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Pastores usavam nomes de Trump, Sarkozy e Bolsonaro em golpes

Durante as negociações, os golpistas investigados pela PCDF não poupavam argumentos e explicações esdrúxulas

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Pastor Osório José Lopes é acusado de aplicar golpes em várias pessoas em Goiás e São Paulo
1 de 1 Pastor Osório José Lopes é acusado de aplicar golpes em várias pessoas em Goiás e São Paulo - Foto: Reprodução/Instagram

Com promessas de ganhos estratosféricos, boa lábia e muita criatividade, pastores e missionários investigados pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por golpe contra fiéis usavam até mesmo nome de políticos para dar credibilidade aos investimentos fraudados.

Na hora de dar o golpe, os criminosos citavam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e até lideranças internacionais, como Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, e Nicolas Sarkozy, ex-presidente da França.

Uma vítima do Rio de Janeiro, que conversou com a coluna sob a condição de anonimato, contou que chegou a investir o total de R$ 5 mil na esperança de receber ao menos R$ 3 trilhões.

“Na época das eleições, eles diziam que a gente precisava votar no Bolsonaro porque, se o Lula se elegesse, ia dificultar os pagamentos. Que havia investimentos vindos da Suíça, da Alemanha, de Paris, e receberíamos em euro. Diziam que o Guedes (Paulo Guedes, ex-ministro da Economia) já tinha assinado tudo para liberar os pagamentos”, afirmou.

“Diziam que o Pix foi criado pelo Bolsonaro para facilitar os pagamentos, porque, se continuasse apenas com o TED, ninguém ia conseguir receber os valores astronômicos”, acrescentou.

Ela confirmou que a quadrilha usava a teoria conspiratória da “Nesara Gesara”, que teria “relação com aportes internacionais”, para enganar os fiéis. “Criaram um site e pediam fotos de todos os nossos documentos. Ainda nos orientavam a mudar de cidade assim que o dinheiro saísse, porque poderíamos ser perseguidos devido à grande quantidade de recursos. Sumir de casa, vender a casa e sumir. Davam várias estratégias.”

Ouça o relato da vítima:

Durante as negociações, os golpistas não poupavam argumentos e explicações esdrúxulas. Alegavam até que Nicolas Sarkozy era um dos apoiadores.

“Também diziam que o Donald Trump ajudou a andar essas operações, porque o Joe Biden dificulta os pagamentos, e que a maior parte viria dos Estados Unidos. Insistiam que o dinheiro é uma devolução dos EUA e de outros países, que roubaram o país por muitos anos, e essas doações vêm para pessoas escolhidas por Deus para serem abençoadas. Reforçavam que Deus sabe quem são as pessoas que realmente precisam e vão usar o dinheiro com projetos sociais, seríamos os indicados por Deus”, relatou.

“Bolão da Gratidão” e “Projeto Europa”

Os golpes recebiam diversas roupagens, principalmente por meio de grupos no Telegram. Alguns recebiam o nome de “Bolão da Gratidão”.

A “oportunidade única” oferecia a possibilidade de ficar multimilionário com investimentos a partir de R$ 100. Já o “Projeto Europa” prometia agraciar o investidor com milhões na conta, além de residência e visto em destinos internacionais, como Paris, Barcelona e Lisboa.

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Projeto Bolão da Gratidão
Promessa de retorno de R$ 1 octilhão
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Projeto Europa

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Projeto Bolão da Gratidão

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Promessa de retorno de R$ 1 octilhão

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A operação

A ação cumpriu dois mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão. Um dos alvos é o líder do grupo, Osório José Lopes Júnior (foto em destaque), que não foi localizado e é considerado foragido. Uma missionária que seria comparsa de Osório foi presa em Santa Catarina, mas não teve o nome divulgado.

A investigação aponta que os suspeitos formavam uma rede criminosa muito bem organizada, com estrutura ordenada e divisão de tarefas, especializada no cometimento de diversos crimes, como falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, e estelionatos por meio de redes sociais. As vítimas eram induzidas a investir quantias em dinheiro com a promessa de recebimento futuro de quantias milionárias.

A ação foi coordenada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Dot), vinculada ao Departamento de Combate a Corrupção e ao Crime Organizado (Decor).

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Pastor Osório é considerado o líder do golpe
Falsos certificados apreendidos com investigados da Falso Profeta
Quadrilha mantinha falsos bancos digitais
Policiais civis descobriram que mais de 50 mil pessoas foram vítimas de golpe
Grupo é composto por cerca de 200 integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas
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Golpistas prometiam que, com um depósito de R$ 25, as pessoas poderiam receber de volta o valor de R$ 1 octilhão

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Pastor Osório é considerado o líder do golpe

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Falsos certificados apreendidos com investigados da Falso Profeta

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Quadrilha mantinha falsos bancos digitais

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Policiais civis descobriram que mais de 50 mil pessoas foram vítimas de golpe

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Grupo é composto por cerca de 200 integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas

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“Nesara Gesara”

Os golpistas abordavam as vítimas, em sua grande maioria evangélicas, pelas redes sociais e invocavam uma teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara” para convencê-las a investir suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias. Havia promessa de retorno financeiro imediato e rentabilidade estratosférica.

Foi detectada, por exemplo, a promessa de que com um depósito de apenas R$ 25 as pessoas poderiam receber de volta nas “operações” o valor de R$ 1 octilhão (ou 1 seguido de 27 zeros: R$ 1.000.000.000.000.000.000.000.000.000).

O golpe pode ser considerado um dos maiores já investigados no Brasil, uma vez que foram constatadas, como vítimas, pessoas de diversas camadas sociais e localizadas em quase todas as unidades da Federação, estimando-se mais de 50 mil vítimas.

De acordo com a investigação, iniciada há cerca de um ano, o grupo é composto por cerca de 200 integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas intituladas pastores, que induzem e mantêm em erro as vítimas, normalmente fiéis que frequentam suas igrejas, para acreditar no discurso de que são pessoas escolhidas por Deus para receber a “bênção”, ou seja, as quantias.

Os investigados mantinham empresas “fantasmas” e de fachada, simulando ser instituições financeiras digitais com alto capital social declarado.

Para dar aparência de veracidade e legalidade às operações financeiras, os investigados celebravam contratos com as vítimas, ideologicamente falsos, com promessas de liberação de quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento, que estariam registrados no Banco Central do Brasil (Bacen) e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

A investigação também apontou movimentação superior a R$ 156 milhões, nos últimos cinco anos, bem como foram identificadas cerca de 40 empresas “fantasmas” e de fachada, e mais de 800 contas bancárias suspeitas.

 

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