“Pisaram na minha cabeça”, diz jovem espancado por PMs. Ouça relato
Militares chegaram a efetuar dois tiros em direção às vítimas, segundo os jovens. Caso é investigado pela Polícia Civil
atualizado
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Espancados por policiais militares do Distrito Federal, dois jovens estão traumatizados e com medo sair de casa. Em entrevista exclusiva à coluna, um garçom de 16 anos e um militar do Exército, de 19, detalharam os momentos de terror que vivenciaram na madrugada de quarta-feira (22/12), em São Sebastião.
Vídeo: em abordagem, PMs do DF agridem garçom que voltava do trabalho
Sem se identificar, por questões de segurança, o menor explica que pegou carona com um amigo para voltar do trabalho, um restaurante na Asa Norte. Ele explica que passou por uma rua escura de São Sebastião e chegou a ver a viatura da corporação.
“Estava tudo escuro. Depois, percebemos que eles ligaram as luzes da viatura. Seguimos e, mais pra frente, eles efetuaram dois disparos. Eu falei para o meu amigo parar a moto e desci com a mão na cabeça, pensei que seria uma abordagem de rotina”, lembrou o adolescente.
Segundo o rapaz, os militares já desceram da viatura agressivos. “Disseram que demos sorte, porque miraram na nossa cabeça e erraram. Tomei pontapé e soco. Bateram na minha cabeça, mas eu estava de capacete. O meu amigo apanhou igual cachorro”, conta.
“Pensei que ia morrer. Se a gente entra em uma rua escura como aquela, a gente pensa que vai morrer. Fiquei com as costas raladas, dedo inchado, minha coxa ficou roxa. Passei a madrugada vomitando. No dia seguinte tive que trabalhar, mas passei mal lá também”, relatou o garçom.
A família da vítima registrou ocorrência na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), que investiga o caso. Ele já passou por exames no Instituto Médico Legal (IML).
Confira o relato do menor:
Sessão de espancamento
O militar também deu sua versão à coluna. Ele conta que foi muita gritaria e não reagiu em nenhum momento. “Quando a gente viu, eles já estavam do nosso lado. Começaram a gritar falando ‘bora, bora’. Ainda tentei parar em um local claro, um estabelecimento, mas de madrugada estava tudo fechado, deserto. Desci com a mão na cabeça. Me bateram , não mostrei resistência, só respondia ‘sim, senhor’ e ‘não, senhor’. Quando falei que era do Exército, bateram mais ainda”, disse.
O jovem conta que uma moradora – também filmada – viu a cena e tentou ajudá-los, mas acabou sendo oprimida e xingada pelos PMs. “Depois de baterem muito, puxaram a placa da moto, tiraram foto minha, pegaram meu endereço, número de celular, identidade e fizeram ameaças. Disseram que se eu falasse para alguém, fariam algo. O que deu para entender é que iam me matar”, detalhou. Nas imagens é possível ver e ouvir os PMs hostilizando a moradora que tentou intervir nas agressões aos jovens. “Vai se f*der”, disparou o PM.
“Não teve conversa. Não teve abordagem profissional. Só foi agressão, eu só pensei que eles iam me matar, a rua estava vazia. Admirava o trabalho policial, mas depois disso fiquei com medo da polícia. Meu corpo está doendo até agora, meu nariz não para de doer, foi muito soco na minha cara. Meu corpo ainda está doendo demais, eles pisaram na minha cabeça”, finalizou.
Ouça o depoimento da vítima:
Flagrante
Conforme a coluna revelou, moradores do Morro da Cruz, em São Sebastião, registraram o momento em que a equipe da PMDF agrediu as vítimas. “Meu filho está sentindo dores e não para de vomitar”, contou a mãe do garçom.
“Ele tentou ir trabalhar hoje para não perder o emprego, mas, infelizmente, não conseguiu”, declarou a mãe.
Assista ao momento das agressões:
Outro lado
Procurada pelo Metrópoles, a Polícia Militar informou que o homem abordado havia, minutos antes, desacatado a ordem de parada dos agentes. Leia a nota: