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Quem é o pastor golpista que criou seita e tirou dinheiro de fiéis

Há pelo menos nove anos, o pastor viaja país afora e, com a ajuda de arregimentadores, capta novos investidores

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Pastor Osório
1 de 1 Pastor Osório - Foto: Divulgação

Foragido por aplicar golpe milionário em mais de 50 mil vítimas no Brasil e no exterior, o pastor Osório José Lopes Júnior (foto em destaque) responde a uma série de processos de estelionato. Carismático, com oratória afiada e abusando de passagens bíblicas para reforçar um discurso de fé, o pastor ganhou fama e dinheiro nos últimos anos.

De acordo com vítimas que viram suas economias descerem ralo abaixo após falsas promessas de rentabilidade, o pastor moraria em uma confortável casa em um dos condomínios fechados de Alphaville, em São Paulo.

Há pelo menos nove anos, o pastor viaja país afora e, com a ajuda de arregimentadores, capta novos investidores interessados em receber até 100 vezes o valor aportado assim que os títulos estiverem prontos para ser resgatados.

Em sua maioria, os compradores são fiéis de igrejas evangélicas, além de parentes e amigos próximos ao pastor. Em apenas um dos grupos criados no Telegram, há cerca de 8 mil “clientes”.

A coluna conversou com uma das vítimas que caiu no conto do religioso. Morador de um estado do Nordeste, o homem de 38 anos contou que conheceu o negócio oferecido pelo religioso por meio de um amigo.

“Ele botou R$ 80 mil acreditando que receberia entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão. Eu investi pouco, cerca de R$ 1 mil. A transferência foi por pix, direto para a conta do pastor”, disse.

Processos

Em março de 2022 a Justiça de Goiás negou pedido de prisão preventiva do pastor Osório José Lopes Júnior. Ele é réu por supostamente aplicar golpes milionários em fiéis de Goianésia, no centro de Goiás, e já foi denunciado por estelionato pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP). A decisão considerou que as acusações contra o religioso, que diz ser inocente, já são analisadas pelo Judiciário paulista.

Proferida em 28 de março de 2022, a decisão foi dada pela juíza Placidina Pires, da 1ª Vara dos Feitos Relativos a Delitos Praticados por Organização Criminosa e de Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores, da comarca de Goiânia. Uma semana antes, a Justiça de São Paulo determinou a indisponibilidade dos canais do YouTube de propriedade do pastor, que teria prometido R$ 2 quatrilhões a uma vítima.

“Embora o Ministério Público tenha trazido aos autos elementos indicativos de que Osório José Lopes Júnior teria voltado a praticar delitos semelhantes àqueles apurados na presente ação penal, percebo que os fatos agora noticiados teriam ocorrido em São Paulo e, consoante se infere, já estão sendo objeto de apuração em procedimento criminal específico que tramita no Poder Judiciário daquele estado (SP)”,  escreveu a juíza, na decisão.

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Pastor Osório José Lopes é acusado de aplicar golpes em várias pessoas em Goiás e São Paulo
Religioso é réu por estelionato em Goiás
Osório também chegou a prometer para uma vítima retorno financeiro de R$ 2 quatrilhões
Apesar de se apresentar como pastor, ele não é ligado a uma igreja.
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Pastor vivia uma vida de luxo e até ia para eventos de helicóptero

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Pastor Osório José Lopes é acusado de aplicar golpes em várias pessoas em Goiás e São Paulo

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Religioso é réu por estelionato em Goiás

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Osório também chegou a prometer para uma vítima retorno financeiro de R$ 2 quatrilhões

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Apesar de se apresentar como pastor, ele não é ligado a uma igreja.

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Denúncias

O Ministério Público de Goiás (MPGO) denunciou o pastor em 12 de março de 2022, alegando que ele teria voltado a praticar crimes. No entanto, um dia antes, ele já havia sido denunciado pelo MPSP para a Justiça de São Paulo, o que foi considerado pela magistrada goiana em sua decisão.

Os crimes teriam sido praticados de novembro de 2013 a junho de 2014.

Em vídeo publicado na internet, Osório, que está em liberdade, se posicionou contra as acusações e possíveis crimes que ele chamou de “coisas erradas”, atribuindo a responsabilidade delas a terceiros. Apesar de se apresentar como pastor, ele não é ligado a uma igreja.

Veja vídeo abaixo:

R$ 2 quatrilhões

Um documento obtido pela equipe de investigação mostrou que Osório chegou a prometer retorno financeiro de R$ 2 quatrilhões para um empresário de São Paulo. A vítima disse à polícia que o valor total investido por ela na operação prometida por Osório ultrapassou R$ 300 mil, montante que teria sido depositado na conta do religioso.

O empresário contou que começou a exigir do pastor o dinheiro prometido. No entanto, depois de muita cobrança, ele relatou que conseguiu receber de volta R$ 90 mil e um carro importado. O investidor disse que buscou o veículo em um escritório do pastor e que, ao voltar para casa, sofreu um grave acidente.

Por causa das lesões, o empresário ficou seis meses sem conseguir andar. O promotor de Justiça Felipe Oltramari, do MPSP, disse ao Fantástico, da TV Globo, que o acidente ocorreu em “condições misteriosas”.

“Ele acabou sofrendo um acidente em condições misteriosas. Em condições pouco comuns. Dada a anormalidade dessa situação, tudo está a indicar que esse fato merece ser mais bem apurado”, assinalou o promotor.

Em nota, a defesa de Osório José Lopes disse à época que o carro do empresário capotou em razão do excesso de velocidade.

Falso profeta

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou, na manhã desta quarta-feira (20/9), a Operação Falso Profeta para cumprir dois mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão contra a quadrilha.

Assim como Osório, o outro procurado segue foragido. Ele não teve o nome divulgado.

A investigação aponta que os suspeitos formavam uma rede criminosa muito bem organizada, com estrutura ordenada e divisão de tarefas, especializada no cometimento de diversos crimes, como falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, e estelionatos por meio de redes sociais. As vítimas eram induzidas a investir quantias em dinheiro com a promessa de recebimento futuro de quantias milionárias.

A ação é coordenada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Dot), vinculada ao Departamento de Combate a Corrupção e ao Crime Organizado (Decor).

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Pastor Osório é considerado o líder do golpe
Falsos certificados apreendidos com investigados da Falso Profeta
Quadrilha mantinha falsos bancos digitais
Policiais civis descobriram que mais de 50 mil pessoas foram vítimas de golpe
Grupo é composto por cerca de 200 integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas
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Golpistas prometiam que, com um depósito de R$ 25, as pessoas poderiam receber de volta o valor de R$ 1 octilhão

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Pastor Osório é considerado o líder do golpe

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Falsos certificados apreendidos com investigados da Falso Profeta

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Quadrilha mantinha falsos bancos digitais

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Policiais civis descobriram que mais de 50 mil pessoas foram vítimas de golpe

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Grupo é composto por cerca de 200 integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas

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“Nesara Gesara”

Os golpistas abordavam as vítimas, em sua grande maioria evangélicas, pelas redes sociais e invocavam uma teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara” para convencê-las a investir suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias. Havia promessa de retorno financeiro imediato e rentabilidade estratosférica.

Foi detectada, por exemplo, a promessa de que com um depósito de apenas R$ 25 as pessoas poderiam receber de volta nas “operações” o valor de R$ 1 octilhão (ou 1 seguido de 27 zeros: R$ 1.000.000.000.000.000.000.000.000.000).

O golpe pode ser considerado um dos maiores já investigados no Brasil, uma vez que foram constatadas, como vítimas, pessoas de diversas camadas sociais e localizadas em quase todas as unidades da Federação, estimando-se mais de 50 mil vítimas.

De acordo com a investigação, iniciada há cerca de um ano, o grupo é composto por cerca de 200 integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas intituladas pastores, que induzem e mantêm em erro as vítimas, normalmente fiéis que frequentam suas igrejas, para acreditar no discurso de que são pessoas escolhidas por Deus para receber a “bênção”, ou seja, as quantias bilionárias.

Os investigados mantinham empresas “fantasmas” e de fachada, simulando ser instituições financeiras digitais com alto capital social declarado.

Para dar aparência de veracidade e legalidade às operações financeiras, os investigados celebravam contratos com as vítimas, ideologicamente falsos, com promessas de liberação de quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento, que estariam registrados no Banco Central do Brasil (Bacen) e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

A investigação também apontou movimentação superior a R$ 156 milhões, nos últimos cinco anos, bem como foram identificadas cerca de 40 empresas “fantasmas” e de fachada, e mais de 800 contas bancárias suspeitas.

 

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