Mulheres denunciam pai de santo por violência sexual em terreiro no DF
Defesa do pai de santo diz que denunciantes extorquiram líder religioso para obter “favorecimento pessoal” no terreiro e agiram “em conluio”
atualizado
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Frequentadoras do Instituto Afro-Ameríndio Roça de Catimbó Jurema, na QNN 3, em Ceilândia Norte, denunciaram o líder religioso do terreiro, Tiago Rodrigues da Silva (foto em destaque), 38 anos, conhecido como Pai Tiago, por supostos crimes de importunação sexual, violência sexual mediante fraude e ameaça. A defesa dele nega as acusações (leia no fim da reportagem).
Ao menos duas pessoas procuraram a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) na última segunda-feira (9/9) e prestaram queixa contra Tiago. A advogada Patrícia Zapponi – presidente da Rede Internacional de Proteção a Vítima, a Laço Branco Brasil, que representa as denunciantes –, acredita que outros frequentadores do espaço, entre mulheres e adolescentes, também teriam sofrido violência sexual cometida pelo pai de santo.
Atenção: o texto a seguir contém trechos descritivos que podem provocar gatilhos emocionais.
O Metrópoles teve acesso aos dois dos boletins de ocorrência registrados pelas denunciantes. Uma delas, de 27 anos, relatou à polícia que Tiago simulou incorporar a entidade Maria do Bagaço para induzir a jovem a ter relação sexual com ele. A suposta vítima detalhou, ainda, que a situação ocorreu em abril último, quando ela buscou o terreiro durante uma fase em que enfrentava problemas no relacionamento com o marido.
A jovem relatou que, na data em que teria ocorrido o abuso, estava bastante fragilizada, devido aos problemas conjugais com que lidava. Na ocasião, quando ocorria a gira no terreiro – momento das atividades religiosas em que médiuns incorporam espíritos –, Tiago supostamente recebeu a entidade feminina Maria do Bagaço, a qual teria pedido que a denunciante entrasse com ele no “Quarto da Bagunça”.
Nesse momento, a entidade teria orientado, por meio de Tiago, que a suposta vítima tivesse relação sexual com o pai de santo, porque ele sentia “desejo e atração” pela jovem. A denunciante, porém, teria percebido que a fala havia partido do próprio líder religioso, não mais como Maria do Bagaço, e que ele fingia ter incorporado um espírito.
Ainda o segundo depoimento da jovem, a entidade teria dito por meio de Tiago que o “menino dela” – de Maria do Bagaço – iria “chupar [a denunciante] bem gostoso” e que somente ele conseguiria fazê-la “gozar”.
Na sequência, o líder religioso teria segurado a cintura da jovem e tentado deslizar a mão até as nádegas dela, enquanto estaria com o órgão genital ereto.
A denunciante concordou em aceitar um encontro com ele, em outro momento, para se desvencilhar de Tiago naquele local, e teria sido ameaçada pelo pai de santo de que Maria do Bagaço acabaria com a vida da jovem caso contasse a alguém sobre o ocorrido.
Veja fotos de Pai Tiago:
Encurralada e beijo à força
Outra pessoa que denunciou Pai Tiago, também conhecido como Tiago Juremeiro, relatou em depoimento à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) 2, em Ceilândia (DF), que o líder religioso a beijou de língua e a pressionou contra uma das paredes do terreiro.
A suposta vítima havia procurado o Instituto Afro-Ameríndio Roça de Catimbó Jurema em busca do desenvolvimento da própria espiritualidade. O abuso relatado pela jovem de 18 anos teria ocorrido após uma sessão religiosa, em abril deste ano.
A denunciante disse à polícia que, por volta da meia-noite, o pai de santo a chamou para conversar e a levou para um local escuro. Lá, começou a fazer perguntas sobre o relacionamento íntimo dela com outra pessoa e se aproximou dela, “visivelmente com o pênis ereto”. Enquanto a encurralava contra uma parede, Pai Tiago encostava o órgão genital nas partes íntimas da jovem por cima das roupas e a forçava a beijá-lo de língua.
A jovem relatou que repeliu a violência imediatamente e que pediu para Tiago parar, antes de o denunciado afirmar que ela o atraía “não só como pai de santo, mas como homem”. Dois dias depois, quando ela voltou ao terreiro, o líder religioso a levou até um quarto com cama, onde disse que “desejava transar com ela” e afirmou que a “faria gozar como nunca antes na vida”.
Como a jovem recusou as investidas, o pai de santo teria sugerido que os dois “passassem uma borracha no assunto” e oferecido um emprego para a suposta vítima, como forma de “calar a boca” dela. Ao registrarem as ocorrências contra Tiago, as duas denunciantes pediram que os fatos relatados fossem apurados criminalmente pela PCDF.
O que diz a defesa de Tiago Rodrigues da Silva
Por meio de nota, Talaguibonan Arruda, Presidente da Comissão de Liberdade Religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF) e advogado de Tiago Rodrigues da Silva, afirmou que as acusações contra o “ministro de confissão religiosa Tiago Juremeiro” são “totalmente infundadas”.
A defesa do denunciado acrescentou que as duas mulheres que registraram ocorrência contra o líder religioso agiram “em conluio” para “extorquir o líder religioso em troca de favorecimento pessoal dentro da instituição religiosa”.
O advogado também lembrou que sempre havia uma terceira pessoa durante os atendimentos religiosos, “nunca ficando somente o consulente [o frequentador] e a entidade [incorporada por Tiago] sozinhos”, em cômodo algum do terreiro.
Além disso, Talaguibonan disse que Tiago registrou ocorrência na última segunda-feira (9/9) contra as duas denunciantes por extorsão. A data é a mesma em que as duas jovens prestaram queixa contra o líder religioso.
As supostas ameaças em troca de dinheiro envolviam a divulgação de conversas pelo WhatsApp, entre a denunciante de 27 anos e o pai de santo, aos demais integrantes do Instituto Afro-Ameríndio Roça de Catimbó Jurema. As mensagens tratavam de encontros que teriam sido marcados entre os dois, mas não chegaram a ocorrer.
Leia o texto da defesa na íntegra:
“O Instituto Afro-Ameríndio Roça de Catimbó Jurema, neste ato tendo sua defesa patrocinada pelo causídico dr. Talaguibonan Arruda, vem esclarecer que são totalmente infundadas as acusações imputadas ao ministro de confissão religiosa Tiago Juremeiro, onde o mesmo está sendo vítima de um conluio praticado entre [a denunciante de 27 anos], seu esposo [nome do marido da denunciante de 27 anos] e sua afilhada [a denunciante de 18 anos].
Os mencionados fizeram parte do corpo mediúnico da instituição religiosa, sendo que entre Tiago Rodrigues da Silva e [a denunciante de 27 anos], houve troca de mensagens, onde [a denunciante de 27 anos] e Tiago Rodrigues manifestaram em mensagens interesse recíproco em marcar um encontro amoroso, sem que seus cônjuges tivessem conhecimento.
Ocorre que Tiago Juremeiro em nenhum momento desconfiou que tudo não passaria de uma armação entre as supostas vítimas e [nome do marido da denunciante de 27 anos], que após conseguirem prints de conversas entre as vítimas e o possível suspeito, passaram a extorquir o líder religioso em troca de favorecimento pessoal dentro da instituição religiosa, pedindo quantias em dinheiro a Pai Tiago Juremeiro e outras regalias dentro da instituição religiosa.
[Nome do marido da denunciante de 27 anos], juntamente com as supostas vítimas vinham desde abril deste ano constrangendo Pai Tiago Juremeiro a tolerar seus comportamentos inapropriados dentro da instituição religiosa, assim como ameaçando Pai Tiago Juremeiro e sua esposa de tornar públicas as mensagens das supostas vítimas se os mesmos não os dessem dinheiro.
Sobre as acusações de que Pai Tiago Juremeiro teria assediado [a denunciante de 27 anos], dentro de um Quarto da Bagunça, tal fato nunca aconteceu, vez que o líder religioso ao prestar consultoria espiritual incorporado por meio de entidades, os atendimentos sempre eram acompanhados de uma terceira pessoa, que acompanhava a entidade e o consulente, nunca ficando somente o consulente e a entidade sozinhos em nenhum cômodo da instituição religiosa.
Afirma ainda, pai Tiago Juremeiro que nunca beijou ou teve qualquer contato sexual com nenhuma das vítimas. Que houve, sim, conversas, somente com [a denunciante de 27 anos], sobre um possível encontro fora da instituição
religiosa.
O ministro de confissão religiosa Tiago Juremeiro, está bastante preocupado com a proporção das acusações feitas a ele e o fato de ter sua foto estampada nas redes sociais o intitulando como assediador, quando em verdade se tivesse ocorrido algo entre o sacerdote e as supostas vítimas, teria sido algo praticado entre pessoas adultas, maiores, capazes e totalmente desvinculado de qualquer ato religioso, até porque as práticas religiosas de origem afro-ameríndio repudiam todo e qualquer ato de violência praticado em seus cultos.
Pai Tiago Juremeiro, confia fielmente na Justiça e tem certeza que tudo será esclarecido, vez que tem certeza de sua inocência, lamentando apenas o fato de que inúmeras pessoas diante de uma acusação infundada, vão prontamente para a internet e começam a espalhar notícias falsas imputadas às pessoas algo grave.
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, assim como todos tem o direito ao devido processo legal com direito a ampla defesa e o contraditório. Infelizmente as pessoas julgam antes de conhecer todos os fatos e querem julgar as pessoas como se juízes fossem. Os prejuízos à imagem e a todo trabalho desenvolvido durante anos na instituição religiosa são incalculáveis.”