Old West: presos podem ganhar liberdade se denúncia não for oferecida
Família é acusada de conduzir um esquema de lavagem de dinheiro com uso de um batalhão formado por, ao menos, 15 laranjas e testas de ferro
atualizado
Compartilhar notícia
A organização criminosa liderada pelo empresário Ronaldo de Oliveira, alvo da operação Old West por conduzir um esquema de lavagem de dinheiro com uso de um batalhão formado por, ao menos, 15 laranjas e testas de ferro, pode ganhar a liberdade nos próximos dias.
Presos preventivamente, Ronaldo, a esposa dele, Soraya Gomes da Cunha, e dois filhos do empresário — Paulo Victor Viegas de Oliveira e Pedro Henrique Viegas de Oliveira só terão a prisão mantida caso o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) ofereça denúncia contra os suspeitos.
A coluna apurou que ao contrário dos filhos e do marido, Soraya cumpre a preventiva em casa, com tornozeleira, em razão de ter um filho pequeno. Já o analista do Ministério Público Suedney dos Santos segue foragido. Ele também teve a prisão preventiva decretada, mas não foi localizado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
Veja imagens da operação Old West:
A operação
Sobre o fato de o analista estar foragido, o MPDFT se manifestou por meio de nota afirmando que “foi instaurado um procedimento administrativo e constituída uma comissão para averiguar a situação e apurar responsabilidades. Já a questão criminal é acompanhada pela Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público. Ambas correm em sigilo. Os acessos desse servidor aos sistemas do MPDFT já foram bloqueados”, apontou.
A Operação Old West, deflagrada pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia), cumpriu nove mandados de prisão temporária e sete de busca e apreensão. A PCDF também pediu à Justiça o sequestro de uma série de carros de luxo e o bloqueio de contas bancárias operadas pela quadrilha.
Entre os alvos, estão, além de Ronaldo de Oliveira, a esposa dele, Soraya Gomes da Cunha, e dois filhos do empresário — Paulo Victor Viegas de Oliveira e Pedro Henrique Viegas de Oliveira. Uma nora e uma cunhada dele também integrariam o suposto esquema.
Audacioso e articulado, o bando teria conseguido cooptar o analista do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Suedney dos Santos, que recebia várias transferências bancárias para “cuidar” dos processos do empresário e advogar em defesa dos interesses da organização criminosa.
O servidor consultava processos e repassava informações sigilosas, segundo as investigações.
“Dono de Brazlândia”
As apurações revelaram que, após ser investigado e preso no âmbito da Operação Trickster — que identificou um esquema criminoso no qual R$ 1 bilhão em dinheiro público teriam sido desviados por meio de fraudes no sistema de bilhetagem eletrônica do extinto Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) —, o empresário desenvolveu um sistema sofisticado para lavar mais de R$ 31 milhões.
Para isso, o empresário apontado como “dono de Brazlândia” usou um supermercado e contas de poupança em nome de testas de ferro para lavar centenas de milhares de reais. Até mesmo filhos menores de idade de Ronaldo de Oliveira foram aproveitados no esquema, segundo a polícia.
O empresário teria usado, ainda, um empreendimento para ocultar a propriedade e dissimular valores faturados por meio do estelionato contra a administração pública e da corrupção de agentes públicos.
Caminho do dinheiro
Antes da Operação Trickster, o bando comandado por Ronaldo de Oliveira mantinha recursos financeiros nas contas de empresas geridas pelo grupo. Após a ação da PCDF, o caminho do dinheiro mudou e passou a “fazer curvas” para driblar as autoridades.
O fluxo do dinheiro começa com o recebimento dos pagamentos nas contas empresariais, segundo as investigações, mas os valores são imediatamente lançados nas contas-poupanças do grupo, via depósitos e transferências, muitas vezes na boca do caixa.
Em seguida, ocorrem retiradas diárias de valores das contas-poupanças abertas em nome dos filhos de Ronaldo e Soraya, para repasse às contas das empresas, tudo a fim de evitar bloqueios judiciais. Algumas delas chegaram a receber depósitos superiores a R$ 1 milhão, segundo a PCDF.
Foragido
Ronaldo de Oliveira chegou a ficar três anos foragido da Justiça do Distrito Federal e com mandado de prisão preventiva a ser cumprido, entre 2018 e 2021. Ele foi detido em 12 de abril de 2021 por policiais do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT), na cidade de Niquelândia (GO).
Os policiais receberam informações de que o empresário circulava pelo povoado de Buriti Alto, próximo ao município de Mimoso (GO), onde Ronaldo de Oliveira teria um posto de gasolina. O local, segundo os militares, era estratégico, pois facilitava uma possível fuga para diferentes unidades da Federação, como Bahia, Tocantins ou mesmo o Distrito Federal.
Após uma série de buscas, os policiais localizaram uma caminhonete Hilux vermelha usada pelo empresário para circular pela região. Em seguida, ele foi abordado por uma equipe do GPT, que confirmou a existência do mandado de prisão em aberto por corrupção contra a administração pública e por associação criminosa.
Pagamento de propina
Em abril de 2018, a polícia pediu a prisão de Ronaldo e da companheira dele, Soraya. A Justiça atendeu à solicitação após os investigadores terem confirmado que o casal pagava propina para o então responsável pela unidade de controle de bilhetagem automática do DFTrans, Harumy Tomonori. O gestor foi detido em 23 de março de 2018, em mais um desdobramento da Operação Trickster.
Em depoimento, Harumy confessou que, mensalmente, recebia entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, a fim de agilizar processos, pagamentos e fazer vista grossa diante de irregularidades e fraudes cometidas pelas empresas de Ronaldo e Soraya.
Entre as falcatruas, estava o fato de as empresas descarregarem cartões estudantis de alunos do Entorno como se fossem da rede pública de ensino do DF. Imagens flagraram Harumy deixando uma das empresas do casal com dinheiro pago como propina. À época, durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os policiais encontraram um envelope semelhante na casa de Harumy, com cerca de R$ 12 mil.