Negros representam 60% da força de trabalho no DF, mas ganham menos
População negra está mais presente em ocupações de maior vulnerabilidade, como emprego doméstico e trabalho autonômo aponta IPEDF
atualizado
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No último ano, de cada três negros de 14 anos ou mais, aproximadamente dois estavam inseridos no mercado de trabalho, espelhando uma taxa de participação de 66,%, enquanto a taxa de participação dos não negros era de 62,2%.
Os dados fazem parte do Boletim anual População Negra e o Mercado de Trabalho no DF, divulgado pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em alusão ao Dia Nacional da Consciência Negra (20/11).
De acordo com o levantamento, o mercado de trabalho no Distrito Federal em 2023 reforçou o protagonismo da população negra, que compõe a maior parte da força de trabalho na região.
A pesquisa mostra que 60,8% das pessoas ocupadas se autodeclararam pretas ou pardas, confirmando o papel desse grupo na sustentação da economia local.
Setores como construção civil, comércio e indústria de transformação lideram em participação de trabalhadores negros, com índices de 74,7%, 66,5% e 64,4%, respectivamente.
Apesar disso, o setor de serviços continua sendo o principal espaço de atuação, absorvendo 71,5% dessa população, seguido pelo comércio e reparação (17,4%) e pela construção (6,1%).
Vulnerabilidade
Além disso, o boletim aponta que a população negra está mais presente em profissões de maior vulnerabilidade, como emprego doméstico (quase 80% dos postos) e trabalho autônomo (66,8%).
O emprego no setor público ainda representa 17% das oportunidades para negros. Na sequência, as inserções em que os negros estavam sobrerrepresentados incluíam o trabalho autônomo
(66,8%) e o emprego assalariado no setor privado, tanto com carteira assinada (65,4%) quanto sem (61,9%).
No último ano, os rendimentos médios reais de negros e não negros correspondiam a R$ 3.569 e R$ 6.221 respectivamente. Em relação a 2022, houve aumento de 1,4% para a população negra e de 9,0% para a parcela não negra, elevando as diferenças de remunerações entre ambos os grupos de cor.
Segundo o IPEDF, historicamente, a população negra ocupada ganha salários inferiores aos recebidos pelos não negros, especialmente devido à maior concentração dessa população em inserções com maior grau de vulnerabilidade e que pagam remunerações menores.
Desemprego
A taxa de desemprego da população negra atingiu 17,9% em 2023, um aumento em relação ao ano anterior. Essa taxa é superior à dos não negros, que ficou em 13,5%.
Contudo, o tempo médio de busca por trabalho entre negros caiu de 12 para 11 meses, mostrando maior eficiência na recolocação desse grupo no mercado.
A diretora de Estatística e Pesquisas Socioeconômicas do IPEDF, Francisca Lucena, enfatizou a necessidade de políticas públicas que ampliem a equidade no mercado de trabalho.
“Ampliar o acesso da população negra a posições ocupacionais com maior remuneração e acesso a direitos trabalhistas ainda é um desafio. Políticas públicas de qualificação profissional e que promovam o acesso e a permanência da população negra na trajetória educacional são fundamentais para ampliar ainda mais o protagonismo da população negra no mercado de trabalho do Distrito Federal”, disse.