“Nada justifica a morte dela”, desabafa sobrinho de Noélia
Marcus de Oliveira rebate comentários machistas após prisão de vizinho suspeito, que, segundo a polícia, se relacionava com a vítima
atualizado
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A família de Noélia Rodrigues de Oliveira, 38 anos, acredita que o operador de máquinas Almir Evaristo Ribeiro, 43, tenha planejado o assassinato da comerciária. Sobrinho da vítima, Marcus Aurélio Silva de Oliveira (foto em destaque), 27, crê que o vizinho foi buscá-la no dia do crime com a intenção de matá-la.
“Temos a certeza que ele saiu brutalmente preparado para ceifar a vida dela”, ressaltou Marcus, um dia após a prisão de Almir. O sobrinho também rebateu comentários de pessoas nas redes sociais que criticam o fato de Noélia ter supostamente se relacionado com o suspeito, mesmo sendo casada. “Desonram a imagem da minha tia. Ela faleceu, não tem mais poder de voz. Então, pedimos para que pelo menos respeitem a memória dela”, desabafou.
O sobrinho de Noélia ressalta que “nada justifica” a morte de sua tia. “Foi um crime banal. Os comentários machistas a respeito da vida íntima dela, o que tinha o que não tinha. O que sei é que ela foi calada da forma mais cruel que a gente não poderia esperar”, lamentou.
Antes de se mudar para o Sol Nascente, em Ceilândia, Noélia morou na QNO 15 da mesma região administrativa. Lá, teria conhecido Almir. Ele está preso temporariamente. Não confessou o crime, mas a polícia tem convicção de que ele levou a vítima do Setor Hoteleiro Norte na noite de quinta-feira (17/10/2019) e a matou com um tiro à queima-roupa. O corpo da vendedora, que trabalhava em uma loja no Brasília Shopping, foi encontrado no dia seguinte, no Assentamento 26 de Setembro, em Vicente Pires.
De acordo com vizinhos da QNO 15, Noélia tinha uma rotina normal, voltada para o marido e para os filhos. Eles afirmam que nunca viram o suspeito pela região. De acordo com Antônio José Nunes, 56, o desfecho do caso chocou a todos. “Ela era conterrânea minha, também vim do Ceará para cá. Era muito gente boa, alegre com todo mundo”, comentou.
Outra vizinha, que compareceu à missa do sétimo dia de Noélia, disse que a vítima era uma pessoa muito batalhadora. “Fiquei chocada. Ela ajudava todo mundo”, afirmou. Após a prisão de Almir, a PCDF busca descortinar detalhes da bárbara execução, como saber se a vítima foi assassinada ainda dentro do carro, e procurar a arma usada pelo suspeito. Já se sabe que o veículo foi lavado após o crime.
Ao Metrópoles, a delegada Adriana Romana, responsável pelo caso, informou que mesmo que Almir não tenha confessado o crime, ele será indiciado devido às provas reunidas. “Independentemente de confessar ou não, se temos a informação de que ele realmente é o autor, será preso preventivamente”, disse a chefe da 38ª Delegacia de Polícia (Vicente Pires).
Quando interrogado sobre o assassinato, Almir negou e ainda não confirmou se, de fato, mantinha relacionamento com a vítima. Nos próximos dias, porém, ele pode ser ouvido novamente.
Segundo Adriana Romana, os investigadores ainda aguardam alguns laudos para solicitar à Justiça a prisão preventiva de Almir. “Se a gente não concluir o inquérito dentro do prazo, vamos ver os próximos passos. Pode haver uma prorrogação dessa prisão (temporária) ou podemos fechar com as provas, encerrar o inquérito e pedir a prisão preventiva dele”, explicou.
Confira os últimos momentos de Noélia com vida no Setor Hoteleiro Norte:
Um GM Cruze prata usado pelo suposto autor acabou apreendido para perícia do Instituto de Criminalística (IC). Um outro carro, o do filho de Almir, também foi levado para análise da PCDF. Ambos os automóveis estão registrados no nome da esposa do suspeito.
Além dos laudos da perícia que ainda será realizada nos veículos, a polícia espera por resultados das análises que descrevam a dinâmica do crime. “Dependemos das provas da perícia ficarem prontas. Ainda faltam muitas coisas para mandar ao Instituto de Criminalística. Então, é um caso complexo e estamos tomando todos os cuidados para termos os elementos que precisamos antes de encerrar o inquérito.”
Provas importantes ainda precisam ser reunidas pelos investigadores, como a arma utilizada no crime, o celular e a bolsa de Noélia. Os objetos foram procurados na casa do suposto assassino, mas não foram localizados.
Caso alguém tenha informações sobre os bens da vítima, a delegada pede para que entre em contato com a PCDF pelo número 197, ou procure o plantão da 38ª DP. A identidade do denunciante será mantida no mais absoluto sigilo.
Ligações telefônicas
De acordo com a investigadora, vítima e criminoso se conheciam: “A gente conseguiu identificar que ela e o autor tinham um relacionamento extraconjugal e mantinham contatos diários e frequentes há quatro meses. Ele buscou Noélia na via do Eixo Monumental, próximo ao Brasília Shopping, e depois seguiu para o assentamento. Ainda não soubemos se ela foi morta no veículo”, explicou a delegada.
“Tivemos acesso aos extratos das ligações telefônicas dela. Nesses documentos, tinham ligações entre ela e o autor por quatro meses”, pontuou a investigadora. “Eram ligações que duravam mais de uma hora”, completou. Ainda de acordo com a delegada, a mulher do suspeito, após muita insistência, acabou admitindo que desconfiava da relação entre o marido e a vítima.
Outra linha de apuração que reforçou o nome de Almir Evaristo como assassino da vendedora foi o fato de os investigadores terem refeito o caminho percorrido por Noélia. “A gente conseguiu refazer todo o trajeto dela. Ela vai pelo Setor Hoteleiro e para em um arbusto. Essa foi a última imagem que conseguimos dela, bem próximo à parada”.