PMs esperam até 4 meses para conseguir consulta com psiquiatra no DF
Em 2024, 5 PMs tiraram a própria vida no DF. Em um dos casos, sargento com histórico de doença mental matou colega e depois se suicidou
atualizado
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Pelo menos cinco policiais militares cometeram suicídio entre 1º de janeiro e 1º abril de 2024 no Distrito Federal. Mesmo com o assustador histórico, PMs aguardam até quatro meses para conseguir marcar uma consulta com psiquiatra. Novos agendamentos com especialista da área, por exemplo, só estão disponíveis para agosto.
Veja:
O Metrópoles teve acesso à solicitação de consulta pelo plano de saúde da Polícia Militar do DF (PMDF). A recepcionista da clínica conveniada foi direta: “Senhor, temos horários disponíveis somente para a primeira semana de agosto”.
De acordo com o levantamento da coluna, nos primeiros quatro meses de 2024, houve cinco casos de autoextermínio na tropa. O que causou mais comoção foi o do sargento Paulo Pereira de Souza, em janeiro. Antes de tirar a própria vida, ele matou o soldado Yago Monteiro Fidelis.
Ainda em janeiro, outro militar cometeu suicídio. Em março, três policiais tiraram a própria vida. O último episódio ocorreu em Luziânia, no Entorno do DF. Mesmo diante desse quadro, segundo pesquisa no quadro de pessoal, a PM continua contando com apenas dois psiquiatras. A corporação dispõe de 11 clínicas conveniadas.
Veja a lista de clínicas:
RM Clínica de Reabilitação
AME Assistência Mental
Psicovittae
Bem Estar Clínica de Psicologia
Centro Clínico Salutá
Centro de Atendimento Psicológico de Brasília (CAPB)
Clínica Borboletário de Psicologia
Clínica de Psicologia Eros e Psique
Clínica Multidisciplinar Recap
Cliniser Clínica Integrada de Medicina
Clínica de Saúde e Psicologia (CLINSP)
A falha no serviço de saúde contrasta com o discurso de posse da nova comandante-geral da PMDF, coronel Ana Paula Habka, em 7 de fevereiro de 2024. “A minha meta, neste primeiro momento, é a saúde mental do nosso policial militar”, afirmou.
Descaso
A Caserna representa cerca de 3 mil policiais militares do DF. No entendimento do presidente da associação, Carlos Victor Fernandes Vitório, a situação é preocupante.
“O compromisso com o bem-estar dos policiais deve ser real, não apenas em palavras. É hora de agir com seriedade e garantir condições dignas de trabalho e atendimento imediato para nossa tropa, evitando, assim, que vidas se percam por causa de tão grave omissão”, alertou.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a PMDF para ouvir o que a corporação tem a dizer sobre o caso. A Polícia Militar enviou nota com posicionamento.
Leia na íntegra:
“O atendimento na área de saúde mental de policiais militares e dependentes ocorre por meio do Centro de Assistência Psicológica e Social (Caps), unidade especializada no assunto e integrante do Departamento de Saúde da corporação, e pelas clínicas da rede credenciada.
Atualmente, a corporação conta com dois psiquiatras que prestam serviços de atendimento aos policiais militares e dependentes.
Além disso, a PMDF recebe o apoio de psiquiatras cedidos pelo CBMDF [Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal] para avaliações periciais relacionadas a capacidade laboral, necessidade de restrições e intervenções psiquiátricas, isso em cinco turnos durante o transcorrer da semana.
A rede credenciada inclui 17 clínicas que oferecem serviços nas áreas de psicoterapia, psiquiatria e internação psiquiátrica.
A PMDF está em fase final de credenciamento de três novas empresas na área de saúde mental, o que ampliará o número de profissionais disponíveis para atendimento de policiais militares, pensionistas e dependentes. Essas empresas credenciadas disponibilizarão um total de 42 profissionais, entre psiquiatras e psicólogos.
Além disso, estamos finalizando um acordo de cooperação técnica entre o Sesc [Serviço Social do Comércio] e a SSP [Secretaria de Segurança Pública]. O Serviço Social de Comércio oferecerá atendimento psicológico específico direcionado aos policiais militares da PMDF.
Também está em andamento um processo de contratação de 32 postos de trabalho para prestação contínua de serviços de saúde complementares por psicólogos que atuarão no interior do Centro Médico da PMDF, mediante ata de registro de preço.
Por fim, encontra-se em fase final de certame para contratação por concurso público de mais quatro psiquiatras militares, para ampliação do quadro médico da corporação.”
Busque ajuda
O Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos ou tentativas de suicídio que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social, porque esse é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o assunto não venha a público com frequência, para o ato não ser estimulado. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.
Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode ajudar por meio do número 188. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo, voluntária e gratuitamente, todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por meio de telefone, e-mail, chat e Skype, 24 horas, todos os dias.
Samu
O Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Samu também é responsável por atender demandas relacionadas a transtornos psicológicos. E atua tanto de forma presencial, em ambulância, como a distância, por telefone, na Central de Regulação Médica 192.
Na rede pública da saúde, a assistência psicológica pode ser encontrada nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), em hospitais e nas unidades básicas de Saúde.
O UniCeub também oferece atendimento. Pela taxa de R$ 40, crianças, a partir de 4 anos, adolescentes, adultos, casais e famílias podem ser atendidos. As consultas acontecem no Edifício União, localizado no Setor Comercial Sul. Após a avaliação psicológica do paciente, as consultas são agendadas uma vez por semana, com o apoio dos alunos do curso de psicologia. Os interessados podem agendar o atendimento por telefone (61) 3966-1626, ou presencialmente, no Edifício União.