Racha histórico no PCC: rivais de Marcola são levados para Mossoró
Investigações apontam que lideranças do PCC ligadas a Marcola emitiram um “salve geral” determinando a identificação de policiais
atualizado
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Três importantes ex-integrantes da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) foram transferidos da Penitenciária Federal de Brasília para a Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte – que ficou nacionalmente conhecida após ser a primeira unidade do tipo a registrar uma fuga, no começo do ano.
A mudança ocorreu nessa terça-feira (15/10). Roberto Soriano, conhecido como Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, apelidado de Andinho, declararam guerra a Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola (foto em destaque), líder máximo da facção.
Não é a primeira vez que Tiriça passa por Mossoró. Em sua última passagem pela unidade, em 2015, ele chegou a denunciar maus-tratos por parte dos policiais penitenciários. Em abril de 2015, Tiriça foi filmado durante uma discussão com policiais penais. Na ocasião, ele denunciou que a prisão estava sem luz e água.
“Covardia”
Em gravação, anexada a uma investigação interna, agentes e presos tratavam de problemas estruturais do presídio, que ficou ao menos dois anos sem qualquer manutenção.
Além de Soriano, outro integrante do PCC também aparece nas imagens. Trata-se de Nilton Cezar Antunes Verón, atual aliado de Marcola, e acusado de planejar a morte de um juiz federal no Mato Grosso do Sul.
Verón aparece algemado e é escoltado por policiais até o pátio da Penitenciária Federal de Mossoró, onde estavam sentados outros integrantes do PCC – entre eles, Tiriça. Os agentes os repreendiam por incitarem a desordem, pois os presos estavam revoltados com punições aplicadas.
No vídeo, é possível ouvir o policial falar para Soriano: “Cruza as pernas, interno. A postura é perna cruzada. Está escutando, interno? Outro dia, estava chorando aí para sair do RDD [regime disciplinar diferenciado]”. Tiriça rebateu: “Eu não estava chorando. Estava era com a neurose da covardia de vocês, rapaz”.
Em outro momento, Francisco Antônio Cesário da Silva, conhecido como “Piauí”, reclama das condições do complexo de segurança máxima. “Não funcionava luz. Tudo [está] no escuro desde quarta-feira. Aí, ontem, foi […] eu. Agora, [estou] com a cela sem água”, disse.
Ao ver que a conversa era gravada, Soriano enfrentou os policiais. “Estavam gravando aí. Demorou para gravar. A gente está certo. [Se] botar um monte de fuzil na cara, você vai ver, seu safado do caralho”, completou Tiriça.
Racha histórico
Os três criminosos protagonizam um racha histórico dentro do PCC. O principal estopim para essa divisão foi uma conversa gravada entre Marcola e policiais penais federais, na qual ele descreveu Roberto Soriano como um “psicopata”.
Essa declaração foi utilizada pelos promotores durante o julgamento de Soriano, que foi condenado a 31 anos e seis meses de prisão em 2023, pelo assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, uma ação que a facção tomou como uma resposta à rigidez do regime penitenciário federal.
Quem é quem
- Roberto Soriano (Tiriça): considerado o número dois do PCC e líder da “Ala Terrorista” da facção, ele é responsável pela coordenação de ações violentas, incluindo o assassinato de autoridades. Soriano é visto como um criminoso de altíssima periculosidade e possui um considerável poder financeiro dentro do grupo.
- Abel Pacheco de Andrade (Vida Loka): um dos principais aliados de Soriano, Pacheco é igualmente conhecido por suas conexões e influência no PCC. Sua relação com Soriano se fortaleceu após as declarações de Marcola, levando a uma aliança contra o líder da facção.
- Wanderson Nilton de Paula Lima (Andinho): também alinhado a Soriano e Pacheco, Andinho compartilha da mesma visão de insatisfação em relação à liderança de Marcola e é considerado um dos articuladores no plano para sua expulsão.
Salve
Investigações apontam que lideranças do PCC ligados ao Marcola emitiram um “salve geral” determinando que os integrantes da facção identificassem agentes penitenciários paulistas. Registros foram apreendidos com presos da Penitenciária de Parelheiros, na zona sul de São Paulo, no mês passado.
No documento manuscrito, obtido pelo Metrópoles, é dado o prazo de 30 dias para que os criminosos responsáveis pelos presos de pavilhões ou raios, chamados de “jets”, levantem os nomes e endereços de dois agentes penitenciários por unidade.
Nessa segunda-feira (14/10), policiais militares foram alvo de tiros, disparados por pistoleiros, em duas ocorrências diferentes no Guarujá, litoral paulista. Ninguém se feriu ou foi preso.
As atividades criminosas da cidade são dominadas pelo PCC, que estaria envolvido com a determinação do assassinato de policiais da ativa e da reserva no município, segundo investigação conjunta da Polícia Civil e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP).