Psicóloga forense traça perfil de homem-bomba: “Queria ser o Coringa”
A perita médica-legista especializada em psicopatologia forense Conceição Krause traçou o perfil psicológico: “Coringa da vida real”
atualizado
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Havia um significado nas peças de roupas estampadas com os naipes de cartas de baralho, com o fundo de cor verde-escuro, usadas pelo chaveiro Francisco Wanderley Luiz, o homem-bomba que morreu após detonar um explosivo em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), na noite de quarta-feira (13/11).
A pedido da coluna, Conceição Krause, renomada perita médica-legista especializada em psicopatologia forense, desenhou o perfil psicológico do homem, que abandonou o município catarinense de Rio do Sul para deixar um rastro de explosivos na capital da República até tirar a própria vida em frente à Estátua da Justiça – escultura instalada na sede da Suprema Corte.
Segundo Krause, Francisco incorporou traços da personalidade do Coringa, personagem da DC Comics, retratado nos quadrinhos e no cinema com ternos de cores berrantes e atitudes que beiram a loucura. “No entanto, de louco aquele homem não tinha nada. Ele incorporou o seu ‘herói’ e foi alimentando como pôde a fome insaciável para ser admirado, notado, respeitado. Mas tudo era pouco. Precisava de um gesto ousado, arriscado, que o alçasse à história. E assim ele fez”, analisou.
Coringa da vida real
A perita, que ministra aulas para a Polícia Federal, Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), explicou que um ódio enorme movia o chaveiro. “Quando chegou a Brasília, aos poucos, ele deixou de ser um deslocado, frágil, medroso e entrou no STF posando como raposa, aquela que mete medo em galinhas. Fez no ato uma selfie e publicou nas redes sociais”, disse.
Segundo Krause, é possível determinar que Francisco seguia uma conduta suicida e que se desenvolveu ao longo dos últimos meses de vida. “Como o Coringa, Francisco tentou fazer parte do poder. Esse lugar onde homens podem mudar a vida da sociedade e seus costumes, são assediados tanto por homens simples e governantes poderosos, são conhecidos da mídia, adorados e odiados. Apenas 98 eleitores o queriam ocupando esse lugar, restando a ele apenas o espaço dos invisíveis. Essa vida anônima, limite tênue entre a sanidade e a loucura, ganhou sentido e forma na transformação de um homem apequenado em um personagem cheio de poder”, definiu. A especialista se refere à tentativa frustrada de Francisco em entrar para a vida pública, como vereador, nas eleições municipais de 2020.
Autoridade na chamada autópsia psicológica – tipo de avaliação retrospectiva que auxilia na obtenção de informações sobre o suicídio, incluindo o estado emocional da vítima, que antecedeu ao óbito – Krause ressaltou que o homem-bomba planejou toda a ação conscientemente e desejava atingir, de alguma forma, ministros do STF: “Ele não hesitou em colocar em prática o seu plano e mostrar que os ‘capas pretas’ podem ser derrotados sim, junto do poder, da democracia e de suas instituições. Era assim que ele pensava”, descreveu.
Homem-bomba
Francisco Wanderley Luiz usava o codinome Tiü França. Nas redes sociais, Francisco escreveu mensagens sugerindo um ataque com bombas contra alvos políticos que ele chama de “comunistas de merda”. O corpo de Francisco ficou completamente desfigurado. O lado direito da cabeça e a mão direita do homem parecem ter sido atingidos pela explosão. Restos mortais dele foram arremessados a metros do local onde explodiu.
Ele chegou a divulgar prints que mandava a si próprio com várias ameaças. “Vocês poderão comemorar a verdadeira proclamação da República”, diz uma das mensagens. No post, ele alegou que o “jogo só acaba 16/11/2024”.