Presidente do INSS mandou alterar galeria de imagens para ter foto em destaque
Pela primeira vez, o rol de mandatários, que sempre contou uma sequência horizontal de fotos em preto e branco, teve a tradição quebrada
atualizado
Compartilhar notícia
Em meio às denúncias envolvendo a “farra nas passagens”, o presidente interino do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), Glauco Wamburg, faz questão de deixar evidente quem está à frente da maior autarquia da América Latina. Uma das demonstrações de poder incluiu até muidança na galeria de fotos dos ex-presidentes.
Pela primeira vez na história, o rol de mandatários, que sempre contou uma sequência horizontal de fotos em preto e branco, teve a tradição quebrada. Com evidente destaque, uma foto colorida de Wamburg foi acomodada acima das imagens de todos os outros que passaram pela cadeira de presidente.
Há dias, o presidente lida com uma enxurrada de denúncias envolvendo irregularidades sobre suas constantes viagens ao Rio de Janeiro, onde mora e dá aula particular em uma faculdade. As justificativas para as pontes aéreas que constam no Portal da Transparência são agendas supostamente oficiais e de interesse da autarquia federal. No entanto, muitos dos compromissos não foram, de fato, cumpridos por Wamburg.
Farra das passagens
Ao longo de dois meses, o Metrópoles conferiu cada uma das agendas, após servidores denunciarem que o presidente do INSS, supostamente, criava reuniões fictícias para justificar viagens até a capital fluminense e ministrar aulas de direito previdenciário em uma faculdade particular, a Universidade Santa Úrsula, em Botafogo, bairro da zona sul carioca. Uma equipe do portal esteve na instituição e registrou a grade horária do professor Glauco Wamburg. Ele entra em sala nos quatro horários, entre 18h30 e 22h30, sempre às segundas.
A “farra das passagens” promovida por Glauco é um assunto que percorre os corredores do INSS e passou a ser comentado com frequência pelos servidores. “Esse assunto veio à tona agora, mas é público e notório por quem conhece a rotina na autarquia. Glauco sempre viajou às custas dos cofres públicos para dar aula em instituição privada e resolver assuntos particulares”, disse uma fonte do INSS ouvida pela coluna.
Ao todo, no período analisado pela coluna, as passagens custaram ao governo cerca de R$ 65 mil. Desse valor, mais de R$ 15 mil foram pagos a Wamburg em diárias pelas viagens.
Sem presença
A coluna apurou minuciosamente as motivações apresentadas por Glauco Wamburg para justificar as viagens pagas com dinheiro público e verificou inconsistências nos períodos apresentados. Entre 3 e 4 de abril, por exemplo, Glauco solicitou viagem de ida e volta do Rio de Janeiro para “participar de reuniões na superintendência regional do INSS no Rio de Janeiro”. Passagens e hospedagem custaram R$ 3.696,78.
Segundo a própria superintendência, em 3 de abril, “não houve reuniões no local”. Em 4 de abril, por outro lado, o superintendente-regional, Marcos Fernandes, reuniu-se com alguns servidores para tratar de assuntos internos e, mais tarde, no mesmo dia, compareceu a outra reunião por videoconferência. Em nenhum dos casos o nome de Wamburg foi citado como participante das reuniões.
Em 27 de março, Glauco solicitou, com urgência, uma passagem só de ida para o Rio de Janeiro, no valor de R$ 3.046,26. Indagada, a Superintendência Regional do Rio de Janeiro informou que o Marcos Fernandes reuniu-se com o deputado estadual de Volta Redonda, Jari Oliveira. Outra vez, o nome de Wamburg não foi citado como participante da reunião.
Reunião com ministro
Em 29 de maio, Glauco teria solicitado passagens para Brasília, a fim de comparecer a uma reunião com o ministro da Previdência Social. À época, ele já estava no Rio de Janeiro. Contudo, segundo o próprio Ministério da Previdência Social, “não consta registro de reunião do ministro da Previdência Social com servidores do INSS na data referida”.
Em 17 de abril, Wamburg solicitou passagem para o Rio de Janeiro, sob alegação de que acompanharia o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, durante reuniões na Secretaria de Trabalho e nas tratativas de compra e venda do Mercadinho São José, no Rio de Janeiro. Entretanto, segundo o Ministério da Previdência Social, apenas o assessor especial do ministério, Bruno Ribeiro Cardoso, acompanhou o ministro na data.
Em 15 e 16 de maio, Glauco solicitou passagens, novamente ao Rio de Janeiro, para participar de reunião com o secretário de Trabalho do Município do Rio de Janeiro, a fim de tratar dos seguintes temas: parcerias em ações volantes entre o INSS e a secretaria, e avanço da compra e venda do imóvel do Mercadinho São José.
Encontro com comandante da PM
Além dessa suposta reunião, ele teria, ainda, um encontro marcado com o secretário-geral e coronel da PMRJ para tratar de um imóvel em Campo Grande, que seria uma parceria do INSS com a PMERJ. Procurada, a Secretaria de Trabalho do Município do RJ declarou que, “nos dias 15 e 16, não houve nenhuma reunião do secretário para tratar destes assuntos com integrantes do INSS”.
Acionada, a PMERJ disse que Glauco Wamburg esteve no quartel-general em 24 de março, acompanhando o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi. No entanto, optaram por não responder se houve uma reunião entre Wamburg e o secretário-geral coronel da PM em 15 e 16 de maio.
A reportagem apurou que motivos alegados por Glauco Wamburg para outras viagens envolvendo a ponte Brasília-Rio de Janeiro seguiram os mesmos padrões de inconsistência.
Acionada, a assessoria de comunicação do INSS não havia respondido até a última atualização deste texto. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.