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Telefonistas no DF aliciam modelos para serem escravizadas na Bélgica

Líder do negócio criminoso, a cafetina nascida e criada no DF utiliza irmã e prima como telefonistas no momento de agendar os programas

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Telefonistas no DF aliciam modelos para serem escravizadas na Bélgica
1 de 1 Telefonistas no DF aliciam modelos para serem escravizadas na Bélgica - Foto: Arte/Metrópoles

atualizado

Carlos Carone, Mirelle Pinheiro

09/04/2024 5:00

Organizado, o esquema internacional de tráfico humano que liga o Distrito Federal à Bélgica conta com uma base de operações familiar, em Planaltina, região administrativa da capital da República. Cabeça do negócio criminoso, a cafetina nascida e criada no DF utiliza a irmã e a prima como telefonistas no momento de agendar os programas para as garotas traficadas até Namur, uma pequena província belga.

Especialista em aliciar mulheres em grupos de WhatsApp, a cafetina — radicada na Europa há pelo menos três anos — conta com uma base de comunicações para moderar os anúncios das garotas traficadas publicados em sites adultos no país europeu. Do outro lado da tela do computador, as duas mulheres atendem às ligações dos homens que estão na Bélgica, acertam os valores e passam o endereço de onde estão as prostitutas que aparecem nas divulgações.

Na segunda matéria da série Traficadas, a coluna destrincha como funciona a logística do tráfico de mulheres mantido pela cafetina brasiliense. O objetivo é deixar as prostitutas traficadas ainda mais vulneráveis, proibidas de acertar o valor dos cachês com clientes ou escolher o dia, a hora ou o tipo de homem a ser atendido.

Ouça relato de uma das mulheres traficadas e como funciona o trabalho das telefonistas:

Sem controle

As redes transnacionais que movimentam o tráfico de mulheres costumam usar o controle total sob a garotas de programa para mantê-las presas ao esquema e rendendo cada vez mais dinheiro. A cafetina à frente da conexão DF-Bélgica chega a prometer 4 mil euros semanais às prostitutas que aceitam embarcar no esquema, mas tudo não passa de uma farsa.

A agenciadora utiliza carteiras digitais para receber e pagar uma pequena fração dos cachês às garotas de programa. Bancos tradicionais são evitados para não deixar rastros da movimentação financeira em decorrência da cafetinagem. Cerca de 10% do valor de cada transação também é repassado às telefonistas do grupo criminoso – ela fazem todo o atendimento dos clientes antes de eles chegarem até o local em que estão as prostitutas.

No entanto, o trabalho de seleção e checagem das telefonistas não é feito, segundo uma das mulheres que foi traficada, até Namur. “Essas telefonistas, geralmente, devem colher os dados dos clientes, principalmente para evitar que ocorram roubos, estupros e garantir a integridade das garotas, mas isso não acontece”, contou uma das vítimas do esquema.

Sonho europeu

Diversos grupos de WhatsApp compostos por cafetões, operadores de agências especializadas no tráfico de mulheres e centenas de garotas de programas publicam diariamente anúncios atrativos com “oportunidades de viagens” com altos ganhos em euros. Algumas das publicações chegam a oferecer até três mil euros diários.

Veja prints com as “ofertas” de viagens:

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São viagens para Itália, Grécia e até Emirados Árabes com passagens, hospedagem e dinheiro para compras supostamente oferecidos pelas agência. O detalhe é que todos os valores precisam ser devolvidos na forma de programas feitos com os clientes.

Em alguns casos, são cobrados juros astronômicos, em que as garotas de programa jamais conseguem quitar e acabam tornando-se reféns do esquema que explora a prostituição internacional.

Leia nesta quarta-feira

Em sua terceira reportagem, a série Traficadas irá detalhar e expor em imagens os roubos, as agressões e os estupros ao redor do planeta que ocorrem com as garotas de programa que estão nas mãos de grupos especializados no tráfico internacional de mulheres.

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