“Não notei perturbação mental”, diz juiz ao manter pai preso
Tribunal do Júri de Brasília converteu em preventiva a prisão de Paulo Roberto de Caldas Osório. Ele confessou ter matado o filho
atualizado
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O Tribunal do Júri de Brasília converteu em preventiva a prisão de Paulo Roberto de Caldas Osório (foto em destaque) , 45 anos. O agente de estação do Metrô-DF foi preso em flagrante, no último domingo (01/12/2019), na Bahia, após confessar ter assassinado o próprio filho de apenas 1 ano e 11 meses. O acusado passou por audiência de custódia nesta quarta-feira (04/12/2019).
Na decisão, o juiz Fellipe Figueiredo de Carvalho afirma que o crime do qual Paulo é acusado é “extremamente grave”. “Cuida-se de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, que o autuado teria cometido contra o próprio filho, criança de 1 ano e 11 meses de idade”, explica.
Ainda na sentença, o magistrado ressalta a crueldade do crime e relembra que o homem já havia sido condenado por assassinar a própria mãe. “Tudo isso demonstra frieza, ousadia ímpar e extrema periculosidade, bem como a necessidade da constrição cautelar para garantia da ordem pública, não sendo suficientes a concessão de liberdade provisória ou a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão”.
Para converter a prisão temporária em preventiva, Carvalho ainda destaca não ter notado “qualquer tipo de perturbação mental” no autor. “Consciente, localizado no tempo e no espaço, com raciocínio concatenado e fala fluída e harmônica”, descreveu o juiz.
“Susto”
Ao desembarcar em Brasília escoltado por policiais, o agente de estação do Metrô-DF deu detalhes de como matou o próprio filho, Bernardo, de apenas 1 ano e 11 meses. Demonstrando raiva e frieza, relatou que deu medicamentos controlados para a criança e jogou o corpo às margens da BR-020, a 100 km de Brasília. “Agora é só um corpo. O joguei no mato e saí”, afirmou, em depoimento.
Segundo ele, a intenção era dar um “susto” na mãe da criança, com quem teve um relacionamento, segundo a PCDF, e na ex-sogra. “É uma pessoa que não tem emoção. Se refere ao filho sempre como o ‘menino’. Disse que, após dar o medicamento, o garoto ficou ‘molinho’ e, ao constatar a morte, jogou o corpo em uma região de mato alto próximo à rodovia”, detalhou o delegado-chefe da Divisão de Repressão a Sequestro (DRS), Leandro Ritt.
A polícia não tem dúvidas de que o crime foi planejado por vingança e acredita que a criança morreu na casa do pai, na Asa Sul. Paulo disse que deu três comprimidos para a criança dissolvidos no suco de uva. A bebida foi dada ao filho após a saída da escola, na Asa Sul, na sexta-feira (29/11/2019). O objetivo era que ele dormisse durante o trajeto até Minas Gerais. A criança, porém, teria passado mal, vomitado e, depois, morrido.
“Fizemos buscas na residência (na 712) e encontramos uma caixa de remédios, copo de água infantil e muitos resquícios de vômito. O material foi encaminhado à perícia”, explicou o delegado.
Paulo sempre tinha o costume de pegar o filho na creche e depois devolvia à noite à mãe, no Lago Sul. “Ele afirmou que sempre teve vontade de pegar o filho e sumir, só não fez antes pois estava trabalhando e não tinha dinheiro. Atualmente, ele estava licença psiquiátrica com afastamento de 60 dias do trabalho”, completou.
Buscas
A polícia ainda procura o corpo de Bernardo. Equipes de agentes e o helicópteros a corporação fazem varredura na região apontada por Paulo Osório. Em depoimento, ele disse que estava à noite e chovendo muito quando abandonou o corpo do filho, próximo a Roda Velho (BA). Além do cadáver, ele arremessou a cadeirinha que estava fixada em seu veículo.
Preso em Alagoinhas, na Bahia, Paulo foi autuado por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Se condenado, pode pegar pena 30 anos de reclusão. Para a polícia, Paulo não tem interesse na localização do corpo pois indica que quer dar um “sofrimento permanente” à família do garoto. Além de Bernardo, ele tem outros dois filhos. No entanto, ao prestar depoimento à polícia, não lembrou os nomes dos garotos. Disse que não mantém contato com eles.
Ainda de acordo com a versão dele, a intenção era ir para Minas visitar a mãe dos dois outros filhos. No entanto, não soube afirmar o endereço e não levava bagagem. Foi preso apenas portando uma considerável quantia em dinheiro.
Sequestro
Após o sequestro de Bernardo, Paulo mandou mensagem para a mãe do menino em que faz ameaça. “Vocês nunca mais vão ver o Bernardo. Falei desde o início para você que aprontasse na minha vida, sua mãe não ia te proteger. Nem você nem sua mãe servem de nada.”
Conforme o Metrópoles revelou, o homem também foi preso e internado na ala psiquiátrica da Papuda — onde ficou por 10 anos — suspeito de assassinar a própria mãe. O crime ocorreu em 12 de março de 1992, na 712 Sul. Na ocasião, Paulo tinha 18 anos e atacou Neuza, assim que ela chegava de uma caminhada no Parque da Cidade.
Ele pensou se tratar de um ladrão e a matou a facadas, mesmo ela dizendo: “Filho, não faz isso. Eu sou sua mãe”. Logo depois, Paulinho, como era tratado na ocasião, usou uma corda para enforcar a vítima e colocou fogo no corpo de Neuza. Tentou apagar, mas já era tarde demais.
Depois, Paulo saiu de casa e quem encontrou o corpo de Neuza foi o marido da vítima, também chamado Paulo, que morreu em fevereiro deste ano de falência múltipla dos órgãos. O acusado pelo crime é funcionário concursado do Metrô e está afastado por problemas psicológicos. A Companhia do Metropolitano disse que não vai se manifestar, uma vez que os fatos não estão relacionados à empresa.
Segundo a polícia, a família de Tatiana da Silva, 30, mãe de Bernardo, não tinha conhecimento de que o homem matou a própria mãe. Ao Metrópoles, nesta quarta, ela resumiu o sentimento que consome seu peito. “É uma dor que faz o peito, a barriga e as costas doerem. Não passa. Só alivia quando eu choro. Não quero ver e nem falar com ele. Fez isso por causa de dinheiro, porque pedi pensão. É vingança”, destacou.