Na pandemia, 24 mil empregadas domésticas perderam o emprego no DF
Retornando aos poucos aos postos de trabalho, as profissionais, agora, temem ser infectadas com o novo coronavírus
atualizado
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A diarista Daniela Oliveira, 39 anos, sustenta a família fazendo faxina em casas do Distrito Federal há cinco anos. Após o início da pandemia do novo coronavírus, porém, a profissional perdeu todos os clientes que tinha. Agora, ela começa a recuperar oportunidades de trabalho pouco a pouco, mas já não tem o mesmo retorno financeiro que antes.
Assim como Daniela, trabalhadores domésticos em toda a capital foram diretamente impactados pela crise econômica provocada pelo avanço da Covid-19. Segundo dados reunidos pelo Instituto Doméstica Legal, o DF fechou 2019 com 115 mil domésticas em atuação. Em junho deste ano, 91 mil estavam trabalhando.
Isso significa que o DF perdeu 24 mil postos de trabalho da categoria no primeiro semestre deste ano, entre empregados domésticos formais, informais, uma queda de 20,8%. O estudo feito pela entidade tem base na PNAD Contínua do 4º Trimestre de 2019 e na PNAD Covid do mês de junho de 2020, feitas pelo IBGE.
Mulheres são maioria
De acordo com Mário Avelino, presidente do Doméstica Legal, em média, 90% dos trabalhadores domésticos no DF são mulheres. “E em muitos casos essa mulher é a provedora do lar. Se ela perde a renda, como vai sustentar aquela família?”, ressalta.
Segundo acredita Avelino, com a flexibilização do isolamento no DF, o retorno aos postos de trabalho tende a melhorar neste segundo semestre do ano. No entanto, os trabalhadores da categoria agora lidam com maiores riscos de contrair a Covid-19.
“As pessoas estão voltando a trabalhar e precisam que os domésticos retornem para as suas casas. Então, fizemos uma cartilha com medidas preventivas a serem adotadas pelo empregador e pelo trabalhador nessa volta”, conta.
A cartilha feita pelo instituto foi lançada em de julho e está disponível no site do Doméstica Legal. “O trabalhador muitas vezes fica exposto no transporte coletivo, por exemplo. Nela, orientamos tanto empregador como trabalhador sobre quais equipamentos e as formas de reforçar essa segurança”, explica.
Instabilidade financeira
Daniela Oliveira trabalhava seis dias por semana antes da pandemia. Em abril, ela passou a fazer faxina apenas um dia por semana. “Só em julho que eu comecei a recuperar a frequência que tinha. Atualmente, atendo quatro vezes por semana, em média”, diz.
“Quando começou pandemia, todos os meus clientes desmarcaram comigo. Então, procurei novos, porque tenho duas filhas, pago aluguel e temos que comer, pagar as contas”, enfatiza.
Além da falta de estabilidade financeira, Daniela vive um drama diário por temer contrair coronavírus no trabalho. “Não tenho carteira assinada, nem FGTS, nem férias. Para atender muitos clientes, eu tenho que usar ônibus e metrô e corro riscos todos os dias.”
“Teve uma casa que atendi em que os moradores estavam doentes. Só depois de 20 dias que fui lá me falaram que estavam com Covid-19. Nem sei se peguei ou não. Eu vou trabalhar de máscara, tenho meus cuidados, até porque tenho filhas pequenas, mas muitos clientes não têm”, destaca.
Riscos na pandemia
Conforme reforça Samara Nunes, diretora do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do DF, as dificuldades para profissionais da categoria não são apenas econômicas. “Eles também temem pelas suas vidas agora.”
“Por isso, orientamos que os empregadores ofereçam os equipamentos necessários para que elas trabalhem com segurança”, afirma.
Assim como Daniela, a empregada doméstica Francilene Grande da Silva (foto em destaque), 50, tem tomado todos os cuidados para se prevenir do coronavírus no trabalho. A profissional mora em Girassol, distrito do município de Cocalzinho de Goiás (GO), e usava ônibus seis dias por semana para se deslocar até a residência em que trabalha, no Guará. Agora, ela precisa dormir no trabalho para não ter que usar transporte público como antes.
“Desde março, eu só trabalho terça, quarta e quinta. Tenho muita sorte que meu patrão vai me buscar em casa e me deixa, para eu não usar ônibus. Então, acabo não precisando dormir no serviço”, relata.
Portadora de diabetes e hipertensão, Francilene passa os dias usando máscara enquanto está na residência em que trabalha. “Troco a cada quatro horas e só tiro quando vou dormir, no meu quarto. Mas fico com medo mesmo assim, porque sou do grupo de risco”, diz.
Para a sua proteção e a dos familiares, há seis meses ela não vê o pai e, há cinco, não vê o filho. “Tenho sorte de estar trabalhando agora, mas é difícil não poder vê-los e ainda ter que lidar com esse medo de contrair o vírus”, desabafa.