Unidades de internação do DF têm diarreia coletiva e comida com barata
Empresa contratada pela Sejus-DF estaria falhando no fornecimento de refeições frescas. Comissão registrou queixas de internos
atualizado
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A Comissão Permanente de Fiscalização dos Contratos de Alimentação, da Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF), registrou denúncias de irregularidades na alimentação servida aos reeducandos de várias unidades de internação do Distrito Federal. Os relatos vão desde baratas encontradas no lanche da tarde até marmitas do jantar com feijão estragado e com forte cheiro de azedo.
Fotos e relatos aos quais o Metrópoles teve acesso indicam a precariedade na alimentação fornecida aos adolescentes, bem como falhas no serviço terceirizado que vem sendo prestado desde março deste ano.
Um caso de diarreia coletiva também virou motivo de denúncia na Unidade de Internação de Planaltina (UIP). Em 3 de abril último, 17 adolescentes tiveram dor de barriga após o jantar do dia anterior e precisaram ser medicados por agentes. No dia 7 de julho, 14 adolescentes da mesma unidade reclamaram que o feijão e o macarrão do jantar estavam estragados.
Em 6 de maio, na Unidade de Internação Feminina do Gama (UIFG), as internas flagraram uma barata em um pão de queijo que seria servido no lanche. Vinte dias depois, a unidade recebeu marmitas para o jantar com feijão estragado.
Temendo pela saúde das adolescentes, os servidores da UIFG não entregaram a comida e tentaram contato com a empresa fornecedora, que não ofereceu nova refeição.
Outras unidades alegam que, em diversas ocasiões, os alimentos enviados não possuem etiquetas com datas de fabricação e validade. Além disso, os atrasos seriam quase que diários, com almoços ocorrendo após as 13h e jantares sendo servidos às 23h. A manutenção da temperatura adequada das marmitas e saladas também estaria sendo feita incorretamente.
As fotos mostram ainda uma mosca em uma marmita.
Veja:
Risco de rebelião
No último mês, agentes da Unidade de Internação de São Sebastião (UISS) encontraram 28 facas artesanais, chamadas de stocks, nas dependências do local. O armamento poderia ser uma espécie de resposta dos internos às irregularidades nas refeições.
“Não podemos pensar que isso [o problema na alimentação] não seja um fator que gera um princípio de motim ou rebelião. Nós já tivemos casos no sistema socioeducativo em que os adolescentes jogavam a comida na cara dos agentes”, afirmou um servidor, que prefere não ser identificado.
Contratada há 9 meses
O contrato da Sejus com a Oliver Cozinha e Comércio de Alimentos, de 26 de março, foi firmado no valor de R$ 3,86 milhões para que a empresa atue de abril a dezembro deste ano.
A previsão era de preparo e fornecimento de refeições frescas, incluindo café da manhã, almoço, lanches, jantar, ceia e dieta especial.
Em nota à reportagem, a Sejus-DF reconheceu a possibilidade de ocorrerem “intercorrências” no fornecimento de alimentos, mas afirmou que a empresa responsável pelo serviço “sanou todas as incongruências”.
Leia a íntegra da nota da Sejus-DF:
“A Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus-DF) informa que a Comissão Permanente de Execução do contrato de alimentação acompanha, sistematicamente, o cumprimento das cláusulas contratuais. Em virtude do fornecimento de alimentos, eventualmente, podem ocorrer intercorrências apresentadas pelas unidades socioeducativas, reunidas pela presidência da Comissão e apresentadas para defesa (ampla defesa e contraditório) e posterior alinhamento, correção e saneamento pela empresa contratada. Ressalta-se que a empresa sanou todas as incongruências por meio de alinhamento de fluxo de entrega, substituição de alimentação, mudança de rota, entre outras práticas, bem como tem fornecido uma alimentação de qualidade, às unidades socioeducativas, além de sanar possíveis eventualidades.”
Dois dias após a publicação da reportagem, o empresário Tonny Alves, representante da Oliver Cozinha e Comércio de Alimentos, se manifestou negando irregularidades nas marmitas entregues. “Nossas refeições são preparadas, embaladas em plástico-filme e transportadas imediatamente, seguindo controle de qualidade e de temperatura. Nossas refeições são servidas a vários órgãos, como Corpo de Bombeiros, Penitenciária Federal em Brasília, DF Legal, entre outros, e nunca recebemos reclamações por conta da qualidade”, declarou.
A empresa admite, no entanto, que recebeu notificações da Sejus-DF quanto ao serviço prestado. “Como nós iniciamos o atendimento em abril, leva tempo até fazermos os ajustes necessários para um cliente novo. Reconhecemos que fomos notificados e ajustamos atrasos pontuais. Atualmente, no entanto, não temos nenhum problema com relação a isso.”