“Não sei como vou viver sem ele”, diz pai de jovem morto em BMW no DF
O motorista da BMW estava embriagado e foi preso por tentativa de homicídio e embriaguez ao volante. Corpo de Islan da Cruz foi enterrado
atualizado
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Familiares e amigos de Islan da Cruz Nogueira, de 24 anos, reuniram-se no cemitério Campo da Esperança na Asa Sul para se despedir do jovem morto por policiais militares durante perseguição a uma BMW, que furou a blitz e atropelou um policial militar.
O velório aconteceu na manhã desta terça-feira (31/10), na Capela 4. O corpo foi enterrado um pouco antes das 11h.
Durante a cerimônia, o pai da vítima, Jorge Nogueira dos Santos (foto em destaque), 51 anos, pediu justiça pela morte do filho.
“Eu perdi meu filho, mas ele viverá sempre no meu coração. Ele era tudo para mim. Não sei como vou viver sem ele aqui. Não sei se vou conseguir morar na nossa casa sabendo que ele não está mais lá. No que estiver dentro da lei, eles têm que pagar pela morte do Islan”, lamentou o pai.
O motorista, Raimundo Cleofás Alves Aristides Júnior, 41 anos, furou dois pontos de bloqueio de uma blitz da Polícia Militar, no Eixo Monumental, na noite do último sábado (28/10). Durante a tentativa de fuga, o carro foi alvejado 15 vezes por policiais militares. Um dos disparos atingiu a cabeça de Islan, que morreu na hora.
O motorista da BMW estava embriagado. Ele foi preso por tentativa de homicídio e embriaguez ao volante
O jovem morava com o pai e a irmã em São Sebastião. No dia da morte, ele havia ido para um evento em um casa de shows na região central de Brasília.
Segundo os familiares, a notícia da morte de Islan só foi informada quase 20 horas após os tiros fatais. O pai acreditava que ele estava na casa da mãe, por isso pensou que estava tudo bem com o filho.
“Foi um erro muito grande da polícia. Eles tinham os dados do Islan, estavam com o telefone dele. Mas eu acho que Deus queria que eu tivesse mais força para receber a notícia. Quando soube, estava na igreja. Na hora que me abordaram e perguntaram se eu era o pai dele, eu já senti que havia acontecido o pior”, relembra Jorge.
Amoroso e trabalhador
Os parentes descrevem a vítima como uma pessoa amorosa, bastante apegada aos pais e muito trabalhadora.
“O Islã era um menino do bem. Desde cedo trabalhava em dois empregos pra garantir a independência dele e ajudar em casa. Independente de onde ele estava indo, com quem ele estava naquele momento, a polícia não poderia ter agido dessa forma. Hoje, nós estamos vivendo uma dor terrível. O sofrimento é muito grande”, contou Mari Luiza Florinda, tia do jovem.
Islan tinha dois empregos: durante o dia, trabalhava em um grande supermercado de São Sebastião, e à noite em uma pizzaria no Jardins Mangueiral. O restaurante pertence à família de Raimundo Cleofás. Assim como Islan, o empresário é morador da região administrativa.
Inquéritos policiais
Segundo o delegado João de Ataliba Neto, foram instaurados dois inquéritos policiais, o primeiro relativo ao flagrante do motorista, Raimundo Cleofás, 41, preso pelos crimes de tentativa de homicídio contra um policial militar e por embriaguez ao volante; e o segundo para apurar as circunstâncias da morte do passageiro Islan da Cruz Nogueira, 24, causada pelo Estado.
Oito policiais militares envolvidos na morte de Islan foram afastados das funções. Chefe do Comando de Policiamento de Trânsito (CPTran) da PMDF, o coronel Edvã Sousa afirma que a medida faz parte do rito processual da investigação.
Os militares vão passar por avaliação psicológica dentro da corporação, e os exames dirão se eles têm condições de voltar às ruas.