“Não temos mais de onde cortar. Não vou sangrar a UnB”, diz reitora
Márcia Abrahão falou sobre o bloqueio de recursos. Em menos de um mês, o MEC aumentou a retenção de R$ 38,5 mi para R$ 48,5 mi
atualizado
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A reitora da Universidade de Brasília (UnB), Márcia Abrahão, considera gravíssima a situação financeira da instituição. O bloqueio inicial de R$ 38,5 milhões de recursos do Tesouro e o aumento de R$ 10 milhões no contingenciamento, em menos de um mês, provocam preocupação na gestora. Em entrevista ao Metrópoles, ela falou sobre o assunto: “Não temos mais de onde cortar. Não vou sangrar mais uma vez as faculdades. A UnB não vai encolher”.
Há dois anos, a UnB precisou demitir terceirizados, estagiários e aumentar o preço do Restaurante Universitário (RU). O orçamento acabou impactado ainda mais pelos cortes feitos em 2018. Agora, está no limite de seu funcionamento. De acordo com a reitora, abrir mão de qualquer contrato pode prejudicar severamente as atividades da instituição.
Até abril, o bloqueio feito pelo Ministério da Educação era de R$ 38,5 milhões, segundo identificado pela UnB no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). No entanto, sem nenhum aviso, o contingenciamento aumentou para R$ 48,5 milhões, na última sexta-feira (03/05/2019. Além da instabilidade que atrapalha a previsão e organização de licitações e contratos, a instituição agora precisa passar o ano com 39% a menos do orçamento previsto na última Lei Orçamentária Anual (LOA).
Descontados os valores da assistência estudantil, restam à UnB R$ 63,8 milhões dos R$ 112,3 previstos para 2019. O bloqueio é de R$ 43,9 milhões em custeio e R$ 4,6 milhões de investimentos. O contingenciamento afeta o pagamento de água, luz, vigilância, monitorias e bolsas de iniciação científica, entre outros.
Mesmo com a esperança de reverter o quadro junto ao governo federal, Márcia Abrahão disse já ter adotado algumas medidas. Pediu aos decanatos que reavaliem todos os novos editais de extensão e pesquisa, e não vai atender reivindicações das faculdades para contratações. Ou seja, vai estancar qualquer nova despesa. “Não vou crescer nenhum contrato, mas também não tenho mais como cortar”, afirmou.
Para conseguir manter a “normalidade” na UnB neste mês, a reitora, em trabalho com o Decanato de Planejamento, Orçamento e Planejamento Institucional (DPO), remanejou a verba arrecadada pela instituição com aluguel de imóveis. Cerca de R$ 2 milhões que deveriam ser usados para investimentos e obras tiveram de ser aplicados em outras áreas.
Mesmo com o congelamento dos valores, a gestora disse que a assistência estudantil será preservada e não há previsão de qualquer tipo de mudança no ingresso de novos estudantes. As vagas estão mantidas, garante. Na entrevista ao Metrópoles, Márcia Abrahão deu detalhes de como o processo vem ocorrendo. Leia:
Metrópoles: Por que o bloqueio de recursos do Tesouro aumentou de 30% para 40% do orçamento?
Márcia Abrahão: Não sabemos. Não fomos informados, o decanato só identificou o aumento no Siafi. Nós fomos a primeira universidade a ver o bloqueio. Ele é imediato, não tem essa de que é para o semestre que vem. Já está bloqueado. Chegou a parecer que iam reverter, mas na sexta-feira [03/05/2019] houve um novo bloqueio, um complemento do bloqueio.
A senhora consegue entender ou explicar por que a UnB foi uma das primeiras universidades federais a sofrer o contingenciamento do governo federal? Acredita que isso está relacionado com a visita de Fernando Haddad à instituição dois dias antes do anúncio?
Teve o anúncio do ministro falando sobre “balbúrdia”, mas, pensando racionalmente, fomos investigar. Conversei com secretário do Ministério da Educação, fomos atrás de documentos e encontramos um que já previa cortes desde janeiro. Era uma lista de várias universidades. As maiores eram UnB, Universidade Federal Fluminense, Grande Dourados e Bahia. Por isso, esse argumento do ministro não bate. Não temos explicação ainda.
O que será feito a partir de agora? Quais as ações imediatas?
O dinheiro que estava previsto no orçamento já era insuficiente. Com o corte de 39% do custeio (sem contar o valor da assistência estudantil), ficamos em uma situação gravíssima. Porém, quero acreditar que vamos reverter a situação. Não temos mais de onde cortar. Não vou sangrar mais uma vez as faculdades. A UnB não vai encolher.
O valor contingenciado seria para quais áreas?
Para o pagamento de água, luz, vigilância, limpeza, estagiários, apoio para monitorias, complementação para bolsas de iniciação científica.
Haverá corte em pesquisa ou em ingresso de novos alunos?
Já avisamos aos decanatos para reavaliarem novos editais de extensão e pesquisa. Não vou falar de cortes ainda, porque espero que isso mude. Não vamos mudar nada no vestibular, nem cortar novas vagas. Também não vamos demitir pessoal. Já sangramos a universidade em 2018, não faremos isso de novo.