sobre a forma como o médico agia. “Me incomodava o fato de, no momento de se despedirem, o médico abraçar meu filho de forma tão demorada e intensa”, afirmou.

Com a piora no comportamento do garoto, a mãe decidiu intensificar as conversas e perguntava sempre se o médico tratava o filho com respeito. “Em um primeiro momento, ele disse que sim, mas depois ficava calado diante dos meus questionamentos”, lembra-se.

Já em novembro de 2018, o adolescente resolveu contar à mãe que estaria sendo assediado pelo neurologista pediátrico. “Ele falou que seu pênis era examinado e tocado constantemente”, afirmou. Nunca mais o rapaz, atualmente com 15 anos, retornou ao consultório do médico.

Exames desnecessários
O Metrópoles ouviu dois médicos especialistas em neurologia sobre os exames e procedimentos feitos pelo médico denunciado pelos pacientes. Sem se identificarem, ambos os profissionais foram categóricos ao afirmar que tocar e examinar o pênis dos pacientes é uma ação completamente fora do padrão do profissional neurologista e sem qualquer contexto.

De acordo com uma médica renomada na especialidade, os primeiros exames devem englobar os testes de equilíbrio, reflexo e coordenação motora. “Não existe qualquer atendimento padrão em que o neurologista precise examinar e tocar nos órgãos genitais ou seios dos pacientes”, disse. “É um caso muito sério”, afirmou a profissional, com mais de 30 anos de experiência na área.

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