Natália não foi enforcada antes de morrer afogada, aponta laudo do IML
Universitária perdeu a vida no Lago Paranoá em 31 de março, após festa no Setor de Clubes Norte
atualizado
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A universitária Natália Ribeiro dos Santos Costa, 19 anos, não foi enforcada. A causa da morte foi afogamento no Lago Paranoá, em um trecho com 3 metros de profundidade. As conclusões são do laudo cadavérico concluído nesta quarta-feira (10/4) pelo Instituto Médico Legal (IML).
O Metrópoles teve acesso às informações contidas no documento, segundo o qual as lesões apresentadas no corpo da estudante foram provocadas depois da morte, devido ao arrastamento do cadáver pelo movimento do Lago Paranoá, onde ela se afogou durante uma festa, em 31 de março.
Ainda segundo o laudo do IML, Natália não estava com o nariz quebrado, como havia afirmado a advogada que representa a família da universitária.
Uma das testemunhas ouvidas pela Polícia Civil do Distrito Federal sobre a morte da moça disse que o rapaz investigado teria flertado com a estudante momentos antes de os dois entrarem no Lago Paranoá. Amiga da vítima desde 2015, a jovem contou que, em determinado momento no churrasco no Clube Almirante Alexandrino (Caalex), no Setor de Clubes Norte, o rapaz deitou no chão e aparentava “estar dormindo”.
Natália, ainda de acordo com o depoimento, então, “jogou um copo de bebida nele” e teria dito: “Acorda que você está ficando muito louco, está passando vergonha”. Em seguida, o rapaz teria elogiado a jovem de 19 anos. “Você é muito linda, muito gostosa, quero ficar com você. Quero comer seu c.” Após o flerte, a universitária respondeu, segundo a testemunha: “Me respeita, você está ficando louco”.
No entanto, a jovem ouvida pelos agentes da 5ª Delegacia de Polícia (área central), responsável pela investigação do caso, disse que a conversa entre os dois tratava-se de “uma brincadeira”. “Foi quando ele se sentou no balanço (do parquinho) e Natália ficou no colo dele. Logo em seguida, os dois caíram, saíram e começaram a correr. Desceram rumo ao lago e depois saíram do campo de visão”, acrescentou.
Ainda aos policiais, a amiga disse ter sido informada de que o clube estava fechando e o grupo decidiu ir embora. Segundo a testemunha, ela e outra amiga da universitária subiram “gritando, chamando a vítima”. Como acreditavam que Natália estava ficando com o garoto, resolveram esperá-la no portão. Cerca de quatro minutos depois, ele (o suspeito) apareceu carregado por dois amigos, ressaltou.
Elas teriam voltado ao clube com dois seguranças para procurar a vítima. No entanto, uma das amigas afirmou ter recebido uma ligação na qual alguém dizia que Natália teria sido vista no Subway, para onde seguiu o suspeito de 19 anos, morador da Asa Norte, depois da festa. Segundo a testemunha, a estudante “tinha o costume de abandonar as amigas na festa” e “como ela não apareceu, fomos embora”.
A defesa do jovem
Nesta quarta-feira (10), o defensor público André Praxedes, que acompanha o caso a pedido da família do rapaz, falou sobre as investigações.
Segundo o defensor, é preciso destacar que quase todas as pessoas que estavam no churrasco foram uníssonas em afirmar o estado de embriaguez do garoto de 19 anos. “Disseram que ele era o mais alterado, mas o mais importante é que ninguém, nem mesmo as amigas da Natália, afirmaram que ele apresentava sinais de agressividade”, afirmou.
Ingestão de álcool
Uma outra amiga da universitária também foi ouvida pela 5ª DP. Ela disse que conhecia a jovem há quase um ano e que costumavam sair juntas praticamente todos os finais de semana. Na festa, de acordo com a testemunha, a garota teria ingerido “bebidas alcoólicas, como vodca e suco de saquinho (gummy), além de cerveja, mas não fizeram o uso de drogas”.
Na primeira entrevista coletiva, a defesa da garota negou que a jovem tivesse ingerido bebidas alcoólicas. “Ela não bebeu. Sabia nadar e, inclusive, mergulhava fazendo uso de equipamentos próprios. Além de a água no local ser rasa e o ponto mais fundo atingir o pescoço dela”, disse a advogada contratada, Juliana Zappalá Porcaro Bisol.
Para a advogada, o áudio (ouça abaixo) enviado pela garota à mãe momentos antes da morte atesta a versão da defesa. Na gravação, com duração de oito segundos, ela se mostra preocupada com a mãe: “Mãe, que foi? A senhora está passando mal?”.
Em entrevista nessa terça (9), após ter acesso ao depoimento das testemunhas, a advogada da família de Natália ponderou: “Mas aí entra a questão do que é estar bêbado, pois seria normal estar num churrasco e beber”.
“Incoerências”
A defesa criticou ainda os depoimentos divergentes do suspeito e disse que há “incoerências” no relato. Após ter acesso ao inquérito sobre a morte da universitária, a advogada da família destacou, em coletiva de imprensa realizada nessa terça (9), alguns pontos da investigação. Segundo ela, o depoimento da namorada do rapaz suspeito de ter envolvimento com a vítima também apresentou inconsistências no caso.
“Ela disse que o garoto estava com a fala enrolada e repetia o tempo inteiro que a menina estava no lago, mas todos ficaram rindo dele”, apontou. Para a advogada, não faz sentido ele ter avisado sobre o afogamento e todos ignorarem o fato.
De acordo com o depoimento da namorada do rapaz, último a ver Natália com vida, o jovem não é muito forte para bebidas e, no dia da festa, havia ingerido vodca, “o que o deixou muito doido”. Segundo disse, ele não conseguia sequer ficar em pé.
Juliana leu alguns trechos do inquérito, como a parte em que a namorada do rapaz relatou à polícia que se ausentou da festa com uma amiga para buscar mais bebida. Nesse momento, os fatos no lago teriam acontecido. “Ela disse que, quando voltou, ele já estava deitado em um parquinho.”
Críticas
Juliana também reclamou da investigação. Há problemas de organização no inquérito, segundo ela, que disse não entender o motivo de falhas como falta de numeração, assinaturas e de termos de depoimento. Ela criticou, ainda, a demora em avançar nas hipóteses da causa da morte. “Por enquanto, só se sabe que foi afogamento. Só que ela estava com corte no lábio, nariz quebrado, olho roxo e arranhão no rosto. Acho muito difícil ter sido algo natural”, pondera.
A advogada disse que vai entrar com uma reclamação na Corregedoria pelo o que considerou ser “descaso” no processo. Ainda questionou os rumos da investigação. “Pediram para ir à casa da Natália hoje e não vejo motivo. Enquanto olham isso, não se sabe nem se o rapaz está no DF”, concluiu. A defesa do rapaz disse que vai se manifestar em entrevista coletiva nesta quarta (10).