Sacrilégio: a cada 48h, um templo religioso é alvo de criminosos no DF
Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), de janeiro a maio deste ano, foram registrados 76 furtos em igrejas
atualizado
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A preocupação quanto à segurança dentro de templos religiosos do Distrito Federal aumentou entre líderes espirituais, sobretudo diante da repercussão de um caso ocorrido no último dia 19 de junho. Maria de Fátima Pinheiro Inácio, 74 anos, teve a bolsa furtada dentro da Paróquia Imaculado Coração de Maria, no Park Way, depois de se levantar para fazer uma oração. Embora os templos religiosos sejam lugares sagrados, muitos bandidos não se importam e escolhem cometer delitos nesses estabelecimentos, conforme mostra estatística produzida pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), a pedido do Metrópoles.
De acordo com a pasta, 76 ocorrências policiais foram registradas em igrejas católicas, evangélicas e centros espíritas e terreiros de umbanda e candomblé, de janeiro a maio deste ano. No mesmo período de 2021, houve 73 ocorrências semelhantes. Considerando todo o ano passado, o total de casos foi de 187. Durante três dias, a reportagem visitou vários centros de fé e pôde notar que, apesar de diversas estratégias adotadas para inibir esse tipo de prática, as casas sagradas ainda são alvo da ação de criminosos.
“Estamos conversando com a comunidade, com lideranças [locais] para ver o que vamos fazer. Uma vez que coloca-se a dignidade da pessoa que está rezando em cheque, em conflito, já virou um problema grave para nós”, disse o padre Vicente Tavares, responsável pela paróquia onde a idosa acabou sendo furtada.
“Eles aproveitaram a oportunidade e nem chegaram a entrar muito depois da porta. Ela [a ladra] estava acompanhada de outros dois homens e acreditamos tratar-se de uma quadrilha”, detalhou o pároco.
Diáconos fazem vigilância
A igreja recebe a todos os fiéis de portões abertas, mas firmou contrato com empresa especializada em monitoramento, guarita com vigilante e 58 câmeras de segurança espalhadas pelo terreno. As práticas são comuns nos demais templos visitados pelo Metrópoles. Na Igreja Batista Central de Brasília, localizada na 603 Sul, além dos itens de segurança, o pastor Ricardo Espíndola dispõe de membros do clero espalhados pelo local durante o culto. “Temos diáconos monitorando pessoas que chegam na igreja com atitudes suspeitas. Não tem uma abordagem direta, mas fazem esse acompanhamento”, explica.
O pastor recorda-se de apenas um caso de furto ocorrido antes de assumir o comando do templo, em 2009. “Nós contamos com espaço de berçário, e lá ninguém fica sozinho. Também temos uma área infantil, que fica lacrada durante o culto”, complementa.
Sensação de “abandono”
Em Sobradinho, a Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição amargou prejuízo de R$ 15 mil, em março deste ano. Na ocasião, bandidos arrombaram quatro cadeados de dois portões do salão de eventos do templo para furtar três freezers, pertences de mesa, roupas, túnicas, cálices e aparatos litúrgicos.
Um funcionário que pediu para não ser identificado admite que, em relação à segurança, a sensação é de “abandono”. “Contrataram uma equipe de vigilância e reforçaram as grades, mas não adiantou muito”, contou. O local segue lacrado e receberá novas câmeras de monitoramento quando for reativado.
Para o religioso, os furtos no local ocorrem “muitas vezes”, e são “mais que corriqueiros”, apesar de todo aparato de inibição. “Não só a paróquia sofre com este problema, mas toda a comunidade”, avalia.
Padre morto dentro de igreja
Palco do assassinato brutal do padre polonês Kazimerz Wojno, mais conhecido como padre Casemiro, 71 anos, em 2019, a Paróquia Nossa Senhora da Saúde, localizada na 702 Norte, passou por profundas transformações desde o infortúnio. O templo, à época, não era equipado com câmeras na parte externa. Já a capela, situada na parte inferior da estrutura, foi cercada por grades e, agora, é trancada com cadeados. A paróquia ainda passou a dispor de uma equipe de vigilância e uma guarita.
Intolerância religiosa
Templos que abrigam religiões de matriz africana corriqueiramente são alvo de ações criminosas na capital do país. No entanto, diferentemente do que ocorre nas igrejas católicas e evangélicas, terreiros de umbanda e candomblé corriqueiramente sofrem depredações motivadas por intolerância religiosa.
Em 2015, por exemplo, o terreiro Ylê Axé Oyá Bagan, localizado no Núcleo Rural Córrego Tamanduá, no Paranoá, foi incendiado numa suposta ação criminosa. O local foi reconstruído e retomou suas atividades, mas o temor permanece. Somente nos primeiros cinco meses de 2022, a SSP-DF recebeu seis casos de intolerância religiosa. Em todo o ano de 2021, foram 21 ocorrências da mesma natureza criminal.
Fundadora da casa Ylê Axé Oyá Bagan, Adna Santos, 59 anos, também conhecida como Mãe Baiana, reforça que as práticas de intolerância causam temor na comunidade espiritual. “A gente teme por nós e pelos frequentadores. O racismo religioso velado se manifesta de várias formas, infelizmente. É uma questão que a gente vem tentando combater, mas é complicado”, ressalta.
O que diz a SSP-DF
Em nota, a SSP-DF informou que a Polícia Militar do DF (PMDF) realiza ações planejadas e integradas com as forças de segurança, patrulhamento e operações específicas para evitar que os crimes ocorram. E que, por se tratar de um crime de oportunidade, é necessário que a população acione a corporação o mais rápido possível, além de registrar ocorrência para subsidiar a elaboração de estudos e manchas criminais que indiquem dias, horários e locais de maior incidência de cada crime.
A pasta destacou também que a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin) foi inaugurada em 2016, com estrutura adequada e agentes especializados para o atendimento. A população pode registrar ocorrências por meio da Delegacia Eletrônica, no site da Polícia Civil do DF (PCDF).
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