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Nascidos na quarentena: bebês saem da maternidade para o isolamento social

Famílias contam ao Metrópoles como foi trazer uma nova vida ao mundo em tempos de pandemia do novo coronavírus

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Imagem cedida ao Metrópoles/Arquivo pessoal
Mateo Maternidade Brasília
1 de 1 Mateo Maternidade Brasília - Foto: Imagem cedida ao Metrópoles/Arquivo pessoal

São dias de incerteza sobre o futuro, mas uma coisa é certa: o mundo não para. Diariamente, novas vidas chegam ao mundo, trazendo esperança para seguir em frente. Desde o início das medidas de quarentena na capital do país, em março deste ano, muitos bebês nasceram no Distrito Federal e trouxeram alegria para as famílias.

Foram apresentados aos amigos e familiares, porém, somente por fotos e chamadas de vídeo, em respeito ao isolamento social por causa da pandemia do novo coronavírus. No máximo, um tchau a distância, sem abraços ou beijos.

Mateo (foto de destaque) é um desses bebês, nascido em 28 de março, pouco mais de duas semanas após começar a vigorar a quarentena na cidade. Com um mês de vida, ele conheceu a família somente pela internet. Foi a primeira gravidez da representante comercial e influencer Stefani Claro, 26 anos. O pai de Mateo, o advogado Leandro Menegaz, 37, tem uma filha.

“É o meu primeiro filho. Eu e Leandro idealizamos inúmeras coisas que gostaríamos com a chegada dele. Tudo precisou ser reformulado porque nós não pudemos receber visitas no hospital. Foi muito difícil”, diz Stefani.

Com muito carinho, eles fizeram lembrancinhas para receber amigos e parentes em casa. “Infelizmente, nada disso aconteceu”, desabafa.

O parto aconteceu na Maternidade Brasília. A mãe não abriu mão de registrar o momento de forma profissional. Teve que garantir a autorização do hospital para quem uma fotógrafa pudesse estar presente. “Batemos o pé. Explicamos que ela estava isolada também e, como tínhamos a autorização, graças a Deus, deu tudo certo.

A dificuldade não foi só essa. “Por conta da Covid-19, eles permitiam apenas uma pessoa no hospital comigo. Somente o meu marido e a minha mãe fizeram a troca de acompanhante, uma vez. A minha mãe é enfermeira e está sendo a rede de apoio. Os avós paternos estão no grupo de risco e estamos tendo esse cuidado de evitar a exposição deles”, explica Stefani.

Insegurança

Agora, para Stefani, os tempos são de insegurança. “Nós não sabemos o que vem pela frente. O que importa é que o Mateo está muito bem e estamos felizes com a chegada dele”, aponta.

“Por enquanto, a nossa rotina têm sido encontrar com a família pelos vídeos. Estamos controlando a saudade dessa forma. Quando saímos, somente para as consultas que não podem ser adiadas, tomamos os devidos cuidados, como distância das pessoas e higienização das mãos e objetos com o álcool em gel”, conclui a mãe.

Veja o vídeo de Stefani enviado ao Metrópoles:

Por meio da sua página no Instagram @stefaniclaro_, Stefani dá dicas sobre a maternidade neste período de pandemia.

Acesse o perfil dela nas redes sociais:

Páscoa

O pequeno Fernando nasceu no domingo de Páscoa, em 12 de abril. E honrou a data com uma vontade de viver fora do comum. O filho do publicitário Felipe Martins, 43, e da jornalista Carolina Ramos, 36, veio ao mundo de forma prematura. A chegada dele era prevista somente para 8 de maio.

De acordo com Felipe, naquele domingo, a bolsa de Carol estourou cedo. O medo maior do casal, até o nascimento do bebê, era a ida ao hospital para não correr risco de contrair o coronavírus – ambos fizeram o teste, que deu negativo. Apesar do susto, a cesárea ocorreu de forma tranquila.

Carol não escondia o medo de que fossem decretadas medidas para as UTIs neonatal, com muitas exigências.

“Eu estava muito estressada e angustiada por conta do coronavírus. Também comecei a ter pressão alta com alguns picos e, até por isso, precisei me afastar do trabalho um pouco mais cedo. Acredito que o pavor todo de ganhar o meu filho em meio à pandemia ajudou a acelerar esse trabalho de parto”, lembra a mãe de Fernando.

Fernando Maternidade Brasília

Carol e Felipe com o pequeno Fernando. O bebê nasceu no domingo de PáscoaFernando precisou ficar três dias na maternidade porque estava com bilirrubina em excesso (característica de pele amarela). A família recebeu alta, mas precisou voltar pelo mesmo motivo. “Ele tinha que tomar banho de luz. Não queríamos ficar no hospital, mas a unidade ficou vazia e foi bem diferente do que imaginávamos. Só não pudemos receber visitas”, explica Felipe.

Ainda segundo o publicitário, somente os três estão convivendo juntos em casa. “Fomos de carro, nesta semana, para que o avô paterno e a bisavó materna pudessem conhecer o pequeno. Tomamos todos os cuidados de não ter contato físico e, os que o viram, estavam usando máscaras de proteção facial”, detalha o pai.

“Vários de nossos amigos e familiares estão ansiosos para conhecê-lo e pegá-lo no colo. A gente têm mandado muitas fotos e vídeos para amenizar a vontade e a saudade”, continua o publicitário.

Dias antes do nascimento, o casal conta que, para evitar aglomeração, precisou cancelar o chá de fraldas da criança, pois a data coincidiu com o início da quarentena.

“Já estávamos no isolamento. Iríamos realizar o chá no dia 28 de março e decidimos adiá-lo. No entanto, disponibilizamos um link de chá virtual na internet e deu muito certo. Recebemos ajuda com as fraldas e várias mensagens”, aponta Felipe.

O evento foi adiado com aquela certeza de que tudo vai passar. E será comemorado em agosto. “Não vai mais ser um chá de fralda, mas uma oportunidade para que todos tenham o primeiro contato com o Fernando”, termina o pai.

Parto normal

Arthur Filipe completou um mês de vida em 18 de abril. Logo, ele nasceu na primeira semana de decreto de isolamento social no DF. E no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), referência no tratamento do coronavírus no DF. Foi um susto, segundo a mãe, Idelia da Silva Santos, 29 anos.

“A minha bolsa estourou no fim daquela manhã. Liguei para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e eles chegaram ao meu endereço para me levar ao hospital. Estava tudo programado para ele nascer no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). Mas, pela localidade que moro, eles me levaram ao Hran”, relatou ela, que tem outro filho, Ítalo Salomão, tem 7 anos.

De acordo com a mãe, eles receberam a informação de que seria no Hran com muita apreensão e receio.” Eu não queria correr risco de contaminação. Nem para o Arthur e nem de eu adoecer.”

O marido de Idelia e pai de Arthur, o autônomo Filipe Araújo, 24, lembra que, no local, outras grávidas também relatavam medo em estar na unidade.

“Com o parto, deu tudo certo. Os problemas ocorreram no pós-operatório. Nós estávamos no 2º andar do prédio e, de acordo com o Hran, os pacientes de Covid-19, estavam no 7º. Tínhamos receio de dividir os mesmos espaços”, conta Filipe.

Ele acredita que não havia como garantir que os pacientes infectados estavam ou não subindo no mesmo elevador. “Eram poucas as informações de como ocorria o contágio e aquilo nos deixava aflitos. Nem todos os profissionais de saúde usavam equipamentos de proteção no ambiente”, aponta.

Arthur Filipe Hran
A família de Arthur, o irmão Ítalo, a mãe Idelia e o pai Filipe, estão em isolamento social

Segundo Idelia, três dias após o nascimento do filho, surgiram boatos de que uma gestante com sintomas da doença poderia ser transferida para o mesmo andar das mães que ganharam bebês.

“Foi muito ruim. O Arthur ainda não tinha recebido alta porque precisava passar por um procedimento cirúrgico e toda a situação era muito desconfortável. Nós fizemos reclamações na ouvidoria. Não tivemos informações sobre grávidas com sintomas de Covid-19 entre nós e, graças a Deus, conseguimos a transferência do nosso bebê para o Hmib”, contou Idelia.

Assista o vídeo com o relato de Filipe, pai do Arthur:

No total, a família passou nove dias nas duas unidades para conseguir receber alta médica. “Era um clima tenso. Hoje, mantemos o isolamento e o Arthur cresce com muita saúde. Só saímos para as consultas , tomando todas as precauções”, acrescenta a mãe.

Como a família de Idelia é de Caxias, no Maranhão (MA), eles viriam para Brasília com a chegada da criança. Entretanto, os planos foram adiados. “O novo integrante da família foi apresentado somente por meio das chamadas de vídeo. Esperamos que isso posso passar logo para a nossa vida voltar ao normal”, afirma Filipe.

Cuidados médicos

Há aproximadamente um mês, o Ministério da Saúde decidiu incluir no grupo de risco da Covid-19 gestantes e mulheres puérperas com até 45 dias de pós-parto. A informação foi publicada no boletim epidemiológico do dia 6 de abril. Até então, eram consideradas apenas mulheres em gravidez de risco.

A inclusão no rol de pessoas que são consideradas de “risco” aconteceu com base na ação de outros coronavírus e vírus gripais e os reflexos na saúde. Segundo a pasta, gestantes e puérperas são mais vulneráveis a infecções e os cuidados devem ser “rigorosos e contínuos, independentemente do histórico clínico das pacientes”.

“Durante a gravidez e no puerpério, a mulher tem todo o corpo voltado para a formação dessa nova vida, o que acaba interferindo em todo o sistema imunológico delas e as deixam mais vulneráveis à doença”, explica o ginecologista e obstetra Fernando Prado.

De acordo com o médico, há casos registrados de mulheres com diagnóstico positivo que deram à luz bebês saudáveis. E, em casos mais raros, pode haver infecção mãe-filho. “Por isso, o reforço de isolamento durante a gestação é ainda mais importante.

A associação inglesa Royal College of Obstetricians & Gynaecologists, de Londres, afirma que recém-nascidos e mães não devem ser separados após o parto e a amamentação pode acontecer normalmente, mesmo em caso de contaminação pela Covid-19. Ainda não há comprovação de que o vírus é transmitido para o bebê.

Apesar de fazerem parte do grupo de risco, gestantes não devem abandonar o pré-natal e precisam conversar com o médico responsável para definir a frequência das consultas. “A orientação atual é não sair de casa durante o período da quarentena, mas o pré-natal é considerado prioridade no cuidado da saúde da mãe e do bebê, não tendo sido suspenso por nenhum órgão regulador”, detalha o ginecologista e obstetra Matheus Beleza, do Centro de Medicina Fetal (Cemefe).

“Devido à impossibilidade de avaliar o bem-estar materno-fetal de maneira remota, ou seja, on-line ou via chamada de vídeo, as consultas estão mantidas, de acordo com a recomendação do médico obstetra”, conclui o especialista.

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