Pastores golpistas invocavam “teoria conspiratória” da “Nesara Gesara”
Objetivo era convencê-las a investir suas economias em falsas operações financeiras, com promessa de lucro exorbitante
atualizado
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Os alvos da Operação Falso Profeta, deflagrada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) nesta quarta-feira (20/9), invocavam uma teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara” para convencer as vítimas a investir suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias.
A teoria significa “investir pouco para ganhar muito” e representaria um “reset financeiro mundial”. “Nesara” significa “National Economic Security and Recovery Act”, ou “Ato para a Reforma e Segurança Econômica Nacional”. Já Gesara seria a mesma coisa, só que em escala global.
Basicamente, a “Nesara Gesara” seria uma série de medidas para “a libertação da humanidade por meio de uma reforma política, econômica e financeira”, colocando um fim às dívidas, juros e impostos e mudando a relação dos governos e bancos com empresas e pessoas. Não há base prática alguma para sustentar tal ação.
Economias em troca de “benção”
Com auxílio de ao menos 200 comparsas, incluindo dezenas de pastores evangélicos, o estelionatário enganava fiéis que frequentavam suas igrejas fazendo as vítimas acreditarem que eram “pessoas escolhidas por Deus” para receber a “benção”, ou seja, quantias milionárias.
Foi detectada, por exemplo, a promessa de que com um depósito de apenas R$ 25 as pessoas poderiam receber de volta nas “operações” o valor de R$ 1 octilhão (ou 1 seguido de 27 zeros: R$ 1.000.000.000.000.000.000.000.000.000).
Conforme a coluna noticiou na manhã desta quarta-feira (20/9), o grupo foi alvo da Operação Falso Profeta deflagrada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Ordem Tributária, vinculada ao Departamento de Combate a Corrupção e ao Crime Organizado (Decor).
Os policiais cumprem dois mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão. Osório Júnior é considerado foragido. O segundo alvo do mandado de prisão não teve o nome divulgado.
O golpe pode ser considerado um dos maiores já investigados no Brasil, uma vez que foram constatadas, como vítimas, pessoas de diversas camadas sociais e localizadas em quase todas as unidades da Federação, estimando-se mais de 50 mil vítimas.
Os investigados mantinham empresas “fantasmas” e de fachada, simulando ser instituições financeiras digitais com alto capital social declarado.
Para dar aparência de veracidade e legalidade às operações financeiras, os investigados ainda celebram contratos com as vítimas, ideologicamente falsos, com promessas de liberação de quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento, que estariam registrados no Banco Central do Brasil (Bacen) e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Prisão em dezembro
Em dezembro do ano passado, a Polícia Civil do Distrito Federal prendeu, em Brasília, um suspeito de envolvimento no esquema, após ele ter feito uso de documento falso em uma agência bancária localizada na Asa Sul, simulando possuir um crédito de aproximadamente R$ 17 bilhões.
Porém, mesmo após a prisão em flagrante desse indivíduo, à época o principal digital influencer da organização criminosa, o grupo continuou a aplicar golpes.