De agente de turismo a líder do PCC, saiba quem é o responsável por plano para resgatar Marcola
Há boatos de que Deva foi assassinado pelo PCC por deixar vazar o plano e pela demora em agir para tirar as lideranças de trás das grades
atualizado
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Foragido da Justiça brasileira, Devanir de Lima Moreira (foto em destaque), conhecido como Deva, é um dos principais responsáveis pelo audacioso plano de resgate da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) na Penitenciária Federal de Brasília.
De acordo com relatórios da Polícia Federal, Deva trabalhou como agente de turismo antes de entrar no mundo do crime. Ele está foragido desde 2017.
Em 2006, o criminoso chegou a cumprir pena com o líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo.
Condenado a 342 anos de prisão, Marcola chegou a questionar o advogado Bruno Ferullo Rita, em junho do ano passado, sobre o plano elaborado por seu braço direito. Segundo interceptações, o 01 do PCC cobrou que o “Dr. Alexandre” viesse “o mais rápido possível”.
Os investigadores apontam que “Dr. Alexandre” é um código usado para se referir a Deva, responsável pelo resgate. Investigações constataram que, um mês e meio depois, Marcola voltou a usar a mesma mensagem ao falar com sua mulher, Cynthia Giglioli da Silva.
“Eu tô pedindo faz três meses de um advogado que cuida da instância superior, o Dr. Alexandre, e ele não me dá nenhuma resposta sobre se o cara vai vir aqui me requisitar ou não, entendeu? (…). Se o cara vai vir ou não vai. Se não vai, fala logo que não vai. Que pelo menos eu contrato outra pessoa”, disse. A PF acredita que a mensagem era um ordem para que Deva colocasse o plano em prática o quanto antes.
Na última semana, surgiram boatos de que Deva foi assassinado pelo PCC por deixar vazar o plano da facção e pela demora em agir para tirar as lideranças de trás das grades.
No entanto, fontes policiais ligadas às investigações ainda não confirmaram o assassinato. Há, ainda, a suspeita de que a narrativa pode ter sido plantada pelo faccionado como uma forma de “escapar da missão”.
Planos frustrados
Em 2 de outubro de 2018, um detento entrou na sala do diretor do presídio e fez uma revelação perturbadora. Estava em curso um plano milionário para resgatar Marcola e outros 14 membros da alta cúpula do PCC de dentro da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo.
O episódio marca o início da ofensiva mais dura das autoridades de segurança pública contra Marcola e o comando do PCC. A partir dele, líderes da maior facção criminosa do Brasil foram, pela primeira vez, encarcerados no sistema penitenciário federal, onde ficam isolados, são supervigiados e perdem o direito a visitas íntimas. Tirá-los de lá virou prioridade do PCC.
Foram pelo menos quatro tentativas frustradas de resgatar Marcola da prisão em 10 anos. Na última delas, no ano passado, o PCC planejou tirar o seu líder máximo do presídio federal de Porto Velho (RO). Investigadores estimam que a estrutura, com blindados e aeronaves, custou R$ 60 milhões. Marcola foi transferido de volta para Brasília em seguida, de onde também já tentaram resgatá-lo, em 2020.
Acumulando fracassos, a facção também passou a investir mais em vinganças contra agentes públicos e autoridades brasileiras – o “Plano B” do grupo. A retaliação mais recente foi desarticulada pela Polícia Federal (PF) na última semana e tinha como um dos alvos o senador Sergio Moro (União-PR).
Autor dos pedidos de transferência dos líderes do PCC, o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), é uma das autoridades na mira da facção. Ordens para executá-lo são interceptadas com frequência. “Há quatro anos não tenho vida social”, declarou na última semana.
Tentativas de fuga de Marcola
A tentativa de resgate de Marcola da P2 de Presidente Venceslau, em 2018, foi revelada pelo delator com duas condições: anonimato absoluto e nunca mais ser chamado para depor. Com várias ações simultâneas, o plano era cinematográfico.
Uma das células da facção era responsável por incendiar caminhões e bloquear a Rodovia Raposo Tavares. Outras iriam atacar a estação de energia elétrica, cortar o sinal de comunicação e lançar granadas e tiros de fuzil contra o Comando da Polícia Militar no Interior (CPI-8) e cercar o 42º Batalhão da PM, localizado na cidade. O objetivo era impedir o voo do helicóptero Águia e a reação da polícia.
No comando da operação, estava Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, traficante ligado à ‘Ndrangheta, a máfia da Calábria, na Itália, e amigo de infância de Marcola.
Foragido na época, Fuminho havia formado um exército de homens treinados em suas fazendas na Bolívia e contava até com soldados africanos, experts em armas pesadas. Ele foi preso em Moçambique, pela PF, em 2020.
Em 2014, o MPSP já havia descoberto um plano para resgatar Marcola de helicóptero. Policiais ficaram dias de tocaia na mata ao redor da P2 de Presidente Venceslau para tentar abater a aeronave.
No episódio do delator, no entanto, as autoridades tinham razões a mais para levar o esforço do PCC a sério. Em setembro de 2018, mês anterior à descoberta do plano, 20 criminosos haviam invadido o Presídio de Piraquara, na Grande Curitiba, e resgatado 29 presos da facção.
Outro motivo era que Marcola acabara de ser condenado no âmbito da Operação Ethos, em fevereiro de 2018. Com mais uma sentença na sua ficha criminal, a pena acumulada do líder do PCC chegou a mais de 330 anos de prisão – o que praticamente inviabilizava sua progressão de regime ou liberdade por meios legais.