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Produtos vencidos e sem registro: PCDF faz busca na clínica do horror

Em outubro, o Metrópoles veiculou reportagem denunciando a clínica. Segundo ex-funcionários, uma série de irregularidades ocorrem na empresa

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Imagem colorida de uma sala de atendimento de clinica- Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de uma sala de atendimento de clinica- Metrópoles - Foto: Divulgação/ PCDF

Equipes da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), cumpriam, nesta quarta-feira (29/11), mandado de busca e apreensão em duas unidades de uma clínica de estética, antes conhecida como Corpus Elite, localizadas em Águas Claras e na Asa Norte.

Em outubro deste ano, o Metrópoles veiculou reportagem denunciando a empresa. Em depoimentos e prints chocantes, pacientes e ex-funcionários relataram que, na clínica, materiais descartáveis estariam sendo reutilizados, produtos vencidos seriam aplicados em clientes, e compostos, como a toxina botulínica, estariam sendo diluídos em outras substâncias ou substituídos por soro fisiológico antes de serem inseridos na pele. Á época, a empresa negou as acusações.

Após a denúncia do portal, donos da Corpus Elite, antiga Mulher de Classe, trocaram o nome do empreendimento ao menos três vezes.

Na manhã desta quarta-feira (29), a Divisão de Proteção ao Consumidor (DPCON), da Corf, verificou que, no local, eram mantidos em depósito medicamentos sem registro na Anvisa, os quais eram utilizados em procedimentos estéticos inadequados, causando risco à saúde dos consumidores.

De acordo com as investigações, em um dos casos, a vítima sofreu queimaduras de segundo grau. Os investigados se utilizavam de medicamentos sem registro na Anvisa como forma de baratear os procedimentos. Também foi constatado no local a presença de medicamentos vencidos e com a utilização indevida de responsável técnico.

A corporação identificou, ainda, que a atuação da empresa na Asa Norte funciona de forma clandestina.

Segundo a PCDF, a operação, que contou com a presença da Vigilância Sanitária, tem relevância em especial por conta de se tratar de final de ano, época em que os
crimes contra as relações de consumo tendem a aumentar por conta da própria demanda. Nessa ação, foi lavrado termo por parte da Vigilância Sanitária.

O caso

Por dias, o Metrópoles conversou com ao menos 30 ex-colaboradores da Corpus Elite, antiga Mulher de Classe. Alguns movem processos trabalhistas contra os proprietários da clínica, Gabriel Michetti e Ana Thays Rodrigues de Oliveira, por assédio moral, direitos suprimidos e falta de pagamento, ou têm ocorrência registrada por calúnia e difamação.

As declarações, acompanhadas de áudios e prints de conversas de grupos de WhatsApp da empresa, repetem histórias semelhantes de horrores que ocorrem no interior da clínica de estética.

“Material que deveria ser usado uma única vez, a dona Ana Thays mandava a gente reutilizar em várias pacientes. Gel de depilação, por exemplo, ela mandava raspar da pele da cliente, mesmo que estivesse em partes íntimas, e guardar dentro do pote para ser usado em outra pessoa”, disse uma ex-funcionária. “Botox, ela vendia. Contudo, quase nunca era a toxina em si. Na maioria das vezes, ela mandava aplicar soro no lugar”, relatou.

Fuga da Vigilância Sanitária

À reportagem, ex-funcionários também relataram que entre os procedimentos vendidos pela clínica está o preenchimento corporal com plasma. Segundo eles, a técnica consiste em coletar uma grande quantidade de sangue do paciente, centrifugar as amostras, separar os componentes, preparar o material e reinjetar na área que o cliente deseja dar volume.

O procedimento, contudo, passou a causar efeitos sérios a pacientes. “Eram preenchidos de 40 a 60 frascos de sangue em um dia. Muitas clientes passavam mal, vomitavam, faziam xixi na roupa e até convulsionavam. Na hora de reaplicar o produto, surgiam outros problemas. Muitas pacientes reclamavam e sofreram intercorrências, mas nada foi feito”, disse uma ex-funcionária.

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Frascos de sangue retirados para a técnica
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Paciente sofreu intercorrência após aplicação de plasma no glúteo

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Frascos de sangue retirados para a técnica

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Montagem de prints de uma conversa no WhatsApp - Metrópoles

Segundo os relatos, os proprietários da empresa instruíam, ainda, colaboradores a esconderem produtos da Vigilância Sanitária. Por meio de mensagens escritas e áudios no WhatsApp, pessoas por trás da Corpus Elite mandavam trabalhadores mentirem para agentes de fiscalização sobre a situação da clínica.

“Quando a fiscalização aparecia no Águas Claras Shopping para fazer vistoria, Ana Thays pedia para os funcionários trancarem a porta da clínica e mencionarem que apenas um salão funcionava no local. Acontecia o mesmo quando alguém chegava procurando por ela ou pelo marido, Gabriel. As instruções eram claras: ninguém poderia dizer que eles trabalhavam ou eram os donos da clínica”, explicou um ex-colaborador.

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Assédio moral

Como se não bastasse, ex-funcionários também acusam os donos da Corpus Elite de assédio moral. Segundo relatos, a dupla humilhava colaboradores, determinava horário para irem ao banheiro e expunha rendimentos de cada funcionário no grupo de WhatsApp da empresa.

Pagamentos, de acordo com os denunciantes, não eram feitos dentro do prazo estipulado. Quem deixou a empresa também relatou não ter recebido direitos trabalhistas, motivo pelo qual há inúmeros processos tramitando na Justiça do trabalho contra a empresa e seus responsáveis.

“Nos humilhavam, assediavam e diziam que se não fizéssemos o que queriam, dariam referências negativas a outros empregadores. Muitas pessoas ficam no local por medo ou por precisar muito do dinheiro que, na verdade, nem era pago. Sempre havia atrasos e descontos sem motivo. Quando pedi demissão, descobri que nem meu FGTS era depositado. Todo mês também descontavam o valor que tinha que ser repassado para o INSS. Tenho crise só de lembrar o que passei lá”, disse uma ex-funcionária.

Veja:

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CNPJs e mudanças no nome fantasia

Conforme consta em inúmeros processos pelos quais a clínica de estética responde, por trás da Corpus Elite há ou já existiu os seguintes CNPJs:

  • Gm Mc Estética Ltda., com a inscrição 41.301.790/0001-22
  • TNS BSB Ltda., com a inscrição 42.785.023/0001-07
  • TNS BSB Ltda., com a inscrição 42.785.023/0003-60
  • TNS BSB Ltda., com a inscrição 42.785.023/ 0002-80
  • MC Brasília Estética Ltda., com a inscrição 41.321.735/0001-02
  • MCB Estética Ltda., com a inscrição 41.350.138/0001-06
  • Martins Escritórios Ltda. (antigo MC Brasília Estética Ltda.), com a inscrição 32.069.249/0001-40
  • Estética Martins Ltda., (J. Abreu Serviços de Escritório Ltda.), com a inscrição 26.293.532/0001-58
  • AMJ Serviços de Escritórios Ltda., com a inscrição 30.699.745/0001-51

Somando as ações existentes em cada Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, a Corpus Elite responde a cerca de 171 processos judiciais, sendo 69 trabalhistas e 102 ações cíveis. Apesar disso, é importante ressaltar que em um processo pode ser citado mais de um CNPJ.

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