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“Não gosto de viado”, disse bombeiro antes de atirar em maquiadora

Em denúncia apresentada à Justiça, o MPGO detalha os acontecimentos da noite em que a maquiadora do DF foi baleada por bombeiro do DF

atualizado

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Imagem colorida de um homem com pele clara e terno e gravata
1 de 1 Imagem colorida de um homem com pele clara e terno e gravata - Foto: Reprodução

O bombeiro do Distrito Federal Andrey Suanno Butkewitsch (foto em destaque), 40 anos, teria começado uma briga com outro homem momentos antes de balear a maquiadora Jully da Gama Carvalho, 30. O caso ocorreu em Alto Paraíso, cidade da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, em janeiro deste ano. Segundo a denúncia do Ministério Público de GO (MPGO), Andrey teria dito ao um dos homens que estaria com Jully, que “não gosta de viado”. A provocação teria sido o estopim para uma sequência de fatos, que acabou com a mulher baleada.

De acordo com a denúncia do MPGO, a confusão começou quando Andrey foi ao caixa do bar para pagar o que havia consumido. O documento detalha que o bombeiro, Jully e o amigo se encontraram na hora de acertar a conta.

Andrey teria começado a olhar o celular de Jully e foi confrontado pelo amigo, que perguntou o motivo do militar estar olhando o aparelho da amiga.

“[…] questionou o motivo pelo qual Andrey estava praticando aquela ação, tendo ele afirmado: ‘Não gosto de viado’-sic”.

O homem se virou para sair do local, mas Andrey teria o empurrado. Neste momento, os dois começaram a se agredir, ações que foram gravadas pelas câmeras de segurança do bar.

Tiros

Após um tempo, os dois homens foram separados e a briga cessou. Jully, a maquiadora, seguiu para o carro com o marido e o amigo – o veículo estava estacionado ao lado do carro de Andrey. O bombeiro também se dirigiu para o estacionamento.

No carro, ele pegou a arma e disparou contra o carro e acertou Jully.

“Naquele momento, as vítimas já estavam no interior do veículo, saindo do local. Em razão disso, Andrey, agindo com dolo de matar, posicionou o armamento na direção do veículo dos ofendidos e efetuou, no mínimo, 4 disparos, sendo que um deles atravessou o vidro traseiro do automóvel e acertou a região da nuca de Jully”, detalhou o MP na denúncia.

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Jully é maquiadora e empreendedora
Maquiadora precisou ser internada
Família da maquiadora diz que toda e qualquer oração é bem-vinda
Vidro traseiro do veículo ficou com marca de bala e quebrado
Carro onde Jully da Gama Carvalho, 30 anos, estava quando foi baleada
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Vítima foi baleada por bombeiro militar do Distrito Federal em bar de Alto Paraíso (GO)

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Jully é maquiadora e empreendedora

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Maquiadora precisou ser internada

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Família da maquiadora diz que toda e qualquer oração é bem-vinda

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Vidro traseiro do veículo ficou com marca de bala e quebrado

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Carro onde Jully da Gama Carvalho, 30 anos, estava quando foi baleada

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Jully da Gama Carvalho estava sentada no banco do carona do veículo

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Andrey Suanno Butkewitsch

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Acordo

O Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) aceitou a denúncia do MPGO nessa quarta-feira (6/3). A magistrada também defere o pedido do Ministério Público para homologar Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) de Sandro Fleury Batista, amigo de Andrey. Sandro é acusado apenas de segurar a arma utilizada pelo bombeiro.

“Da análise do ANPP, verifico que [o crime] tem pena mínima inferior a 4 anos. Além disso, trata-se de infração cometida sem violência ou grave ameaça à pessoa. Ademais, verifico que o investigado confessou espontânea e circunstancialmente a prática do delito, conforme exige a sistemática legal. Ademais, em se tratando de investigado primário e de bons antecedentes, não incide, no caso, quaisquer das vedações constantes no §2º, do art. 28-A, §2° do CPP”, pontuou a juíza.

Sandro, segundo o documento, terá de pagar R$ 15 mil ao Conselho Comunitário de Alto Paraíso de Goiás e teve de comprometer-se a comunicar ao Juízo competente acerca de eventual mudança de endereço ou número de telefone.

Exoneração

Quando atirou na maquiadora, Andrey estava lotado na Presidência da República e também fazia parte do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).. Segundo consta no Portal da Transparência, o militar atuava desde 2019 no órgão do governo federal responsável pela segurança do presidente da República.

A Corregedoria do CBMDF informou, em nota, que apura o “suposto envolvimento de um militar da corporação”.

“Informamos que os fatos estão sendo apurados e, se confirmada autoria e materialidade, a Corregedoria irá adotar as providências internas que o caso requer. Reiteramos ainda que o CBMDF não compactua com condutas delituosas de qualquer natureza e primamos pela conduta ilibada e exemplar da tropa, que são pautadas pelos regulamentos e pilares que norteiam a Corporação”, disse o CBMDF.

Após o crime, Butkewitsch foi exonerado do GSI. Ele continua preso no Presídio Militar de Goiânia (GO).

O crime

O marido de Jully, Jairo Soares, deu entrevista ao Metrópoles. Ele detalhou os momentos que antecederam o crime e como tudo aconteceu.

Ouça o depoimento inédito:

 

Após saírem do bar, quando chegaram ao local em que estavam hospedados, Jairo carregou Jully nos braços até o sofá. “Pensei que estava tendo uma crise, estivesse em choque. Eu ficava repetido ‘calma, amor'”, detalhou Jairo.

Ao mesmo instante, o irmão percebeu que estava com a perna ensanguentada, mas não tinha sido atingido. Ele estava no banco de passageiro, atrás de Jully.

“Eu olhei a cabeça dela que estava no meu ombro e vi que estava aberta. Ali foi uma sequência de gritos, socorro e clamor para Deus”, comentou. “Colocamos de volta no carro, meu irmão dirigindo [a caminho do hospital] e eu com ela, fui percebendo que ela foi perdendo a pulsação”.

Do hospital de Cavalcante, ela foi encaminhada ao Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), onde fez a primeira cirurgia para remover fragmentos de estilhaços que ficaram alojados no cérebro.

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“Ela teve perda de função motora do lado direito, perda de olfato, de paladar; a visão dela também ficou turva e apresenta crises de esquecimento, especialmente da memória recente”, disse.

Após a cirurgia, Jully demorou três dias para voltar a falar e, quando conseguia, só dizia cerca de duas palavras e já sentia dor. “Uma noite que nunca vou esquecer e é algo que não desejo nem para o próprio Andrey: ver a pessoa que você ama gritando no hospital que tem algo rasgando o cérebro”.

Família dilacerada 

A violência causada por Andrey dilacerou uma família. Apegados ao que poderia ter acontecido, cada um presente naquela noite pensa em uma teoria para mudar o triste desfecho da noite. “Eu penso que se não tivesse caído na provocação do bombeiro, que se tivesse saído mais rápido, podia ser diferente”, contou Jairo.

O irmão dele pensa que se tivesse ficado em pé poderia ter recebido o tiro no lugar de Jully. A cunhada lamenta que deu a ideia de ir para a Chapada. “Além dela, os meus filhos, meus irmãos, minhas cunhadas, minha mãe e minha sogra também estão extremamente abalados”, relatou.

“Meus filhos mesmo só ficaram sabendo depois. Eu precisei ter coragem para contar, porque, até então, só sabiam que ‘mamãe’ estava no hospital. Meu irmão que estava no carro tem crise de pânico, não consegue ouvir um escapamento de moto que tem um surto”.

Perda de emprego

O crime por si só já seria uma tragédia, mas dois dias após a violência sofrida, a família de Jully teve que lidar com outro baque. Jairo foi demitido do emprego de corretor de seguros. Ele era contratado como Microeemprendedor Individual (MEI) e, com a demissão, não teve direito a FGTS, férias nem mesmo o aviso prévio.

“É algo que não desejo nem mesmo para esse covarde que atirou nela: ver a pessoa que você ama todos os dias com dor e não saber o que colocar no prato dos seus filhos”, declarou Jairo. O casal tem três filhos pequenos, que também tiveram a vida abalada.

A família saiu do apartamento em que moravam de aluguel para morar com parentes e tenta conseguir recursos para ajudar no tratamento da maquiadora e nos custos de vida. Até o momento, eles não receberam um centavo sequer do agressor, Andrey Suanno Butkewitsch, que está preso.

Jully está no Hospital de Base se recuperando da segunda cirurgia e deve ser encaminhada para o Hospital de Apoio, para receber o acompanhamento de fisioterapia.

Como ajudar

A família montou uma vaquinha on-line para arrecadar os valores. A plataforma cobra uma taxa de 6,4% do total bruto arrecadado e R$ 0,50 por cada transação feita.

Desta forma, quem preferir ajudar diretamente para família pode fazer via Pix para o CPF de Jully, com a sequência 039.156.331-94.

Outro meio de ajudar é com apoio profissional de saúde, assim que Jully sair dos hospitais. “Sabemos que vai ser uma reabilitação longa”, destacou Jairo.

O marido disse, ainda, que quem não puder contribuir financeiramente pode ajudar Jully seguindo nas redes sociais. O perfil dela é jullycarvalh_ no Instagram.

“Isso vai ajudar o trabalho dela quando se recuperar e vai motivá-la a seguir com seu trabalho”, completou Jairo.

Diariamente, Jairo publica notícias sobre a saúde e a recuperação de Jully pela página nas redes sociais.

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