Sertanejo é investigado por lucrar milhões com grilagem e estelionato
O suspeito atua, principalmente, na venda de terrenos no Riacho Fundo 2 e na Ponte Alta do Gama. Há investigações policiais contra ele
atualizado
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O cantor sertanejo Rogério Spindola Mariz, 49 anos, entrou na mira da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por envolvimento com grilagem de terras e estelionato. A coluna apurou que o artista coleciona ocorrências e processos judiciais.
O suspeito atua, principalmente, na venda de terrenos no Riacho Fundo 2 e na Ponte Alta do Gama. Com golpes registrados desde 2015, o sertanejo lucra milhões com a venda de terrenos irregulares a mais de uma pessoa. Atuante no cenário musical, o criminoso chegou a formar dupla com um primo do cantor Leonardo.
Neste ano, um morador de Águas Claras denunciou o artista à PCDF. O homem alegou que comprou um terreno no Setor Catetinho, no Riacho Fundo 2. Detalhou que o lote foi negociado por R$ 23 mil, dos quais foram pagos R$ 10 mil em dinheiro e transferências bancárias.
Na ocasião, foi confeccionado um Instrumento Particular de Cessão de Direitos entre ele e Rogério Mariz, que se apresentou como procurador do dono da chácara negociada.
As assinaturas do documento foram reconhecidas em cartório, e o prazo de entrega do imóvel estava previsto para dezembro de 2020. Apesar de ter quitado a dívida, o comprador não recebeu o terreno.
Segundo o relato apresentado, o corretor sempre afirmava que faltavam alguns detalhes no condomínio, como estruturação e asfaltamento das ruas. A vítima só se deu conta de que caiu em um golpe quando consultou o nome de Rogério na internet e localizou um série de processos, inclusive por crimes de estelionato e parcelamento irregular de solo.
O caso foi registrado na 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas), mas é investigado pela 29ª DP (Riacho Fundo).
Aliciadores
Outro caso, formalizado no ano passado, está sob responsabilidade da Delegacia de Combate à Ocupação Irregular do Solo e aos Crimes contra a Ordem Urbanística e Meio Ambiente (Dema). Um homem alegou ter sofrido golpe quando tentou adquirir um lote para construir a residência, em novembro de 2018. Ele explicou que o terreno de 400 metros quadrados na Ponte Alta do Gama foi oferecido por uma “irmã” da igreja que frequenta.
As partes fecharam a venda por R$ 25 mil, valor pago em espécie, à vista e entregue na casa da religiosa. A vítima afirma que o dono do lote se apresentou como Rogério Mariz. No dia do pagamento, o cantor deixou a cessão de direitos do imóvel e levou o dinheiro. A intermediária chegou a acrescentar que havia vendido 45 imóveis no mesmo condomínio e que todos pertencem ao cantor.
O homem foi orientado a aguardar até janeiro de 2019, pois o terreno seria piquetado e, com a mudança de governo, a construção seria permitida. Decorridos os meses, nenhuma das benfeitorias mencionadas – muro, poço ou subdivisões – foi feita no local. Os vendedores alegaram que a compra do lote havia sido desfeita. Por esse motivo, foi ofertado novo terreno, em outro local.
Segundo a vítima, Rogério explicou que o novo lote era do ex-deputado federal Wigberto Tartuce, o Vigão, e este havia vendido para ele e também para o empresário Marcelo Perbonni. Por essa razão, Rogério haveria entrado com uma ação contra Vigão, e o terreno estaria em litígio judicial.
Foi, então, oferecido um terceiro terreno, que também não poderia ser ocupado, pois o artista não efetuou os pagamentos da área. Com isso, a vítima identificou o modus operandi de Rogério: ele adquire um terreno grande, liquida uma pequena parcela com um carro ou outro bem e, de pronto, começa a parcelar e revender.
Porém, ele não cumpre o acordo e não quita as demais parcelas ao dono do imóvel. Por tal motivo, o real dono desfaz o acordo de venda e não é feita nenhuma benfeitoria, o que inviabiliza qualquer obra no local e lesa todos os compradores.
Inicia-se, então, uma peregrinação, na qual são oferecidos outros lotes. Contudo, os demais terrenos estão em situações parecidas e os compradores nada conseguem.
Militar investigado
Um caso ocorrido em 2015 e registrado em 2020 também reforça o modo de atuação do grileiro. A vítima, policial militar do Distrito Federal, detalhou que, em meados de outubro de 2015, conheceu Rogério Mariz no momento em que buscava adquirir um lote para habitação na Ponte Alta.
Ao demonstrar interesse por uma fração de terra, o militar concretizou a negociação de compra e venda, na qual ficou acordado o pagamento de R$ 650 mil.
Satisfeito com a aquisição, o PM alega que chegou a indicar o trabalho de Rogério para amigos e familiares. Entretanto, os negócios firmados com terceiros não deram certo, e o policial afirma que passou a ser acusado de trabalhar em parceria com Rogério.
Ele alega que os golpes motivaram a instauração de um Inquérito Penal Militar (IPM). Concomitante à apuração na Justiça Militar, há ação judicial em trâmite na área cível, para exigir que o PM arque com os prejuízos gerados por Rogério, mediante suas indicações a terceiros.
Golpe milionário
Um empresário amargou prejuízo ainda mais alto. Ele explicou que, em março de 2019, negociou uma área que compreende 30 lotes, situados no Riacho Fundo 2, no valor de R$ 2,1 milhões. Rogério disse ser proprietário do terreno. Na ocasião, a vítima pagou R$ 1,7 milhão e combinou de quitar o acordo assim que saísse a escritura do imóvel.
Na negociação, o empresário transferiu para Rogério uma cobertura no valor de R$ 550 mil; um Camaro branco, no valor de R$ 150 mil; R$ 20 mil em joias; três cheques no valor total de R$ 30 mil; e oito lotes situados na Ponte Alta do Gama — no valor total de R$ 800 mil. Além disso, fez uma transferência eletrônica de R$ 6,8 mil.
O empresário, entretanto, descobriu dias depois que o lote havia sido vendido para outro proprietário.
Uma moradora de Ceilândia teve o mesmo problema. Em 2019, realizou uma negociação de lotes no Riacho Fundo 2. Ela repassou a Rogério 34 cheques no valor de R$ 7,5 mil, totalizando R$ 255,6 mil. No entanto, logo em seguida, descobriu que os terrenos haviam sido vendidos a terceiros.
O Metrópoles tentou contato com Rogério Mariz, por meio do telefone que ele passa as vítimas descritas na reportagem, mas não houve retorno. O espaço segue aberto a eventuais manifestações.