“Kilos mortais”: ex-gerente do Madero denuncia chefe por gordofobia
O chefe da vítima a incluiu em um grupo de WhatsApp chamado “Kilos Mortais”, que visava pressionar funcionários a emagrecer
atualizado
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Uma ex-gerente geral do restaurante Madero em Águas Claras, de 25 anos, alega ter sido vítima de assédio moral e gordofobia na empresa. Segundo ela, o ambiente de trabalho foi marcado por constantes humilhações relacionadas ao seu peso, especialmente por parte de seu superior.
Durante reuniões, ele fazia comentários sobre sua aparência e a incluiu em um grupo de WhatsApp chamado “Kilos Mortais”, que visava pressionar funcionários a emagrecer.
A jovem trabalhou no local por mais de quatro anos. Segundo ela, durante as reuniões de equipe, o chefe frequentemente fazia comentários depreciativos sobre seu peso. “Ele dizia que eu precisava mudar minha aparência para representar melhor a empresa”, contou.
No grupo “Kilos Mortais”, os funcionários “considerados acima do peso” eram monitorados quanto à frequência na academia e ao emagrecimento.
“Participar desse grupo era obrigatório. Se eu não aparecesse na academia, era repreendida”, explicou a vítima. O grupo, conforme ela relata, não só reforçou a cultura de gordofobia no ambiente de trabalho, mas também causou “considerável constrangimento e sofrimento moral”.
A rotina de trabalho causou danos psicológicos para a jovem, que passou a ter episódios frequentes de angústia e choro durante o expediente. “A pressão era tanta que, em algumas reuniões, eu não conseguia segurar as lágrimas”, lembrou.
Em gravação obtida pela reportagem, a funcionária é alertada sobre o seu peso. Confira:
“Não fala que eu te falei. Ele (o chefe) disse que você é uma boa gestora, mas você precisa se cuidar pessoalmente. A questão do seu perfil visual… Não está adequado conforme eles querem, entendeu? É pra fazer academia? Faz mesmo.”
“Ele (o chefe) ficou preocupado com você, falou que você não está bem de saúde, visivelmente não. Na visão dele, você precisa emagrecer um pouco. É para você se cuidar, tentar emagrecer, fazer alguma coisa pra representar melhor a marca como gestora.
Cinta de compressão
O advogado Danilo Matos, que representa a vítima, destaca que “o que ocorreu no Madero é uma violação dos direitos humanos básicos. O assédio moral, combinado com a discriminação por gordofobia, cria um ambiente de trabalho tóxico, que pode ter sérias consequências para a saúde mental”.
Em uma das conversas, a ex-funcionária é informada de que o superior insistia que sua aparência precisava ser melhorada, indicando até que ela usasse cinta de compressão.
Segundo testemunhas, a história da jovem não é um caso isolado. Em conversas informais, outras colegas de trabalho também relataram experiências similares de discriminação e assédio. A ação trabalhista tramita no Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região.
O outro lado
Por meio de nota, o Grupo Madero informou “que repudia qualquer forma de discriminação. A empresa adota políticas rigorosas e realiza treinamentos constantes para assegurar um ambiente de trabalho ético, inclusivo e respeitoso. Sobre o processo em questão, a empresa informa que apresentou, tempestivamente, sua defesa e os esclarecimentos necessários nos autos da reclamatória trabalhista.”