Naja: investigado pela PCDF, coronel da PM é cotado para comando da Rotam
Eduardo Condi é padrasto de Pedro Krambeck, acusado de tráfico de animais. Vídeos mostram ele carregando caixas com cobras contrabandeadas
atualizado
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Investigado por ocultar provas e atrapalhar investigações sobre o tráfico internacional de animais silvestres, o coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Clovis Eduardo Condi está perto de ser promovido na corporação. Ele é cotado para assumir o comando do Batalhão de Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas (Rotam). Atualmente, Condi está lotado no Batalhão de Trânsito.
Eduardo Condi é padrasto de Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkul, 22 anos, acusado de tráfico de animais e que entrou na mira da Polícia Civil após ser picado por uma cobra da espécie Naja. O jovem é apontado como proprietário do animal de origem asiática e de outras dezenas de serpentes contrabandeadas.
O Metrópoles teve acesso, com exclusividade, a um documento que mostra o nome do oficial como o novo responsável pela Rotam. O escolhido para o cargo terá a promoção oficializada em 15 dias.
Condi foi um dos alvos da segunda fase da Operação Snake, deflagrada pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama) em 16 de julho. A ação investiga o tráfico de animais na capital do país.
Embora o militar tenha negado que tivesse conhecimento das serpentes, há elementos que o ligam aos crimes. Os investigadores tiveram acesso a imagens do elevador do condomínio residencial da família e da casa de Gabriel Ribeiro, o amigo de Pedro que também foi preso.
As gravações mostram o coronel da PM ajudando a esconder as cobras clandestinas. Condi, acompanhado pelo filho menor, retirou as serpentes do interior da residência da família e mandou, com a esposa, Rose Meire, que Gabriel “desse sumiço” nos animais, que foram localizados em um haras de Planaltina. Gabriel contou com o auxílio de uma mulher.
Eduardo é irmão do subcomandante-geral da corporação, Claudio Fernando Condi. A mãe de Pedro, Rose Meire, também é investigada no âmbito da Operação Snake. Acionada, a polícia disse que as “investigações da PCDF não estão no rol das atribuições institucionais da PMDF”.
Batalhão Ambiental
Imagens do circuito de segurança do Shopping Píer 21 obtidas pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama) colocam policiais do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) da PMDF na investigação envolvendo-os em ocultação de provas e tráfico internacional de animais. Relatórios que fazem parte do inquérito, obtidos com exclusividade pelo Metrópoles, levantam a suspeita de que eles tenham agido para, supostamente, proteger os alvos da Operação Snake e atrapalhar o trabalho da PCDF.
Segundo os documentos, as gravações mostram o momento em que o estudante de medicina veterinária Gabriel Ribeiro, 24 anos, amigo de Pedro Henrique, deixa a cobra Naja no estacionamento do estabelecimento comercial. Em menos de um minuto, uma equipe da PM aparece no local e recolhe o animal.
No dia seguinte à apreensão da cobra, os policiais militares retornaram à 14ª DP com mais 16 serpentes. Todos os animais pertencem a Pedro Henrique e não tinham documentação. Estavam escondidos dentro de uma baia de cavalo em um haras do núcleo rural Taquara, em Planaltina.
“Mais uma vez, a PMDF apresentou os animais arrecadados sem conduzir ninguém a delegacia. Sendo que, coincidentemente, após poucos instantes, compareceu a esta circunscricional ‘espontaneamente’ o filho do dono do haras e também amigo de Pedro Henrique e Gabriel Ribeiro”, diz o inquérito conduzido pela Polícia Civil. O rapaz foi ouvido e confirmou ter permitido que Gabriel escondesse as serpentes de Pedro no local.
Segundo o depoimento dos policiais militares que apreenderam os animais, a empreitada ocorreu após a equipe receber denúncia anônima. Os PMs narram que receberam um ponto de referência e acabaram encontrando um haras. No imóvel, foram recebidos por um capataz, que indicou o local onde estavam as cobras. Os militares alegaram que não foi preciso conduzir a testemunha até a delegacia “pelo fato de residir ricamente naquele local”.
“Diante desse cenário, percebe-se que, desde o início da investigação, a autoridade policial responsável pela apuração vem encontrando severas dificuldades no tocante à obtenção de provas, o que decorre, lamentavelmente, da conduta praticada por policiais militares, especialmente o padrasto de Pedro, coronel Clovis Condi, e os policiais lotados no BPMA/PMDF comandado pelo major Elias Costa”, diz um dos trechos dos relatórios.
A conduta dos militares é investigada pela Corregedoria da PMDF e pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).