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PCDF mira empresas de fachada que lavaram R$ 170 milhões do tráfico

A segunda fase da Operação Il Padrino atinge uma intricada teia financeira que amealhou R$ 170 milhões nos últimos três anos

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1 de 1 Il Padrino - Foto: Arte/Metrópoles

atualizado

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou megaoperação, nas primeiras horas desta quinta-feira (5/10), para desmantelar as engrenagens financeiras que movimentavam um esquema milionário abastecido pelo tráfico de cocaína.

A segunda fase da Operação Il Padrino atinge uma intricada teia financeira que amealhou cerca de R$ 170 milhões nos últimos três anos. A fortuna costumava ser “lavada” por meio de empresas de fachada espalhadas pelo país.

A ação da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) cumpre 25 mandados de busca e apreensão em cinco estados, além do DF. O bando comandado pelo megatraficante Cícero da Silva Oliveira, conhecido como “Padrinho” ou “Inseto”, construiu uma sólida reputação no mundo do crime.

Os policiais estão nas ruas de Sorocaba (SP), São Paulo (SP), Pau dos Ferros (RN), Arapiraca (AL), Salvador (BA), Anápolis (GO) e Aragarças (GO). Padrinho e todos os comparsas estão atrás das grades, mas o esquema seguia girando.

O desdobramento da operação se dedicou primordialmente a seguir o rastro do dinheiro, mapeando minuciosamente as movimentações financeiras para decifrar sua origem e seu destino. Foi descoberto que um dos principais operadores financeiros da organização criminosa usou 12 empresas fantasmas entre 2020 e 2023. As firmas de fachada serviram como instrumentos para a lavagem de dinheiro e também para a aquisição de entorpecentes nas regiões de fronteira entre o Brasil e a Bolívia.

“Laranjal”

O esquema também cooptava cidadãos comuns, transformando-os em laranjas do esquema ilícito. Os laranjas eram instruídos a comparecer a determinadas agências bancárias, onde recebiam grandes quantias em dinheiro, variando entre R$ 20 e R$ 150 mil. Os montantes eram posteriormente depositados em contas das empresas de fachada.

De janeiro de 2021 a maio de 2023, as empresas receberam aproximadamente R$ 4 milhões provenientes da organização criminosa baseada no Distrito Federal. No entanto, apurou-se que as mesmas empresas serviam a um gigantesco esquema de âmbito nacional, pois movimentaram os R$ 170 milhões no período de três anos.

O montante tem sua origem nos tentáculos do crime organizado espalhados por todo o país. A Cord, em suas diligências, identificou que tais empresas foram formalmente registradas em diversas cidades, incluindo São Paulo (SP), Sorocaba (SP), Avaré (SP), Goiânia (GO), Anápolis (GO) e Mossoró (RN).

Quem é o Padrinho

Tijolo por tijolo, o megatraficante Cícero da Silva construiu uma sólida reputação no mundo do crime. A fama ultrapassou as fronteiras brasileiras e chegou a países produtores de cocaína e maconha, como Bolívia e Paraguai. Mas o criminoso não se tornou uma notoriedade de um dia para o outro. A ascensão levou cerca de 10 anos para se consolidar.

Quando começou a integrar grupos criminosos especializados em tráfico de drogas baseados na capital da República, o traficante cearense, de 44 anos, logo foi preso pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord). Cícero, então traficante mediano, atuava como batedor de carregamento de drogas.

No entanto, a inteligência e a capacidade de articulação para planejar as empreitadas criminosas fizeram de Cícero uma espécie de cérebro do tráfico. Em 2013, ele acabou preso pela Cord, com mais de mil comprimidos de “ecstasy”, e condenado junto com quatro comparsas. Conforme constou da sentença condenatória, os investigados se associaram para praticar tráfico interestadual.

Drogas sintéticas

Eles atuavam em compra, venda, transporte, armazenagem e distribuição de cocaína e drogas sintéticas entre Mato Grosso do Sul, Paraná, Goiás e DF. Recentemente, Padrinho foi condenado por integrar a organização criminosa Comboio do Cão, resultado da Operação Judas, desencadeada pelo Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime (Decor).

Veja imagens da primeira fase da operação:

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A ação desarticulou parte da organização criminosa responsável pela prática de vários crimes graves, como tráfico de drogas e de armas de fogo, além de homicídios ocorridos em regiões administrativas como Riacho Fundo, Recanto das Emas, Samambaia, Ceilândia e Taguatinga.

Já atuante nas grandes facções criminosas, Padrinho recebeu, de forma parcelada, entre março e novembro de 2020, R$ 815 mil de traficantes presos pela Polícia Federal, em 18 de fevereiro de 2o21, por transportarem 17,3 quilos de cocaína. O dinheiro começou a “brotar” nas contas bancárias geridas pelo traficante. Ele teria recebido, por 15 vezes, depósitos de R$ 5 mil de uma mesma pessoa, no período de 25 dias, em janeiro de 2022.

Ligação com PCC

Existe uma estreita relação de confiança e negócios entre a facção criminosa mais poderosa do país e o traficante cearense. Os investigadores localizaram, em nome de laranjas, uma série de contas-correntes que, na verdade, pertencem ao Padrinho.

Ele chegaria a movimentar R$ 1 milhão mensais provenientes do tráfico de drogas. Boa parte do dinheiro, segundo as apurações, partem de contas domiciliadas em bancos da Grande São Paulo.

A PCDF mapeou o caminho da fortuna amealhada com a venda de drogas em redor do país. As contas na capital paulista recebiam valores transferidos por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) no DF. Logo depois, o dinheiro retornava ao DF, desta vez para o bolso de Padrinho. “Com essa investigação, concluímos que Padrinho é fornecedor de cocaína do PCC no Distrito Federal”, explicou um dos policiais envolvidos na investigação.

O volume de tráfico de drogas movimentado pelo criminoso é tão intenso que as transferências financeiras eram frenéticas. Padrinho recebia dinheiro de inúmeros traficantes de drogas do DF e de outros estados.

Os policiais tiveram acesso a um vídeo em que um comparsa do traficante entra em uma agência bancária localizada em Ceilândia, carregando bolsas abarrotadas de dinheiro.

Traficante hábil, Padrinho cresceu rápido na hierarquia do crime e passou de um simples batedor – que acompanha o transporte de drogas pelas rodovias – a um dos mais poderosos e temidos narcotraficantes do país, ganhando o respeito de organizações criminosas como PCC e Comando Vermelho (CV).

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