PCDF conclui que ex-médico matou mãe queimada em Águas Claras
Lauro Estevão Vaz Curvo está preso temporariamente, mas PCDF pedirá conversão em preventiva, pelos crimes de feminicídio e fraude processual
atualizado
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A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) concluiu, nesta sexta-feira (26/7), o inquérito policial sobre a morte de uma idosa de 94 anos abandonada em um apartamento no Residencial Monet, em Águas Claras. As investigações concluíram que o filho da vítima, o ex-médico Lauro Estevão Vaz Curvo (foto em destaque), incendiou o imóvel, em 31 de maio último.
Lauro, que está preso temporariamente desde 14 de junho, foi indiciado pelos crimes de feminicídio – qualificado por motivo torpe, além de uso de fogo e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima – e por fraude processual. Polícia Civil pedirá conversão da prisão para a modalidade preventiva.
Um exame pericial feito no local do incêndio comprovou que as chamas começaram na maca onde Zely Alves Curvo estava deitada. As investigações ainda descartaram outras hipóteses, como acidentes elétricos ou ação natural – em caso de incidência de raios. Assim, restou apenas a possibilidade de que o incêndio tivesse sido causado por ação humana.
As investigações da 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul) detalharam que Lauro foi a última pessoa a deixar o imóvel depois do início do fogo. As apurações também revelaram que o ex-médico retornou ao apartamento ao menos três vezes depois do ocorrido, mesmo com sinalização na área para preservação de cena de crime.
A primeira vez em que Lauro voltou teria sido no dia do incêndio, à noite, quando retirou diversos objetos do imóvel. Em 1º de junho, o atual indiciado compareceu novamente ao endereço, onde ficou por volta de uma hora e meia, segundo a PCDF. Ele teria ido pela terceira vez ao apartamento, em 2 e 3 de junho, para modificar o espaço.
Incêndio em apartamento
Lauro passou a ser investigado após Zely morrer em um incêndio no apartamento onde a vítima morava com o filho. A idosa estava sozinha em casa no momento do crime.
Em maio de 2023, Zely ficou internada no Hospital Militar da Área de Brasília (HMab), devido a um acidente vascular cerebral (AVC) sofrido quatro meses antes. A unidade de saúde deu alta para a idosa, mas Lauro se recusava a levá-la para casa. Em uma das visitas do ex-médico à mãe, ele se exaltou, a polícia foi chamada, e ele acabou detido.
Os parentes de Zely – um filho que mora em Cuiabá (MT), bem como uma irmã e uma sobrinha-neta, habitantes de São Paulo – souberam da prisão à época por meio de veículos de comunicação. Nesse período, a família chegou a se organizar para buscar a idosa em Brasília, mas não o fez por medo de Lauro.
Informações obtidas pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) deram conta de que os parentes da vítima classificavam o ex-médico como “uma pessoa agressiva e sem limites, que sempre gerou conflitos com familiares e vizinhos, tal como ocorreu no hospital”.
Eles disseram, ainda, que Zely morava sozinha até o fim de 2021, quando Lauro a levou para o apartamento em Águas Claras e teria restringido contato com a família, por meio da troca do número de celular e da desativação do telefone fixo ao qual parentes distantes tinham acesso.
Testemunhas ouvidas pela PCDF relataram que o autor do crime costumava deixar a idosa sozinha por longos períodos de tempo e não arcava com os custos de cuidadores para a mãe. Além disso, contaram que o ex-médico ficava responsável pela gestão dos recursos financeiros da vítima, mas gastava os valores com despesas pessoais próprias.
Cassação por abuso sexual
Lauro é médico ginecologista. Ele foi condenado em primeira e segunda instâncias após ser acusado por duas pacientes de tocá-las indevidamente durante exames clínicos, entre 2009 e 2010, no Centro de Saúde nº 1, em São Sebastião (DF).
À época, uma delas tinha 17 anos e estava grávida. Ele também teve o registro cassado pelo Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF).