Motorista que enganou traficantes diz que celular “pegou fogo sozinho”
Perguntado a respeito do celular, Cleomar da Silva afirmou que o telefone “pegou fogo sozinho, fruto de uma possível combustão espontânea”
atualizado
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As primeiras justificativas e reações do caminhoneiro Cleomar Marcos da Silva, 41 anos, apontado como cúmplice em um esquema para transportar 400 kg de skunk e que resultou na morte de um vigilante a tiros de fuzil, foram o que rapidamente levantaram suspeitas dos policiais que chegaram primeiro no local do crime.
Entrevistado preliminarmente pelos policiais civis, o motorista apresentava fala desconexa, o que chamou a atenção dos investigadores. Perguntado a respeito do celular, Cleomar afirmou que o telefone “pegou fogo sozinho, fruto de uma possível combustão espontânea”.
Logo depois, o caminhoneiro mostrou o celular ao lado do caminhão, no chão, totalmente queimado, o que também gerou desconfiança da PCDF. Juntamente com o aparelho queimado, também se encontrava um pedaço de papel alumínio, que costuma ser utilizado por criminosos para envolver celulares, supostamente para impedir seu rastreio.
Trama
O motorista inventou uma trama para enganar traficantes e a transportadora que havia o contratado. A mentira culminou em uma tragédia nessa terça-feira (10/12): um tiroteio em meio a um posto de gasolina, deixando um vigilante morto e outro gravemente ferido.
Cleomar é casado e morador de Cocalzinho de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. Nas redes sociais, o motorista é discreto e posta poucas fotos. O crime foi inicialmente investigado como uma uma tentativa de assalto, após traficantes entrarem em confronto com os vigilantes armados em Taguatinga, mas as apurações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) desvendaram os desdobramentos da ação.
Cleomar saiu de Manaus (AM) com destino à Serra (ES) levando eletrônicos a serviço de uma transportadora. Ele acabou sendo aliciado por traficantes para esconder, em meio à carga, a grande quantidade de droga. A empresa não tem qualquer participação no esquema.
O motorista confessou ser dependente químico e, no trajeto fez o uso de cocaína. Após cheirar uma quantidade excessiva de pó, ele passou mal e buscou atendimento em um hospital de Tocantins. Depois de ser medicado e se recuperar dos efeitos da droga, seguiu viagem com o caminhão.
Para disfarçar que tinha consumido o entorpecente e o atraso no percurso, Cleomar comunicou à empresa que havia sofrido uma tentativa de assalto.
A fim de proteger os eletrônicos, então, a transportadora enviou dois vigilantes para fazer a escolta do veículo no trajeto restante. Por sua vez, os traficantes não conseguiram mais entrar em contato com Cleomar e ficaram preocupados em perder o carregamento de supermaconha.
Um deles, na tentativa de intimidar Cleomar, chegou a enviar um áudio ameaçador, dizendo que portava um fuzil. Sem receber qualquer resposta do motorista, os traficantes decidiram pegar a estrada e seguir em direção ao caminhão. Foi neste momento, já no território do Distrito Federal, que bandidos e os vigilantes se encontraram e iniciaram uma troca de tiros que resultou na morte de Ronivon Lima Grolo, um dos vigilantes da escolta.
O tiroteio ocorreu na BR-070, na altura da QNM 40. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) foi acionada e encontrou Ronivon já sem vida. O outro vigilante, identificado como Paulo Neres, foi levado em estado grave para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Ele perdeu um pedaço do rim e do intestino.
No local do crime, os policiais militares encontraram marcas de pneu do carro de escolta e diversas cápsulas de fuzil. A PMDF também apreendeu quatro armas de fogo dentro do veículo dos vigilantes – uma pistola .40, dois revólveres calibre 38 e uma espingarda .12.
Empresa lamenta morte de vigilante
A empresa Judá Segurança Privada, responsável pela escolta do caminhão, lamentou a morte do vigilante Ronivon Lima Grolo nas redes sociais. No texto, publicado nas redes sociais, a Judá Segurança Privada homenageou o funcionário, a quem chamou de “nobre guerreiro”. A empresa não comentou o fato de a carga ser ilegal.
Veja a nota completa:
“Hoje perdemos um nobre guerreiro que lutou com quantas forças tinha até o seu último suspiro. Fica o amor e a admiração que por ele sentimos. Você chegou em nossa Equipe e logo se tornou especial, uma parte importante de cada um de nós. A saudade será eterna. O que nos conforta é saber que você está em um lugar de paz. Descanse nos braços de Deus, onde o sofrimento não existe. Nossos sinceros sentimentos à família e amigos que neste momento de dor, enfrentam a perda de um grande profissional e ser humano. Sua memória sempre será honrada por nós!”