Natal: conheça histórias de esperança, luta e superação no DF
Veja pessoas que tiveram que lidar com as adversidades da vida e, mesmo diante dos obstáculos, tornaram-se propagadores da vitória
atualizado
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Amor, compaixão, solidariedade, união e gratidão são sentimentos despertados nesta época do ano em que se celebra o nascimento de Jesus Cristo, o Natal. Entretanto, existem pessoas que, por meio de seus atos, são capazes de superar obstáculos, transformar vidas e fazer com que as emoções vivenciadas nesta data sejam sentidas ao longo do ano.
São histórias de esperança, luta e superação de homens e mulheres que, mesmo diante das adversidades da vida, tornaram-se propagadores da vitória, do bem e do verdadeiro amor.
A terapeuta Laila Cristina Peterle da Silva, 32 anos, é casada com o autônomo Otto Duarte Alves, 32, e tem duas filhas, Maria Valentina e Luísa. Só agora, o casal começou a entender o verdadeiro significado de superação e fé.
Eles têm motivo de sobra para comemorar este Natal. A filha mais nova, de 3 anos, diagnosticada com anemia falciforme durante o teste do pezinho, travava uma luta contra a doença há mais de um ano e precisava de um transplante de medula óssea para continuar viva.
O procedimento foi realizado no mês passado e Luísa Peterle está curada. O Metrópoles noticiou a história da família em julho de 2018. A cura da menina só seria possível por meio da doação de médula de um irmão compatível, e os pais pediram ajuda para gerar um bebê por fertilização in vitro.
“Fizemos duas tentativas de fertilização e conseguimos com a ajuda de uma vaquinha on-line. Conseguimos quase o valor total e completamos o que faltava. Infelizmente, eu perdi o bebê em uma das internações da Lu”, disse Laila.
Ainda segundo a mulher, eles descobriram uma equipe médica em São Paulo e começaram uma nova batalha à espera de doador compatível. “Ficamos meses esperando, mas sem sucesso. Luísa piorou e teve dois derrames graves. Além de um início de moyamoya (doença cerebrovascular)”, explica Laila.
Ainda de acordo com Laila, sem alternativa e com muita coragem, a médica da garotinha resolveu arriscar um procedimento inédito no Brasil: o haploidêntico para falcimorme, no qual o pai foi o doador.
“O transplante só tinha sido feito poucas vezes nos EUA. A Luísa foi a primeira paciente aqui no Brasil e deu certo. Somos infinitamente gratos e acreditamos que outras famílias que estão na mesma luta, sem esperança, também podem ser vitoriosas como a minha Lu”, acrescentou Laila.
Apesar de a família ser da capital, o transplante ocorreu em 14 de novembro, no Hospital São Camilo, em São Paulo, após Luísa começar a quimioterapia. A pequena havia feito aniversário no dia 06/11/2019. Um mês depois, um motivo para celebrar um novo aniversário. Em 7 de dezembro, a médula pegou e com ela veio a confirmação da cura.
“Não há nada mais gratificante do que ver as minhas duas filhas felizes. Estamos fechando um 2019 de bençãos. Com chave de ouro. É o melhor presente que poderíamos receber em nossas vidas: a Luísa em casa nesta data tão especial”, comemora a mãe.
“Só temos a agradecer toda a equipe da UTI do hospital e da oncologia, que estão sendo impecáveis com a gente. Batalhamos para chegar até aqui e só queremos alegria para os próximos anos. Que ela tenha uma vida plena daqui para frente. Sem transfusão de sangue e longe dos hospitais”, conclui.
Sonho realizado
Neste dia 25 de dezembro, apesar das dificuldades, a empresária fisioterapeuta, esteticista e terapeuta Saulla Morgana Azevedo de Almeida (foto em destaque), 33, deseja estar junto à família, que deixou há cerca de 11 anos na cidade de Pedro Afonso, no interior de Tocantins, para tentar a vida na capital da República.
De família humilde, a mulher veio para Brasília na esperança de um futuro melhor. Batalhadora, ela trabalhou como técnica de enfermagem de um idoso e, como possuía curso de estética, também conseguiu um emprego em uma clínica. “Era uma rotina dura. Eu trabalhava de terça-feira a domingo e não tinha tempo para mais nada”, desabafa.
Logo depois, Saulla saiu da clínica particular e passou a atender as clientes em domicílio. “Andava com a minha maca de cima para baixo e de ônibus para atender os meus clientes. Logo depois, resolvi abrir uma salinha com muita fé e coragem e deu certo. Um ano depois, em 2011, conquistei a minha própria clínica que hoje está a todo vapor”, recorda.
Em 2019, a clínica, inaugurada na 714/715 Norte, completou oito anos. “A Bem-Estar Med Esthetic é um sonho concretizado. O meu negócio começou no boca a boca. Me lembro da época em que atendia apenas 10 pacientes e, hoje, nós não conseguimos dar conta da demanda”, diz.
“Eu venci em um momento em que ninguém acreditava que o meu negócio iria dar certo. Atualmente, a minha equipe conta com profissionais de diversas áreas e oferecemos vários serviços. Então eu costumo dizer sempre: ‘Se você tiver um sonho, um objetivo, um projeto e você acredita nele, corra atrás. Porque o meu deu certo’. Sou muita grata a Deus. Não foi fácil chegar até aqui e, por muitas vezes, pensei em largar tudo”, acrescentou.
Para 2020, o desejo de Saulla é acrescentar aos serviços da clínica o pilates para idosos. “A nossa missão é vender saúde, amor, carinho, cura e cuidados. Idosos, geralmente, são muito depressivos. O meu projeto é trabalhar a área geriátrica para ajudá-los. Além disso, continuar acolhendo o próximo o ano todo, seja oferecendo serviço estético voluntário ou fazendo o bem para as pessoas. O importante é amar e perdoar o outro, sempre.”
Luta contra o preconceito
O Natal é responsável por promover mudanças e também a união. No entanto, diferentemente dos contos de fadas, nos quais os protagonistas terminam felizes para sempre, na vida real, o fim perfeito é uma busca diária, cheia de tropeços, frustrações, lutas e realizações.
A contadora Noélia da Silva Neres, 30, é um exemplo de quem venceu o preconceito. Negra, a jovem viveu até os 23 anos em Coribe, na Bahia, e chegou ao Distrito Federal em 2013 para realizar o sonho de fazer o ensino superior em ciências contábeis. “Sempre tive esse interesse. Desde criança. Eu não sabia nem o que era a contabilidade, mas já sonhava em ser contadora.”
A jovem conta que a trajetória para chegar onde está hoje não foi fácil. Durante a infância e adolescência, ela foi vítima de abusos e, por diversas vezes, pensou em desistir da vida. “A oportunidade não faltou. Por muito tempo, me escondi de mim mesma. Vivia na tristeza e não aceitava o que eu havia passado. Eram muitos os porquês. Então, eu resolvi viver e perdoar para ficar bem comigo”, comenta.
A jovem é filha mais nova de uma família de quatro irmãos. Acompanhada pelo companheiro Rubem Souza Cedraz, 37, ela chegou a Brasília sem perspectiva nenhuma e conta que também enfrentou a luta contra o racismo.
“Todos os dias. Muitas vezes, eu sentia um olhar de deboche. Não só pela minha cor de pele, mas também pela minha condição, por ter vindo de família pobre e carente. Cheguei sem nenhuma condição. Eu usei cabelo alisado por muito tempo e hoje resolvi assumi-lo como é. Tenho certeza que muitas mulheres, assim como eu, passam por isso. Mas temos que aprender a não aceitar esse tipo de coisa. Eu consegui.”
Neste 2019, Noélia se formou na faculdade e, há um ano e meio, ela trabalha em um escritório de contabilidade em Santa Maria.
“Sempre fui muito determinada. Mesmo com todas as dificuldades que tive na vida, sempre contei com o apoio da minha família. Meus pais nunca afastaram a gente. Eu aprendi que os sonhos valem a pena e que não podemos desistir. E isso é o que me faz querer vencer. Foi um ano de muitas vitórias e a realização de um sonho para construir a minha carreira nesta área. São portas que se abrem em meio a todos os percalços. Isso é o que nos move”, conclui a jovem.
Volta por cima
O Natal de 2019 e a aproximação de um novo ano trazem para a maquiadora e cabeleireira Rosenilda Alves da Silva Pinto, 43, os sentimentos de gratidão e, principalmente, de conquista.
Com uma vida repleta de dificuldades, mas sem deixar a peteca cair, os olhos da mulher não seguraram as lágrimas enquanto ela buscava nas lembranças o que achava pertinente contar sobre a sua história. Falava da convivência com o marido e os dois filhos de 6 e 9 anos.
Prestes a abrir o seu segundo negócio, a pernambucana de Arcoverde disse que começou a batalhar para conseguir destaque na vida desde muito cedo. O primeiro emprego, ainda quando criança, aos 11 anos de idade, era o de pedinte de esmola para ter o que comer.
Semianalfabeta, aos 24 anos, Rose, como é carinhosamente conhecida, se mudou para o DF para trabalhar na casa de um ministro como dama de companhia da esposa dele.
“Trabalhei nessa residência de 2000 até 2006, quando resolvi começar a ler, estudar e fazer cursos com a intenção de me tornar cabeleireira e maquiadora profissional para abrir o meu próprio negócio. Eu tinha fome de aprender. Devorava livros na biblioteca do ministro e me dedicava aos aprendizados.”
Em 2016, Rose realizou o sonho de abrir um salão de beleza, o Charmozê, na 309 Sul. “Agora, em janeiro de 2020, vou inaugurar a minha segunda empresa, na 714 Norte, com foco no atendimento para idosos em domicílio”, conta.
O que parecia a realização de um desejo para Rose, no entanto, quase virou pesadelo. “Nesse processo recente da abertura do segundo espaço, levei uma rasteira. A empresa que eu contratei e cheguei a pagar para montar o meu negócio era uma pirâmide e me deu um golpe. Perdi todo o meu investimento e entrei em depressão. Quase fali. Novamente me reergui e consegui dar a volta por cima. Agora estamos a poucos dias de inaugurar. Graças a Deus.”
Como nunca se intimidou pelos momentos difíceis, a cabeleireira tem esperança de dias melhores. “A minha cabeça está fervendo de ideias para o futuro. Descobri o tanto que eu sou capaz e não quero mais dizer que eu não consigo. Tenho muito orgulho da minha história. Da minha essência. A minha vida, olhando para trás e no que eu me transformei hoje, me superei e sei que ainda vou chegar ainda mais longe.”