VoePass: operários flagraram queda de avião em “parafuso-chato”. Vídeo
Segundo especialistas, a queda em “parafuso-chato” é considerada irreversível para um piloto. As 61 pessoas que estavam na aeronave morreram
atualizado
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Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra o momento exato em que trabalhadores flagram o avião da companhia aérea VoePass, antiga Passaredo, entrando em “parafuso-chato” antes de cair em uma área residencial, na tarde da última sexta-feira (9/8), em Vinhedo, no interior de São Paulo.
No avião, havia 57 passageiros e 4 tripulantes. As 61 pessoas que estavam na aeronave morreram.
As imagens, registradas por operários que estavam próximos ao local da tragédia, mostram o avião em uma manobra descontrolada pouco antes do impacto fatal, também conhecida como “parafuso-chato”.
A aeronave saía de Cascavel, no Paraná, às 11h58, e tinha como destino o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
No vídeo, é possível ouvir a voz trêmula do cinegrafista. “Meu Deus. Nosso Deus”, comentou. Em seguida, os operários, visivelmente abalados, saem correndo em direção ao local do impacto, ansiosos por respostas. “Onde caiu?” pergunta um deles.
Veja:
Manobra irreversível
Em entrevista concedida ao Metrópoles, o especialista em aeronaves Raul Marinho afirma que a queda em “parafuso-chato” é considerada irreversível para um piloto.
“É uma das situações piores que um piloto pode enfrentar. Porque o parafuso chato é impossível de ser revertido, como foi nesse caso.”
Gelo
Para o especialista, a hipótese mais plausível é que tenha havido formação de gelo nas asas do avião. Segundo Marinho, isso faz com que a máquina perca sustentação.
O especialista ressalva, no entanto, que o modelo da aeronave possui dispositivos para enfrentar situações em que há formação de gelo na atmosfera, e que, além disto, os pilotos são treinados para estas situações.
A formação de gelo nas asas faz com que a curvatura delas sejam alteradas, e que o avião perca sustentação, o que é chamado tecnicamente de “stol”, como explica Marinho. “Ele deixa de ser um avião e se torna um pedaço metálico”, descreve.
A formação de gelo nas asas acontece, como explicou Marinho, quando a aeronave entra em contato com água na atmosfera a temperaturas muito baixas, abaixo de zero, inclusive. “Se foi o gelo, a gente não sabe porque não foi contornada (a situação). Só a investigação vai revelar”, frisou.
O especialista afirmou que os aviões modelo ATR-72, como o que caiu, possuem uma espécie de resistência, semelhante à dos chuveiros elétricos, com o intuito de proteger as asas da formação de gelo. Outro sistema que o modelo tem, descreve Marinho, é um dispositivo pneumático que infla e desfaz o gelo.
Altitude
O modelo ATR-72 voa em altitudes de 20 mil pés a 25 mil pés, mais baixas que as dos aviões a jato (32 mil pés a 40 mil pés). Mais baixo, a probabilidade de enfrentar as condições meteorológicas ligadas à formação de gelo são mais comuns. Por este motivo, o avião possui os dispositivos de segurança citados acima e que os pilotos são treinados para lidar com as condições.
“É um avião extremamente seguro. Ele é certificado por autoridades da União Europeia, Estados Unidos e Brasil”, frisou.
Por fim, Marinho destacou outras hipóteses para a queda como o desbalanceamento do avião (distribuição de carga) e falha de motores. Apesar disto, ele mesmo lembrou que imagens revelam que os motores funcionavam no momento da queda.
“Existem diversos acidentes em que a possibilidade mais plausível não se confirma. Depois da investigação, chega à conclusão de que foi outra coisa que causou”, disse. As investigações serão conduzidas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).