Torres disse a ministros que, se PT ganhasse, “todos iriam se foder”
Polícia Federal apreendeu dois HDs de computadores de Anderson Torres, durante operação na manhã desta quinta-feira (8/2)
atualizado
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Anderson Torres – ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro (PL) e alvo de busca e apreensão no âmbito da Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal (PF) na manhã desta quinta-feira (8/2) – chegou a dizer, durante reunião com outros chefes de ministérios e com o ex-presidente, que, se o Partido dos Trabalhadores (PT) vencesse as eleições de 2022, todos eles estariam “fodidos”.
Em 5 de julho de 2022, ocorreu uma reunião da alta cúpula do governo federal, segundo inquérito policial. O encontro havia sido convocado por Bolsonaro e contou com a presença de Anderson Torres; Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, então ministro da Defesa; Mário Fernandes, então chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República; e Walter Souza Braga Netto, ex-ministro-chefe da Casa Civil e candidato à Vice-Presidência da República. Todos são alvos da operação da PF.
A reunião, segundo a Polícia Federal, “também teve como finalidade cobrar dos presentes conduta ativa na promoção da ilegal desinformação e ataques à Justiça Eleitoral: promoção e a difusão, em cada uma de suas respectivas áreas, desinformações quanto à lisura do sistema de votação, utilizando a estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e desgarrados do interesse público”.
A narrativa serviu “como um dos elementos essenciais para manter mobilizadas as manifestações em frente às instalações militares, após a derrota eleitoral e, com isso, dar uma falsa percepção de apoio popular, pressionando integrantes das Forças Armadas a aderirem ao golpe de Estado em andamento”, segundo as investigações.
Na ocasião, Torres reiterou a narrativa de Bolsonaro e ressaltou a necessidade de os ministros propagarem informações notoriamente falsas quanto a fraudes e vulnerabilidades no sistema eletrônico de votação. Além disso, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública reforçou o temor quanto ao que poderia acontecer caso o PT ganhasse as eleições e fez referência à Bolívia.
De forma enfática, Torres afirmou: “Bolívia é o grande exemplo para todos nós. Senhores, todos vão se foder. Eu quero deixar bem claro isso. Porque se… Eu não estou dizendo que… Eu quero que cada um pense no que pode fazer previamente, porque todos vão se foder”.
Durante a reunião, Torres mencionou, ainda, o conteúdo inverídico divulgado em uma live presidencial, em 29 de julho de 2021, que distorceu informações, termos de declarações e dados sobre perícias feitas pela PF. O ex-ministro insinuou, também, que a Polícia Federal supostamente havia feito várias sugestões de aperfeiçoamento no sistema de votação, as quais que não teriam sido acatadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), segundo ele.
Torres chegou a fazer acusações graves, como relacionar a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) ao Partido dos Trabalhadores (PT), e afirmar que muita coisa viria à tona, inclusive com depoimentos. “Isso não é mentira. Isso não é mentira”, reforçou.
O então ministro acrescentou que atuaria de forma mais incisiva, por meio da Polícia Federal, para apurar os supostos fatos. “Mas estamos aí, presidente [Bolsonaro], desentranhando a velha relação do PT com o PCC. Isso está vindo aí através de depoimentos que estão há muito [tempo] guardados”, disse Torres.
Na manhã desta quinta-feira (8/2), a PF apreendeu dois HDs de computadores de Anderson Torres. O ex-ministro de Jair Bolsonaro foi preso preventivamente no ano passado por quatro meses, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por supostos crimes cometidos em 8 de janeiro de 2023. No dia dos atos golpistas, ele era secretário de Segurança Pública do DF. Em maio, ele foi solto, sob condição de usar tornozeleira eletrônica e cumprir medidas cautelares.
Operação
Por determinação do ministro Alexandre de Moraes, a PF cumpriu, na manhã desta quinta-feira (8/2), quatro mandados de prisão e 33 de busca e apreensão contra políticos e militares suspeitos de planejar um suposto golpe de Estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder.
Os presos são Filipe Martins, ex-assessor especial do Bolsonaro; Marcelo Câmara, coronel do Exército; Rafael Martins, major das Forças Especiais do Exército; e Bernardo Romão Corrêa Netto, também coronel do Exército.
Além disso, outros aliados de Bolsonaro foram alvo de mandados de busca e apreensão, como o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto; o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno; e os ex-ministros Walter Braga Netto (Defesa) e Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública).
A operação recebeu o nome de Tempus Veritatis, que, traduzido do latim, significa “hora da verdade”.